No contexto da promoção da alimentação adequada e saudável em escolas públicas brasileiras, os instrumentos e estratégias da Educação Alimentar e Nutricional podem apoiar pessoas e comunidades a adotarem práticas alimentares promotoras da saúde, contribuindo para o fortalecimento dos sujeitos na busca de habilidades para tomar decisões, transformar a realidade e exigir o cumprimento do direito humano à alimentação adequada. O objetivo foi compreender os contextos que (des)favorecem as ações das famílias e da escola, voltadas à alimentação das crianças e adolescentes, para a promoção da alimentação adequada e saudável. Trabalho de natureza qualitativa, na modalidade de estudo de caso, foi realizado entre agosto/2018 e novembro/2019, em duas escolas públicas de ensino fundamental da prefeitura de São Paulo, que incluíram no Projeto Político Pedagógico ações de alimentação e que contavam com a participação das famílias. As técnicas aplicadas foram observação participante, diário de campo e entrevistas semi estruturadas - 51 individuais e 9 grupos focais - com informantes chaves da gestão e orientação direta dos estudantes; gestoras da Coordenadoria de Alimentação Escolar, nutricionistas e demais funcionários das escolas; estudantes e familiares. O roteiro foi dividido em 4 blocos de perguntas e adaptado para captar as especificidades dos grupos de atores sociais. Foi feita a transcrição, categorização, análise temática, organizados em três seções de resultados e discussão. Os resultados indicaram que a inclusão da alimentação no Projeto Político Pedagógico não garantiu a construção de um projeto coletivo; foi preciso conferir-lhe robustez, alinhado às necessidades e à proposta pedagógica do território para compreender a alimentação como prática social, consolidando a Educação Alimentar e Nutricional como força de transformação no desenvolvimento da autonomia e participação ativa dos educandos. O projeto horta, vinculado à alimentação escolar, com atividades permanentes e coletivas aproximou a comunidade para construir um espaço pedagógico para a vivência prática com o alimento e articulação de saberes. A participação das famílias nos grupos de responsabilidade rompeu com o seu suposto desinteresse e incapacidade, incluiu e conferiu sentido à participação social alinhada à educação popular. O apoderamento da comunidade foi fundamental para sua atuação nos processos decisórios e efetivação de mecanismos de exigibilidade, proteção e promoção do direito humano, articulando reflexões contemporâneas da alimentação em suas dimensões ambiental, biológica, econômica, política e social. Como desafios, aponta-se a diversidade de temas que chegam à escola; dificuldade de gestores e professores construírem caminhos que favoreçam a reflexão coletiva; disponibilidade de tempo dos familiares. O estabelecimento de parcerias bem-sucedidas entre escola e família coloca crianças e adolescentes no centro do debate, que se traduz na função coletiva de educadores para pais, professores e comunidade em geral, explorando características individuais e coletivas, para que as ações promotoras da alimentação saudável tenham potencial de mudança das práticas alimentares da comunidade.

In the context of promoting adequate and healthy feeding in Brazilian public schools, the instruments and strategies of Food and Nutrition Education can support people and communities to adopt health-promoting eating practices, contributing to the strengthening of subjects in the search for skills to make decisions, transform reality and demand compliance with the human right to adequate feeding. The objective was to understand the contexts that (dis)favor the actions of families and schools, aimed at feeding children and adolescents, for promoting adequate and healthy food. Qualitative work, in the form of a case study, was carried out between August/2018 and November/2019, in two public elementary schools of the São Paulo city, which included in the Pedagogical Political Project feeding actions that had the participation of families. The applied techniques were participant observation, field diary and semi-structured interviews - 51 individual and 9 focal groups - with key informants from the management and direct guidance of the students; managers of the School Feeding Coordination, nutritionists and other school employees; students and family. The script was divided into 4 blocks of questions and adapted to capture the specifics of the groups of social actors. Transcription, categorization, thematic analysis were performed, organized into three sections of results and discussion. The results indicated that the inclusion of food in the Pedagogical Political Project did not guarantee the construction of a collective project; it was necessary to give it robustness, in line with the needs and pedagogical proposal of the territory to understand food as a social practice, consolidating Food and Nutrition Education as a force for transformation in the development of autonomy and active participation of students.The school garden project, linked to school meals, with permanent and collective activities brought the community together to build a pedagogical space for practical experience with food and articulation of knowledge. The participation of families in responsibility groups broke with their supposed disinterest and incapacity, included and gave meaning to social participation aligned with popular education. The empowerment of the community was fundamental for its action in the decision-making processes and for the implementation of mechanisms of enforceability, protection and promotion of human rights, articulating contemporary reflections on food in its environmental, biological, economic, political and social dimensions. As challenges, the diversity of themes that reach the school is pointed out; difficulty for managers and teachers to build paths that favor collective reflection; availability of family time. The establishment of successful partnerships between school and family places children and adolescents at the center of the debate, which translates into the collective role of educators for parents, teachers and the community in general, exploring individual and collective characteristics, so that actions promoting healthy feeding have the potential to change the community's eating practices.