Esta pesquisa propõe uma abordagem multitemporal para o estudo da cerâmica arqueológica na Costa Norte peruana, a partir da chamada Etnografia Arqueológica. Tal abordagem permite criar uma nova perspectiva sobre um passado que parece se atualizar constantemente nas práticas de curanderos (xamãs) e na vida cotidiana de outros sujeitos que interagem com o que nós, pessoas arqueólogas, estamos acostumadas a chamar de artefatos arqueológicos. Nos rituais de curanderismo e na prática do huaqueo em que as cerâmicas arqueológicas são conhecidas como huacos é possível ver como esses vasos cerâmicos ganham vida, atuando dentro de uma malha de relações que se estende por mundos diferentes e que conta com a participação de seres humanos e outros-quehumanos. Partindo de uma perspectiva cosmopolítica, as discussões propostas nesta pesquisa nos provocam a repensar nossas relações com os sítios e as coisas arqueológicas e com a prática arqueológica em si. Trata-se, assim, de pensar como passado e presente se entrelaçam neste contexto andino específico.

This research proposes a multitemporal approach to the study of archaeological ceramics in the Peruvian North Coast through archaeological ethnography. It allows us to create a new perspective of a past that seems to be continuously brought back in the ritual practices of curanderos (shamans) and in the daily life of other subjects that interact with what archaeologists call archaeological artifacts. In the rituals of curanderos and in the practice of huaqueo where archaeological ceramics are known as huacos it is possible to see how these vessels come to life, performing within a complex meshwork of relationships which extend over different worlds, as well as human and other-than-human participation. This discussion provokes the reevaluation of the relationships among archaeological heritage, archaeological material, and archaeological practice itself. It also shows how past and present are related in this specific Andean context.