Embora as medidas para profilaxia da transmissão vertical do HIV tenham representado um grande avanço, no contexto do HIV/AIDS, as mesmas estão longe de esgotar as inúmeras questões envolvidas nesse campo. Muitas demandas de mulheres vivendo com HIV/AIDS em relação à sua saúde reprodutiva também mereceriam o acolhimento por parte dos serviços de saúde. O estudo buscou compreender, a partir das perspectivas de mulheres vivendo com HIV/AIDS, como o Cuidado pode ser incorporado nas práticas assistenciais contribuindo para a saúde reprodutiva desse grupo e prevenção da transmissão vertical. Foram entrevistadas em profundidade, a partir de roteiro temático, 14 mulheres que engravidaram enquanto estavam sendo seguidas em um serviço especializado em DST/AIDS do Município de São Paulo. O intervalo médio entre matrícula no serviço e o diagnóstico da gravidez foi de aproximadamente 2 anos, sugerindo a possibilidade de orientação prévia sobre saúde reprodutiva e gravidez para estas mulheres. As entrevistadas avaliaram positivamente o serviço, porém os resultados obtidos identificaram dificuldades no aconselhamento em saúde reprodutiva. As demandas trazidas pelas mulheres para o serviço no momento em que decidiram pela gravidez, bem como quando desejaram evitá-la e, até mesmo, diante da opção pela interrupção de uma gestação indesejada, não foram acolhidas, evidenciando dificuldades na incorporação da dimensão cuidadora nas práticas assistenciais. O modelo médico centrado e as tecnologias empregadas visam primordialmente o controle da infecção, desconsiderando as intersubjetividades envolvidas no momento assistencial e os projetos de felicidade das mulheres, indicando a necessidade de se elaborar tecnologias que de fato considerem o Cuidado nas práticas assistenciais propostas.

Although the universalization of antiretroviral therapy for the prophylaxis of vertical HIV transmission was a large advance, the innumerable questions involved in the field of reproductive healthcare attendance actions in the context of HIV/AIDS are far from being resolved in Brazil. Many demands from women living with HIV/AIDS, in relation to their reproductive health, have also merited reception by the healthcare services. The present study has sought to understand, from the perspective of women living with HIV/AIDS, how comprehensive care could be incorporated into attendance practices, thereby contributing towards their reproductive health and the prevention of vertical transmission. In-depth interviews via a thematic scheme were held with 14 women who became pregnant while they were being followed up at a specialized sexually transmitted disease/AIDS service in the municipality of São Paulo. The interval between enrollment in the service and the diagnosis of pregnancy was approximately two years, thus suggesting that there would have been the possibility of prior guidance regarding reproductive healthcare and pregnancy for these women. The interviewees gave positive appraisals of the service, although the results obtained identified difficulties in reproductive healthcare counseling. We observed that the demands brought by the women to the service at the time when they decided to become pregnant, as well as when they wanted to avoid pregnancy and when faced with the choice of interrupting an unwanted gestation were not taken in by the service. This gives evidence of the difficulties of incorporating the caregiving dimension into attendance practices. The medically centered model and the technologies employed aim primarily towards the control of the infection and do not take into account the intersubjective matters involved at the time of attendance and the women's plans for happiness. The findings indicate the need for devising technologies that actually consider comprehensive care in the attendance practices proposed.