Introdução - A obesidade é um importante problema de saúde pública no Brasil. A linha de cuidado para o sobrepeso e obesidade é uma das ofertas tecnológicas inovadoras do Sistema Único de Saúde, visando superar a fragmentação da atenção e gestão à saúde e propondo diretrizes para organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária nas redes de atenção à saúde. A qualificação da força de trabalho para o enfrentamento da obesidade é uma das diretrizes propostas pela linha de cuidado, tendo como premissa as práticas de educação permanente em saúde (EPS). A EPS tem sido apontada como ferramenta essencial para a produção de mudanças de práticas e organização dos processos de trabalho. Objetivo - Compreender, na perspectiva de profissionais de saúde, o papel da EPS na implementação da linha de cuidado para o sobrepeso e obesidade nas ações da atenção primária. Métodos- Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa a partir de estudo de caso. Foram realizadas dezoito entrevistas semiestruturadas com profissionais de saúde com nível superior, atuantes na atenção primária dos municípios do Grande ABC Paulista no estado de São Paulo. Realizou-se análise de conteúdo com abordagem indutiva. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da USP (Parecer Nº 3.366.472; CAAE Nº 12785719.9.0000.5421). Resultados - A partir da análise emergiram cinco categorias temáticas: Organização do cuidado às pessoas com sobrepeso e obesidade; Percepções sobre a temática de sobrepeso e obesidade; Concepções acerca dos processos educativos; Potencialidades associadas às práticas de EPS; e Desafios relacionados com as práticas de EPS. Conclusões - A obesidade foi concebida pelos profissionais de saúde como fenômeno multifatorial, sendo a vigilância alimentar e nutricional, a abordagem coletiva para o manejo da obesidade e uso de práticas integrativas e complementares práticas estabelecidas para o cuidado de indivíduos com sobrepeso e obesidade. Entretanto, ainda coexistem práticas assistenciais unidimensionais, com orientações focadas na perda de peso e responsabilização individual, nas quais os usuários com obesidade são vistos de maneira negativa e sofrem atitudes estigmatizantes. Os profissionais sentem-se inseguros frente à temática de obesidade e há reconhecimento da necessidade de processos de qualificação profissional. Evidenciou-se concepções dos processos educativos que ora convergem com princípios de EPS, ora com de educação continuada. A EPS foi concebida pelos profissionais como componente essencial para a produção e organização do cuidado para pessoas com excesso de peso, contribuindo para a implementação da linha de cuidado para sobrepeso e obesidade e propiciando transformação nas práticas e nos processos de trabalho. Contudo, as ações educativas relacionadas à temática obesidade ainda estão aquém do esperado e foram elencados fatores desafiadores para o desenvolvimento de ações de EPS, como a pandemia da COVID-19, alta demanda assistencial, ações desconexas com a realidade do serviço, problemáticas relacionadas a integração entre as equipes multiprofissionais e estratégia saúde da família, desvelando a necessidade de aprimoramento das ações estabelecidas e sensibilização da gestão local para ampliação do apoio aos processos educativos.

Introduction - Obesity is a significant public health problem in Brazil. The line of care for overweight and obesity is one of the innovative technological offers of the Unified Health System. It aims to overcome the fragmentation of health care and management and proposes guidelines to organize the prevention and treatment of overweight and obesity as a priority line of care in health care networks. The qualification of the workforce to face obesity is one of the guidelines proposed by the line of care, based on permanent health education practices (EPS). EPS has been identified as an essential tool to generate changes in practices and organize work processes. Goal - To understand, from the perspective of health professionals, the role of EPS in the implementation of the line of care for overweight and obesity in primary care actions. Methods - This is a research with a qualitative approach based on a case study. Eighteen semi-structured interviews were carried out with health professionals with higher education, working in primary care in the municipalities of the Greater ABC Paulista in the state of São Paulo. Content analysis was carried out with an inductive approach. The study was approved by the Ethics Committee of the Faculdade de Saúde Pública at USP (Opinion Nº 3.366.472; CAAE Nº 12785719.9.0000.5421). Outcomes - From the analysis, five thematic categories emerged: Organization of care for people with overweight and obesity; Perceptions about overweight and obesity; Conceptions about educational processes; Potentialities associated with EPS practices; and Challenges related to EPS practices. Conclusions - Obesity was conceived by health professionals as a multifactorial phenomenon. Food and nutrition surveillance, collective approaches and the use of integrative and complementary practices were the strategies established to care for overweight and obese individuals. However, one-dimensional care practices still coexist, with guidelines focused on weight loss and individual accountability, in which users with obesity are viewed negatively and suffer stigmatizing attitudes. Professionals feel insecure regarding the issue of obesity and there is recognition of the need for professional qualification processes. Conceptions of educational processes were evidenced, sometimes converging with EPS principles, sometimes converging with continuing education. EPS was conceived by professionals as an essential component to generate and organize care for overweight people, contributing to the implementation of the care line for overweight and obesity and providing transformation in work practices and processes. However, educational actions related to obesity are still below expectations. Challenging factors for the development of EPS actions were listed, such as the COVID-19 pandemic, high demand for care, actions disconnected from the reality of the service, problems related to the integration between multidisciplinary teams and the family health strategy, revealing the need to improve established actions and the awareness of local management in order to increase support for educational processes.