Este trabalho investiga sociologicamente os esforços de "religiocização" da pauta ambiental realizados por igrejas, organizações e lideranças católicas e evangélicas no Brasil. Partindo de um mapeamento exploratório, e tendo como base a literatura acadêmica sobre o tema do esverdeamento das religiões, foram identificadas e analisadas aqui as principais estratégias de legitimação adotadas pelos empreendedores ecorreligiosos no contexto brasileiro, a dinâmica de suas disputas internas (nos círculos institucionais) e externas (na interlocução com outros grupos religiosos e com o movimento ambientalista secular), e a formação de redes associativas que buscam ativar ou barrar os esforços de reciclagem da cosmologia cristã. Em um plano teórico mais abstrato, as repercussões religiosas da pauta ambiental entre católicos e evangélicos no Brasil também são examinadas à luz da dinâmica da mudança religiosa nas sociedades modernas, nas quais o fenômeno religioso é constantemente deslocado, contestado e, ao mesmo tempo, reafirmado. A pesquisa foi conduzida a partir de um arcabouço teórico-metodológico variado, ancorou-se numa perspectiva comparativa e se concentrou no plano das tendências. Os dados reunidos para a análise derivam de: 1) 34 entrevistas semiestruturadas em profundidade realizadas com lideranças religiosas que já se engajaram na promoção ou contraposição da agenda ambiental entre católicos e evangélicos; e 2) materiais de divulgação e outros tipos de literatura produzidos por ecorreligiosos e seus opositores. Complementarmente, foram efetuadas compilações de dados quantitativos provenientes de pesquisas de opinião que abordavam a relação entre ecologia e religião, além de participações em encontros relacionados a essa mesma temática. A pesquisa revela que, a despeito de existir certo consenso no campo cristão acerca do caráter positivo da proteção ambiental, lideranças católicas e evangélicas deparam-se com uma série de dificuldades ao tentar viabilizar seus empreendimentos ecorreligiosos no contexto brasileiro. No lado católico, há indícios de que diversos tipos de esforços organizacionais vêm sendo empregados para mudar esse cenário com base na perspectiva de que o investimento institucional na pauta ecológica é legítimo e estratégico para a recuperação de relevância pública e para a obtenção de vantagens relativas na competição religiosa. Entre os evangélicos, o horizonte de oportunidades se mostra mais nublado. Ainda que um amplo repertório simbólico já tenha sido produzido especificamente para esse público-alvo, condicionantes sociais e organizacionais vêm reforçando a percepção de que não é interessante, para figuras-chave desse campo, direcionar recursos para alavancar a pauta ambiental de forma sistemática e coordenada no espaço das congregações. Por fim, a pesquisa também identificou a formação de iniciativas que buscam se contrapor ativamente, de forma articulada com atores nacionais e internacionais do ecossistema de negacionismo climático, o avanço da agenda ecológica entre os cristãos. Partindo de um aguçado senso de batalha, as especificidades denominacionais, nesses casos, são deixadas de lado em nome de uma suposta defesa da civilização cristã, a qual estaria sendo atacada por diversas conspirações globais camufladas sob o discurso da proteção ambiental

This work sociologically investigates the "religionization" of the environmental agenda put forward by Catholic and Evangelical churches, organizations, and leaders in Brazil. Based on an exploratory mapping and drawing from academic literature on the greening of religions, this work identifies and analyzes the key legitimization strategies employed by eco-religious entrepreneurs in the Brazilian context, the dynamics of their "internal" and "external" disputes (within institutional circles and in interaction with other religious groups and the secular environmentalist movement), and the formation of associative networks that aim to either promote or hinder efforts to recycle the Christian cosmology. On a more abstract theoretical level, I also connect the examination of the religious repercussions of the environmental agenda among Catholics and Evangelicals in Brazil with the discussion of the dynamics of religious change in modern societies, where the religious phenomenon is consistently displaced, challenged, and simultaneously reaffirmed. The research employs a diverse theoretical and methodological framework. It is anchored in a comparative perspective and focuses on trends. The data sources are: 1) 34 in-depth semi-structured interviews conducted with religious leaders who have been involved in promoting or opposing the environmental agenda among Catholics and Evangelicals, and 2) promotional materials and other types of literature produced by eco-religious individuals and their opponents. Additionally, I compiled quantitative data from opinion surveys addressing the relationship between ecology and religion, and I took part in meetings related to the same subject. The research reveals that, even though there is a certain consensus among Christians about the positive nature of environmental protection, Catholic and Evangelical leaders face a series of challenges when trying to set up their eco-religious initiatives in the Brazilian context. Within the Catholic sphere, there are indications that various forms of organizational efforts have been deployed to change this situation, based on the perspective that institutional investment in the ecological agenda is both legitimate and strategic for regaining public relevance and obtaining relative advantages in religious competition. Among evangelicals, the horizon of opportunities is cloudier. Although a broad symbolic repertoire has been specifically produced for this target audience, social and organizational constraints have been reinforcing the perception that it is not interesting for key figures in this field to direct resources towards leveraging the environmental agenda in a systematic and coordinated way within the congregations. Finally, the research has also identified the emergence of initiatives actively opposing the advancement of the ecological agenda among Christians in a coordinated manner with national and international actors in the ecosystem of climate change denial. Based on a heightened sense of embattlement, denominational specificities in these cases are set aside in the name of an alleged defense of Christian civilization, which is believed to be under attack from various global conspiracies disguised under the discourse of environmental protection