Esta dissertação reconstrói os conceitos de "mundo" e "sociedade mundial" do sociólogo alemão Niklas Luhmann (*1927-1998), ao localizá-los na arquitetura geral de sua teoria sociológica da sociedade. Em termos metodológicos, optou-se pela descrição da teoria a partir das próprias categorias, de modo a tornar a discussão acessível a mais leitores. Portanto, o trabalho também pode ser lido como uma introdução temática a Luhmann. No primeiro capítulo, há a apresentação dos fundamentos conceituais de sua obra por meio da superação de dois obstáculos epistemológicos centrais: a teoria do sujeito e a concepção antropocêntrica de sociedade. No segundo capítulo, há a desconstrução de um terceiro obstáculo, o conceito político-regional de sociedade. Com isso, demonstra-se que a sociedade moderna se integra globalmente a partir de sua estrutura (a diferenciação funcional), e não por meio da moral ou da política. Por implicação, só faz sentido falar de sociedade moderna, como o sistema social mais abrangente, em termos de uma sociedade mundial. Enfim, no terceiro capítulo, há o cerne do trabalho. Ali expõe-se as condições de mundialidade da sociedade moderna ao se demarcar três conceitos de mundo (metassistêmico, sistêmico e intrassistêmico), que respectivamente iluminam as condições de possibilidade para a emergência de sistemas sociais, a unidade (da diferença) entre sistema e ambiente e a realidade operativa de cada sistema. Com esses elementos à mão, reconstrói-se o registro estrutural-operativo da sociedade mundial contemporânea ao se analisar (i) a esfera comunicativa global, (ii) o primado das expectativas cognitivas na maioria dos sistemas sociais e (iii) a complexidade exponencial da sociedade e a proliferação subsequente de riscos. Demonstra-se, com isso, que a obra de Luhmann constitui uma referência-chave no cânone do pensamento social e sociológico contemporâneo, capaz de prover instrumentos a pesquisas de diversos tipos interessadas em observar a complexidade da sociedade moderna e em escapar tanto do nacionalismo teórico e metodológico, como do antropocentrismo

This dissertation reconstructs the concepts of "world" and "world society" elaborated by Niklas Luhmann (*1927-1998). To do so, it situates them in the general architecture of his sociological theory of society. In methodological terms, a self-referential observation of the theory is performed, which implies describing it from its concepts. Such a strategy makes the discussion accessible to a wider audience. As a result, the thesis can also be read as a thematic introduction to Luhmann. In the first chapter, there is a selective presentation of his oeuvre's conceptual foundations, which overcome two significant epistemological obstacles: the theory of the subject and the anthropocentric understanding of social systems. The second chapter then deconstructs a third obstacle, the political-regional concept of society, as it shows that modern society is integrated globally through its structure (functional differentiation), beyond morality or politics. On this basis, it only makes sense to talk about modern society (as the most comprehensive social system) as a world society. Finally, the third chapter consists of the thesis' core. It outlines the worldness of modern society by demarcating its three concepts of world (metasystemic, systemic, and intrasystemic). They respectively shed light on the conditions of possibility for the emergence of social systems, the unity (of difference) between system and environment, and the operational reality of each system. With these elements at hand, the structural-operational framework of contemporary world society is reconstructed by analyzing (i) the global communicative sphere, (ii) the primacy of cognitive expectations in most social systems, and (iii) the exponential complexity of society and the subsequent risk proliferation. Thus, this study demonstrates that Luhmann's theory plays a crucial role in the canon of contemporary social and sociological thought, as his concepts can guide research endeavors of various kinds interested in observing the complexity of modern society and in going beyond anthropocentrism or methodological and theoretical nationalism