A região do litoral sul catarinense tem a sua paisagem marcada por um grande conjunto de corpos dágua, decorrentes de processos geomorfológicos ao longo do Pleistoceno e Holoceno. Estas lagoas cercadas pelas planícies costeiras e relevos montanhosos formam a região conhecida como Complexo Lagunar Catarinense. Este local de encontro de biomas é ocupado por populações humanas há pelo menos 7500 anos AP, identificado através da presença de registros arqueológicos de populações sambaquieiras, Jê e Guarani. O escopo espacial desta pesquisa está circunscrito na porção norte do Complexo Lagunar, mais especificamente nas áreas dos entornos das lagoas de Imaruí, Mirim, Ibiraquera e Garopaba com um foco específico na ocupação sambaquiana ao longo do Holoceno médio e tardio. Com base no conceito do território como um objeto resultante do agregado da paisagem natural e das transformações realizadas por grupos humanos, e que, portanto, nos permite compreender diferentes aspectos sobre as sociedades que o construíram. A partir do objetivo de explorar o território sambaquiano e das dinâmicas sociais sambaquianas do litoral sul catarinense em diferentes escalas espaciais e temporais foram utilizadas técnicas de análise espacial, modelagem e simulações para abordar o território em três eixos específicos: a organização espacial sambaquiana, a mobilidade individual e as dinâmicas sociais entre grupos. Para a organização espacial foram utilizadas técnicas de análise de distribuição espacial de pontos, onde foi possível verificar a recorrência de padrões já conhecidos para populações sambaquianas de distribuição aglomerada em núcleos ao redor das lagoas. Para a mobilidade individual e as dinâmicas sociais foram aplicadas técnicas de modelagem baseada em agentes. As simulações de mobilidade permitiram analisar formas de deslocamento na paisagem, incluindo travessias nas lagoas. Também foi possível comparar os resultados da aplicação desta técnica de modelagem baseada em agentes com resultados de análises tradicionais de mobilidade produzidas com softwares de geoprocessamento. As simulações de dinâmicas sociais aplicaram dois cenários de trocas: um de recíproca solidária e outro de recíproca equilibrada. Os resultados demonstraram diferenças na estrutura social simulada na longa duração. No caso da recíproca solidária há uma estrutura igualitária e heterárquica, o oposto ocorre com a dinâmica de recíproca equilibrada. Estes resultados corroboram teorias sobre a estrutura social sambaquieira ser igualitária e não-hierárquica, possivelmente com a produção coletiva de recursos. A exploração simulada do registro arqueológico, através de uma técnica inovadora, nos possibilitou aprofundar as interpretações sobre o registro arqueológico regional em uma perspectiva de longa duração e assim construir novos caminhos para a pesquisa das relações entre ser humano e meio ambiente na região.

The southern coast of Santa Catarina is characterized by the large number of lagoons created by geomorphological processes during the Pleistocene and Holocene periods. These lagoons, surrounded by coastal plains and mountainous terrain, form the region known as the Santa Catarina Lagoon Complex. This biomes convergence area has been inhabited by human populations for at least 7500 years BP, as evidenced by archaeological records of Sambaqui, Jê, and Guarani populations. The spatial scope of this research is limited to the northern portion of the Lagoon Complex, specifically the areas surrounding the Imaruí, Mirim, Ibiraquera, and Garopaba lagoons, with a specific focus on sambaqui occupation during the Middle and Late Holocene. Based on the interpretation that the territory is an aggregate object that combines the natural landscape and the transformations carried out by human groups, it allows us to understand different aspects of the societies that built it. The objective was to explore the sambaqui territory and the sambaqui social dynamics of the southern Santa Catarina coast at different spatial and temporal scales, using spatial analysis techniques, modeling, and simulations to address the territory in three different viewpoints: sambaqui spatial organization, individual mobility, and social dynamics among groups. Spatial distribution analysis techniques were used to study the sambaqui spatial organization, revealing the recurrence of known patterns of clustered distribution around the lagoons. For individual mobility and social dynamics, agent-based modeling techniques were applied. Mobility simulations allowed the analysis of movement patterns by individuals in the landscape, taking into account aquatic means of transportation (canoes). The results of applying this agent-based modeling technique were also compared with "traditional" mobility analyses produced using geoprocessing software. Social dynamics simulations incorporated two exchange scenarios: solidarity and balanced reciprocity. The results demonstrated differences in the simulated social structure over the long term. In the case of reciprocal solidarity, an egalitarian and heterarchical structure was observed, whereas balanced reciprocity resulted in the opposite. These results support theories that suggest an egalitarian and non-hierarchical social structure among sambaqui populations, possibly involving collective resource production. The simulated exploration of the archaeological record, using an innovative technique, allowed for deeper interpretations of the regional archaeological record from a long-term perspective, thus paving the way for new research paths concerning the relationship between humans and the environment in the region.