A síndrome cólica é uma enfermidade importante em equinos, que pode apresentar alterações significativas na microbiota do trato gastrointestinal. A compreensão dessas alterações pode abrir caminho para novas abordagens preventivas e terapêuticas. Esse estudo avaliou a microbiota fecal e intestinal de equinos com síndrome cólica submetidos à celiotomia exploratória e verificou a ocorrência de translocação bacteriana para o líquido peritoneal. Para isso, 41 equinos com síndrome cólica de resolução cirúrgica foram selecionados e no momento pré-operatório, foram obtidas informações do paciente e colhidas amostras de sangue e fezes. No trans operatório foram colhidos sangue venoso, líquido peritoneal, conteúdo cecal e do segmento intestinal acometido. No pós-cirúrgico, 24h e 48h, após a recuperação anestésica, foram colhidos líquido peritoneal e fezes e, 72h após, apenas fezes. Como grupo controle para as amostras de fezes, essas amostras foram colhidas de 12 cavalos residentes da mesma propriedade dos animais com cólica. Além disso, foram colhidas fezes dos cavalos 6 meses após a cirurgia. Com sangue e líquido peritoneal, foram feitos hemograma, contagem de células no líquido peritoneal, proteína total, fosfatase alcalina, fósforo inorgânico, glicose e lactato em ambos os tipos de amostras. Com as fezes, conteúdos intestinais e líquido peritoneal foi realizado o sequenciamento genético (região V4 16S rRNA) para obtenção da microbiota e verificação da ocorrência da translocação bacteriana para o líquido peritoneal. No líquido peritoneal, também foi realizada a cultura e identificação dos isolados pela técnica de MALDI-TOF. Os cavalos foram comparados quanto ao diagnóstico, tipo de lesão, região da lesão, tempo de duração até a admissão no hospital e desfecho clínico. Foram encontradas alterações em microbiota fecal e intestinal na riqueza, diversidade e composição da microbiota, apresentando diferenças de acordo com tipo de lesão (estrangulativa e não estrangulativa), região da lesão (intestino grosso e delgado) e tempo de duração (<24h ou >24h), sugerindo que diversos fatores podem influenciar a disbiose nessa enfermidade. Além disso, as fezes apresentaram composição microbiana diferente de outros segmentos do intestino grosso, indicando que em casos de cólica, podem não ser representativas desse segmento intestinal. As fezes de cavalos com cólica foram diferentes de cavalos saudáveis, bem como, após 6 meses de cirurgia, haviam retornado à composição similar a de seus companheiros saudáveis, indicando que mesmo com o distúrbio da cólica e a intervenção cirúrgica, eles são capazes de reestabelecer a microbiota após esse período. Além disso, foi observado que a técnica de sequenciamento genético é desafiadora para amostras de baixa biomassa, como o líquido peritoneal, mas foi possível identificar a translocação bacteriana, por meio de diferenças entre as amostras de líquido peritoneal do trans cirúrgico quando comparados aos cavalos saudáveis ou ao momento do pós-operatório, quando estavam sob efeito de antibióticos. Essas diferenças foram evidenciadas para riqueza, diversidade e composição da microbiota. Os cavalos com lesões de intestino grosso apresentaram maior riqueza e diversidade da comunidade bacteriana no líquido peritoneal, indicando maiores indícios de translocação bacteriana, bem como, animais com essas características microbiológicas, apresentaram maior chance de complicações incisionais.

Colic syndrome is an important disease in horses, which can present significant changes in the microbiota of the gastrointestinal tract. Understanding these changes may help to find new preventive and therapeutic approaches. The goal of this study was to evaluate the fecal and intestinal microbiota of horses with colic undergoing exploratory celiotomy and verify the occurrence of bacterial translocation into the peritoneal fluid. For this, 41 horses with colic that underwent to surgical management were selected, and in the preoperative moment, information was obtained from the patient, and blood and fecal samples were collected. During the surgery, venous blood, peritoneal fluid, cecal content, and the affected intestinal segment content were collected. In the post-surgical period, 24h and 48h, after anesthetic recovery, peritoneal fluid and feces were collected and, 72h later, only feces. As a control group for fecal samples, 12 animals living on the same property as the animals with colic, had fecal samples collected. In addition, fecal samples were collected from the colic horses 6 months after surgery. With the blood and peritoneal fluid samples, evaluations of blood count, cell count in the peritoneal fluid, and total protein, alkaline phosphatase, inorganic phosphorus, glucose, and lactate were carried out in both types of samples. Genetic sequencing (V4 16S rRNA region) was carried out with the feces, intestinal contents, and peritoneal fluid to obtain the intestinal and fecal microbiota and verify the occurrence of bacterial translocation into the peritoneal fluid. In peritoneal fluid samples, culture and identification of isolates were also performed using the MALDI-TOF technique. The horses were compared regarding diagnosis, type of injury, region of injury, time until hospital admission, and clinical outcome. Changes were found in fecal and intestinal microbiota in the richness, diversity, and composition of the microbiota, showing differences according to the type of injury (strangulation and non-strangulation), region of the injury (large and small intestine), and duration (<24h or >24h), suggesting that several factors can influence dysbiosis in this disease. Furthermore, fecal samples showed a different microbial composition from other segments of the large intestine, indicating that in cases of colic, fecal samples may not be representative of this intestinal segment. Fecal samples from horses with colic were different from healthy horses, and after 6 months of surgery, they had returned to a composition like their healthy counterparts, indicating that even with the colic disorder and surgical intervention, they can reestablish the microbiota after this period. Furthermore, it was observed that the genetic sequencing technique is challenging for low biomass samples, such as peritoneal fluid. Still, it was possible to identify bacterial translocation, through differences between peritoneal fluid samples from horses with colic, when compared to healthy horses or during the postoperative period, when they were receiving antibiotics. These differences were evident in the richness, diversity, and composition of the microbiota. Horses with large intestine lesions showed greater richness and diversity of the bacterial community of peritoneal fluid, indicating strong evidence of bacterial translocation, as well as horses with these microbiological characteristics, presenting a greater chance of incisional complications.