Introdução - As elevadas taxas de mortalidade neonatal e a prevalência de bebês nascidos pequenos para idade gestacional (PIG) ainda apresentadas por regiões de baixa e média renda indicam a necessidade de investigação sobre fatores que influenciam o crescimento fetal. Medidas biométricas fetais <percentil 10 para idade gestacional (IG) refletem a falha no alcance do potencial de tamanho fetal e oportunizam intervenções antes do nascimento. Objetivo - Investigar os fatores associados a medidas biométricas fetais <percentil 10 aferidas no início do terceiro trimestre gestacional entre participantes do Estudo MINABrasil. Métodos - Trata-se de análise prospectiva com gestantes residentes na área urbana de Cruzeiro do Sul (AC), acompanhadas desde o período pré-natal. O rastreamento, ocorrido entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016, foi seguido de entrevista domiciliar sobre informações sociodemográficas e história de saúde e de duas avaliações clínicas, agendadas entre o segundo e o terceiro trimestres de gestação, com levantamento de informações de estilo de vida e intercorrências na gestação, seguidas de aferição de dados antropométricos, coleta de sangue e exame de ultrassonografia, para mensuração de medidas biométricas fetais de perímetro cefálico (PC), circunferência abdominal (CA) e comprimento femoral (CF). Fatores associados à ocorrência de medidas biométricas fetais <percentil 10 no início do terceiro trimestre de gestação foram investigados por meio de modelos de regressão de Poisson com abordagem hierárquica para seleção de variáveis, estimando razões de prevalência (RP) e intervalos de confiança de 95% (IC95%). Resultados - Dentre as 426 participantes incluídas nessa análise (média de 25 anos (DP 6,4) e 27,8 semanas gestacionais (DP 1,7)), 11,3%, 8,9% e 9,4% gestaram fetos com medidas <percentil 10 de PC, CA e CF no início do terceiro trimestre. Essas ocorrências associaram-se negativamente com a maior escolaridade materna, a qual denotou pouco mais de 50% de proteção para as três medidas biométricas fetais <percentil 10 (PC: RP 0,47, IC95% 0,28 a 0,81; CA: RP 0,48, IC95% 0,26 a 0,87; e CF: RP 0,48, IC95% 0,27 a 0,86). A partir do ajuste para escolaridade da gestante, a nuliparidade (RP 1,94; IC95% 1,10 a 3,43), o maior índice de massa corporal (IMC) materno pré-gestacional (RP 1,06; IC95% 1,01 a 1,11, por unidade), e o etilismo materno pré-gestacional (RP 1,80; IC95% 0,98 a 3,30) foram associados a medidas de PC <percentil 10. A altura materna (p de tendência linear 0,039) e o etilismo materno pré-gestacional (RP 2,55; IC95% 1,31 a 4,96) foram, ainda, relacionados a medidas de CA <percentil 10. Encontrou-se também associação entre o maior tempo médio de tela por dia durante os acompanhamentos pré-natais e medidas de CF <percentil 10 (p de tendência linear 0,031). O maior nível de escolaridade da gestante, que proporciona melhores condições materiais e não-materiais, protegeu o crescimento fetal de falhas no alcance de seu tamanho potencial para IG. As associações positivas observadas com condições obstétricas e gestacionais das participantes podem ser mediadas por fatores biológicos ou disfunções placentárias para a ocorrência de medidas fetais <percentil 10. Conclusão - A ocorrência de medidas biométricas fetais <percentil 10 para IG e seus respectivos fatores associados corroboram para a adequação da assistência pré-natal e pré-gestacional ancoradas em políticas de equidade, bem como a criação de estratégias anteriores ao nascimento que potencializem a janela de oportunidade dos primeiros mil dias de vida.

Introduction Elevated rates of neonatal mortality and small-for-gestational-age (SGA) babies in low- and middle-income regions indicate the need to investigate factors associated with fetal growth. Fetal biometric measurements below the 10th percentile for gestational age (GA) reflect failure in achieving growth potential and provide opportunities for prenatal interventions. Objective To investigate factors associated with fetal biometric measurements below the 10th percentile assessed at early third trimester among pregnant women in the MINA-Brazil study. Methods This was a prospective analysis of pregnant women living in the urban area of Cruzeiro do Sul (AC), followed up since the antenatal period. Screening of participants took place from February 2015 to January 2016. A sociodemographic and health history interview was carried out along with two clinical assessments, scheduled between the second and third trimesters of pregnancy, to collect data on lifestyle factors and complications during pregnancy, anthropometric evaluation, blood collection, and ultrasound scan assessing fetal biometric measurements of head circumference (HC), abdominal circumference (AC) and femoral length (FL). Poisson regression models with hierarchical selection of variables were fitted for factors associated with occurrence of fetal measurements below the 10th percentile at early third trimester. Prevalence ratios (PR) and 95% confidence intervals (95%CI) were estimated. Results Among 426 participants (mean age 25 years (SD 6.4) and gestational age 27.8 weeks (SD 1.7)), 11.3%, 8.9% e 9.4% had fetuses with HC, AC, FL below the 10th percentile at early third trimester. Fetal biometric measurements below the 10th percentile were negatively associated with higher maternal education level, which denoted over 50% of protection (HC: PR 0.47, 95%CI 0.28; 0.81; AC: PR 0.48, 95%CI 0.26; 0.87; and FL: PR 0.48, 95%CI 0.27; 0.86). Adjusted for maternal education level, nulliparity (PR 1.94, 95%CI 1.10; 3.43), higher pre-gestational body mass index (BMI) (PR 1.06, 95%CI 1.01; 1.11), and pre-gestational alcohol consumption (PR 1.80, 95%CI 0.98; 3.30) were associated with HC measurements below the 10th percentile. Maternal height (p for trend 0.039) and pre-gestational alcohol consumption (PR 2.55, 95%CI 1.31; 4.96) were also associated with AC measurements below the 10th percentile. Association between higher average screen time per day during antenatal follow-up and FL measurements below the 10th percentile were observed as well (p for trend 0.031). Higher maternal education level, which may provide better material and non-material conditions, seems to protect fetal growth from failure to reach potential fetal size for GA. Positive associations observed with obstetric and antenatal conditions may be mediated by biological factors or gestational dysfunctions to incur in fetal measurements below the 10th percentile. Conclusion The occurrence of fetal biometric measurements below the 10th percentile for GA and their associated factors corroborate pre-pregnancy and antenatal care improvements anchored in equity policies, and for new strategies prior to birth that optimize the window of opportunity in the first thousand days of life.