Objetivo. Este trabalho avaliou como o atendimento das crianças na atenção básica enfoca os problemas de saúde mental (PSM). Procurou-se também identificar a freqüência dos PSM identificados pelos pediatras e comparou-se-a à freqüência dos PSM identificados por questionário padronizado (CBCL). Métodos. Foram estudadas crianças de 5 anos a 11 anos e 11 meses atendidas em um Centro de Saúde (CS) no Município de São Paulo. Foi feito um levantamento de 411 prontuários e foram selecionadas as crianças com diagnóstico de PSM feito pelo pediatra. Foram feitas 206 visitas domiciliares para aplicação do CBCL e da entrevista com os pais. Também foram realizadas onze entrevistas com os pediatras. Resultados. Os pediatras fizeram hipóteses diagnósticas de PSM em 72 crianças (17,5%). O CBCL encontrou 130 crianças com escore clínico. Destas 130 crianças os pediatras só identificaram 33. As outras 97 não foram identificadas durante a consulta. A presença de preocupação dos pais com os PSM está estatisticamente associada ao escore clínico do CBCL. Nas crianças com escore clínico do CBCL, a presença de preocupação dos pais não melhora o reconhecimento dos PSM pelos pediatras. Os médicos identificaram dificuldades para lidar com os PSM e apontaram como seus determinantes falhas na formação profissional, falta de tecnologia adequada, pouco tempo para as consultas, ausência de equipe multiprofissional no CS e falta de retaguarda especializada em Saúde Mental. Conclusão. Os médicos do CS estudado têm dificuldade em fazer hipóteses diagnósticas de PSM em crianças, principalmente nas áreas ansiedade/depressão, problemas de atenção e transtornos de conduta.

Objective. This work evaluated how child attendance in primary care assess mental health problems (MHP). lt also sought to identify the frequency of MHP identified by the pediatricians, which was compared to the frequency of MHP identified by a standardized questionnaire (CBCL). Methods. Children between 5 years old and 11 years and 11 months old, attended at a Health Center (HC) in the City of São Paulo, were studied. A raising of 411 prontuaries was made, and the children with diagnostic hypothesis of MHP made by the pediatrician were selected. Household visits were made in 206 such cases for the application of the CBCL questionnaire and interview with the parents. Eleven interviews with the pediatricians were held as well. Results. The pediatricians made diagnostic hypoteses of MHP about 72 children (17,5%). The CBCL questionnaire found 130 children with clinicai score. Among these, the pediatricians identified only 33. The 97 remaining ones were not detected during consultation. The presence of parents' worriness with MHP is statistically related to CBCL's clinicai score. For children with clinicai score on CBCL, the presence of parents' worriness does not improve the recognizability of MHP by the pediatricians. The physicians identified difficulties in dealing with MHP and remarked as their determinants flaws in professional formation, lack of proper technology, too short a time of consultation, absence of a multiprofessional team at the HC, and lack of specialized backup in Mental Health. Conclusion. The physicians of the HC under study have difficulty in making diagnostic hypotheses of MHP in children, mainly in the areas of anxiety/depression, attention problems and behavioral distress.