Faz quase um século que foram registrados os primeiros sítios arqueológicos na Terra Indígena Uaçá por meio das pesquisas do etnógrafo Curt Nimuendajú (2004), realizadas no extremo norte do estado do Amapá. Desde aquele momento, ficou sugerido que estes sítios possuíam uma cerâmica idêntica àquela encontrada por Emílio Goeldi (1905) na região do Cunani neste mesmo estado, a qual posteriormente veio a ser classificada como Fase Aristé por Meggers & Evans (1957). Mais de 70 anos depois é iniciado um Projeto de Arqueologia Pública na T.I. Uaçá que buscava investigar lugares relacionados a eventos importantes da memória Palikur, uma vez que a informação arqueológica poderia ser combinada com a etnografia e a tradição oral indígena, possibilitando construir uma história indígena de longa duração. É nesse contexto que surge a presente pesquisa, a qual tem como principal objetivo investigar a relação entre os lugares reconhecidos na tradição oral Palikur-Arukwayene e a presença das cerâmicas previamente identificadas como Aristé, buscando contribuir para a construção de uma história indígena de longa duração e para a compreensão da formação do registro arqueológico da costa atlântica do Amapá, bem como busca devolver o conhecimento gerado ao longo desse século para a comunidade Palikur-Arukwayene. Complementarmente, na busca pelos objetivos desta tese, ao relacionar e espacializar os sítios até hoje identificados, levantou-se a possibilidade de existência de complexos sistemas de uso e ocupação da paisagem desta zona costeira da Amazônia, somados aos possíveis sistemas de aliança concretizados na forma de confederações pan-tribais.

It has been almost a century since the first archaeological sites in the Uaçá Indigenous Land were recorded through research by the ethnographer Curt Nimuendajú (2004), carried out in the extreme north of the state of Amapá. Since that moment, it has been suggested that these sites had a dependent pottery found by Emílio Goeldi (1905) in the Cunani region in this same state, which later came to be classified as Phase Aristé by Meggers & Evans (1957). More than 70 years later, a Public Archeology Project is started at T.I. Uaçá that sought to investigate places related to important events of Palikur memory, since archaeological information could be combined with ethnography and indigenous oral tradition, allowing the construction of a long-term indigenous history. It is in this context that the present research arises, whose main objective is to investigate the relationship between the places recognized in the Palikur-Arukwayene oral tradition and the presence of witnesses previously identified as Aristé, seeking to contribute to the construction of a long-term indigenous history. and for understanding the formation of the archaeological record of the Atlantic coast of Amapá, as well as seeking to return the knowledge generated throughout this century to the Palikur-Arukwayene community. Complementarily, in the pursuit of the objectives of this thesis, by relating and spatializing the sites identified to date, the possibility of the existence of complex systems of use and occupation of the landscape of this coastal zone of the Amazon was asked, added to the possible systems of alliance materialized in the form of pan-tribal confederations.