Nesta dissertação, buscamos explorar o tema da democracia, em particular da participação política democrática, tendo em vista as formulações propostas por Jürgen Habermas entre os anos de 1960 e 1970, ligando seus esforços em torno de uma teoria democrática aos seus diagnósticos do tempo presente. Desta forma, compreendemos que as considerações acerca da obra deste autor devem levar em conta as continuidades e descontinuidades de seus desenvolvimentos teóricos sempre ancorados em um diagnóstico do tempo presente, em que uma análise retrospectiva de conceitos e formulações presentes em sua trajetória intelectual não pode simplesmente significar uma espécie de esgotamento de ideias anteriores tendo em vista seu desenvolvimento posterior, relegando-as a uma simples história das ideias cujo télos se encontraria precisamente em seus escritos mais atuais. Antes, argumentamos, mesmo em seus escritos iniciais, Habermas formulara um diagnóstico crítico de sua sociedade capitalista contemporânea no que diz respeito à transformação da política, tanto em termos de uma técnica administrativa do Estado quanto em termos de sua redução a um aspecto plebiscitário de aclamação dos quadros dirigentes, cujas consequências para a ação e participação políticas são determinantes no processo de democratização das sociedades capitalistas. Assim, tais formulações devem ser exploradas de acordo com suas próprias categorias e argumentos internos, tendo em vista também os desafios concretos que formavam o plano de fundo de seu pensamento, o que significa atribuir um aspecto singular a tais formulações que, mais do que simplesmente concorrentes, respondem tanto a problemas de ordem teórica e conceitual quanto, e principalmente, a problemas de ordem prática, fincados nas condições concretas de formação da vontade política democrática em seu contexto atual das sociedades capitalistas

In this dissertation, we seek to explore the theme of democracy, and, in particular, the democratic political participation, in view of the formulations proposed by Jürgen Habermas between the 1960s and 1970s, linking his efforts around a democratic theory to his diagnoses of the present time. In this way, we understand that the considerations about this author's work must take into account the continuities and discontinuities of his theoretical developments, which are anchored upon a diagnosis of the present time, and in which a retrospective analysis of concepts and formulations that form his intellectual trajectory cannot simply mean some sort of exhaustion of previous ideas in view of their later development, relegating them to a simple history of ideas whose telos would be found precisely in his most current writings. Rather, we argue, even in his early writings, Habermas had formulated a critical diagnosis of his contemporary capitalist society with regard to the transformation of politics, both in terms of an administrative technique of the state and in terms of its reduction to a plebiscitary aspect of acclamation of leading political cadres, whose consequences for political action and participation are decisive in the ongoing process of democratization of capitalist societies. Thus, such formulations must be explored according to their own categories and internal arguments, also bearing in mind the concrete challenges that formed the background of his thinking, which means attributing a unique aspect to such formulations that, more than simply concurrents, respond to both problems of a theoretical and conceptual nature, and, above all, to problems of a practical nature, rooted in the concrete conditions for the formation of democratic political will in the current context of capitalist societies