Esta dissertação analisa a participação da comunidade de assistência financeira internacional - sobretudo do Banco Mundial - nos territórios palestinos ocupados (TPO) da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, a partir dos "processos de paz" entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Partindo de um debate teórico sobre o neoliberalismo e uma análise de sua consolidação nos anos 1990, busca-se localizar os "processos de paz", e particularmente a assistência externa impulsionada por eles, como fonte de profundas transformações na economia, política e sociedade palestinas da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Argumenta-se que os financiadores internacionais - por meio de projetos de desenvolvimento - incentivaram uma série de transformações locais, em sintonia com as tendências neoliberais globais e com as reestruturações operadas pelos "processos de paz" na matriz de controle colonial de Israel sobre os TPO. Por meio da análise de documentos de projetos realizados pelo Banco Mundial (e, em menor grau, pela USAID), analisa-se como a assistência financeira internacional enquadrou o objetivo de desenvolver os territórios palestinos, e como esse objetivo se traduziu em prescrições de privatização, financeirização, liberalização comercial e boa governança. Argumenta-se que as transformações impulsionadas repõem estruturas de dominação colonial existentes, expressas na contínua soberania israelense sobre os territórios - não questionada pelos "processos de paz". Buscando compreender o neoliberalismo em suas transformações também das esferas sociais e políticas, são analisados projetos voltados a organizações não governamentais palestinas, bem como a mobilização da noção de uma "sociedade civil palestina". Em particular, argumenta-se que processos de profissionalização e despolitização em chave neoliberal dos modelos de organização social trazem consequências negativas às capacidades de resistência de uma sociedade submetida a uma contínua ocupação colonial. Busca-se observar as articulações do neoliberalismo com estruturas coloniais de dominação, analisando a assistência internacional enquanto agente de transformações neoliberais em contextos coloniais, como aquele dos territórios palestinos ocupados.

This dissertation analyses the participation of the community of international financial assistance - especially the World Bank - in the Occupied Palestinian Territories (OPT), since the "peace processes" between Israel and the Organization for the Liberation of Palestine (OLP). Starting from a theoretical discussion about neoliberalism and from an analysis of its consolidation in the 1990s, we seek to locate the "peace processes", and particularly the external assistance driven by them, as sources of deep changes in the Palestinian economy, politics and society from the West Bank and Gaza Strip. We argue that international financers fostered several local transformations through development projects, in line with global neoliberal trends and with the restructuring operated by the "peace processes" in Israel's colonial matrix of control over the OPT. Through the analysis of documents from projects carried by the World Bank (and, to a lesser extent, the USAID), we analyze how international assistance framed the goal of developing the Palestinian territories, and how this goal was translated into prescriptions of privatization, financialization, commercial liberalization and good governance. We argue that the promoted changes reset existing colonial structures of domination, expressed by the ongoing Israeli sovereignty over the territories - not questioned by the "peace processes". Seeking to understand neoliberalism also in the changes it promotes in social and political realms, we analyze projects focused on Palestinian non-governmental organizations, as well as the mobilization of the notion of a "Palestinian civil society". Particularly, we argue that processes of professionalization and depoliticization of models of social organization, along neoliberal lines, bear negative consequences for the capacities of resistance of a society submitted to an ongoing colonial occupation. We seek to observe neoliberalism's articulations with colonial structures of domination, analyzing international assistance as an agent of neoliberal transformations in colonial contexts, such as that of the occupied Palestinian territories.