Trata-se de um aprofundamento da pesquisa realizada no mestrado em que o pensamento de Michel Foucault e de Gilles Deleuze foram analisados a partir da noção de acontecimento. Na atual pesquisa, o principal objetivo é o de recuperar a potência do termo remontando-o ao exprimível estoico (lekton) - tal como foi trabalhado por Émile Bréhier em A teoria dos incorporais no estoicismo antigo (1908). Bréhier mostra que o exprimível é um dos quatro incorporais, resultado da cisão estabelecida pela física estoica entre causa e efeito. Pretende-se então mostrar que, algumas décadas mais tarde, tanto Deleuze quanto Foucault souberam tirar amplo proveito do termo, cada um de sua perspectiva que, no entanto, em muitos pontos foram complementares. Deleuze trabalhou o acontecimento pela primeira vez, e de modo explícito, em Lógica do sentido (1969), fazendo do termo estoico o seu principal instrumento em um declarado combate à filosofia do sujeito e da representação. Foucault, por sua vez, menciona o acontecimento - descrevendo-o tal como aparece no estoicismo - em 1970, em sua aula inaugural no Collège de France, afirmando que o mesmo teria, a partir de então, grande importância em suas pesquisas históricas. Entretanto, mostraremos que a noção já estava presente em textos anteriores de ambos os filósofos - o que só reforçaria a importância da mesma; e destacaremos que ao longo da década de 1970, Foucault e Deleuze fizeram amplo uso do termo, tanto de uma perspectiva crítica ao pensamento moderno, quanto em um proposta - a partir do que poderíamos chamar de uma filosofia do acontecimento - de um modo de pensar que não mais se pautasse pela primazia da representação nem do sujeito.

This is a deepening of the research carried out during my master's degree in which the thought of Michel Foucault and Gilles Deleuze were analysed from the notion of event. In the current research, the main objective is to recover the potency of the term by bringing it back to the Stoic expressible (lekton) - as worked on by Émile Bréhier in The Theory of Embodiments in Ancient Stoicism (1908). Bréhier shows that the expressible is one of the four embodiments, the result of the split established by Stoic physics between cause and effect. It is then intended to show that, some decades later, both Deleuze and Foucault were able to take ample advantage of the term, each from their own perspective which, however, in many points were complementary. Deleuze worked on the event for the first time, and explicitly, in Logic of Meaning (1969), making the Stoic term his main instrument in a declared fight against the philosophy of the subject and of representation. Foucault, in turn, mentions the event - describing it as it appears in Stoicism - in 1970, in his inaugural class at the Collège de France, stating that it would have, from then on, great importance in his historical research. However, we will show that the notion was already present in previous texts by both philosophers - which would only reinforce its importance; and we will highlight that throughout the 1970s, Foucault and Deleuze made extensive use of the term, both from a critical perspective to modern thought, and in a proposal - from what we could call a philosophy of the event - of a way of thinking that is not based on the primacy of representation nor of the subject.