Diante da restrição de crescimento maxilar imposta pelas cirurgias primárias, relevante parcela dos indivíduos com fissura labiopalatina (FLP) desenvolvem discrepâncias maxilomandibulares com indicação para cirurgia ortognática (CO). Esta, por sua vez, realiza osteotomias e movimentações no complexo maxilomandibular que interferem nas dimensões nasais. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar o efeito da CO com avanço maxilar sobre as dimensões das vias áreas por meio de avaliação instrumental (rinomanometria pela técnica fluxo-pressão), correlacionando as possíveis mudanças com a autopercepção dos sintomas respiratórios relacionados. Adicionalmente, objetivou-se comparar os resultados pré e pós-operatórios entre os tipos de fissuras, as diferentes osteotomias e entre dois períodos distintos (2000 a 2009 e 2010 a 2019). Para tanto, foi realizada análise retrospectiva longitudinal por meio de dados secundários. Foram coletados os valores de área seccional transversa (AST) nasal, determinados por rinomanometria posterior (RP) e anterior (RA), de AST nasofaríngea avaliada pela RA modificada e os sintomas respiratórios, por meio de questionário específico. Constituíram a amostra 535 pacientes (218 mulheres e 317 homens) com FLP previamente reparada, sem síndromes, idade 18 anos, que realizaram CO de avanço maxilar isolada ou em combinação com procedimentos envolvendo nariz e/ou mandíbula entre os anos de 2000 e 2019, e que foram submetidos ao exame de rinomanometria pré e pós cirurgia. Após a CO, os participantes apresentaram um aumento significativo da AST nasal avaliada tanto pela RP (p<.001) como pela RA (p<.001). No entanto, não foi evidenciada diferença significativa na AST nasofaríngea (p=0.319). Na comparação entre os grupos, não foram observadas diferenças significativas entre os valores de AST nasal (p=0.601) e nasofaríngea (p=0.654) entre tipos de fissuras avaliados. Na comparação entre as cirurgias, foi demonstrado que os grupos associados à realização de turbinectomia durante a CO exibiram diferença significativa entre a AST pré e pós-CO (p<.001). Na primeira década, menores valores de AST nasal (p<.001) e AST nasofaríngea (p<.001) foram verificadas em comparação a segunda década, tanto no pré como no pós cirúrgico. No entanto, ambos períodos exibiram aumento significativo da AST nasal (p<.001). Em adição, 26.3%, 28.5%, 18.5% e 5.2% apresentaram melhora da obstrução nasal, respiração oronasal, ronco e obstrução respiratoria durante o sono, respectivamente. Todavia, foi demonstrado correlação fraca entre a melhora dos sintomas e o aumento de AST nasal. Conclui-se, assim, que a CO teve influência positiva sobre a permeabilidade nasal dos pacientes com FLP. Melhores resultados foram observados nos grupos submetidos à CO associada a procedimentos nasais. Constatou-se que, ao longo de duas décadas, os pacientes vêm apresentando condições mais favoráveis à respiração. Apesar da melhoraclínica dos sintomas respiratórios, após a cirurgia, não foi evidenciada forte correlação com o aumento da AST nasal.

Because of the maxillary growth restriction imposed by primary surgeries, a significant portion of individuals with cleft lip and palate (CLP) develop maxillomandibular discrepancies with an indication for orthognathic surgery (OS). The OS performs osteotomies and movements in the maxillomandibular complex that interfere with the nasal dimensions. In this context, the study aimed to evaluate the effect of OS with maxillary advancement on airways dimensions through instrumental assessment (rhinomanometry - pressure-flow technique), correlating possible dimensions changes with self-perception of respiratory symptoms related. In addition, the aim was also to compare the pre and postoperative results between cleft type, distinct osteotomies, and between two different periods (2000 to 2009 and 2010 to 2019). Therefore, a retrospective longitudinal study was carried out using secondary data. Nasal cross-sectional area (CSA) values were determined by posterior (PR) and anterior (AR) rhinomanometry, nasopharyngeal CSA was assessed by modified AR and respiratory symptoms using a specific questionnaire were collected. The sample consisted of 535 patients (218 women and 317 men) with previously repaired CLP, without syndromes, age 18 years, who underwent maxillary advancement OS alone or in combination with procedures involving the nose and/or mandible between the years 2000 and 2019, and who underwent pre- and post-surgery rhinomanometry. After OS, the participants showed a significant increase in nasal CSA assessed by both PR (p<.001) and AR (p<.001). However, there was no significant difference in nasopharyngeal CSA (p=0.319). When comparing the groups, no significant differences were observed between nasal (p=0.601) and nasopharyngeal (p=0.654) CSA values between the cleft types evaluated. When comparing the surgical procedures, it was shown that the groups associated with turbinectomy during the OS showed a significant difference between pre and post-OS CSA (p<.001). In the first decade, lower values of nasal CSA (p<.001) and nasopharyngeal CSA (p<.001) were verified in comparison to the second decade, before and after OS. However, both periods exhibited a significant increase in nasal CSA (p<.001). In addition, 26.3%, 28.5%, 18.5%, and 5.2% showed improvement in nasal obstruction, oronasal breathing, snoring, and respiratory obstruction during sleep, respectively. Nevertheless, a weak correlation was demonstrated between the improvement of symptoms and the increase in nasal CSA. Finally, it is concluded that OS had a positive influence on nasal permeability of patients with CLP. Better results were observed in the groups submitted to OS associated with nasal procedures. In addition, over two decades, patients have shownmore favorable conditions for breathing. Despite the clinical improvement of respiratory symptoms, there was no strong correlation with the increase in nasal CSA.