Uso de substâncias e prática de delitos são condutas que podem se manifestar na adolescência. Ambas mantêm relação forte, e podem se retroalimentar, aumentando reciprocamente suas chances de persistência e agravamento, até a vida adulta. Investigações que focalizem variáveis pessoais e contextuais e denotem diferenças na função que uma conduta pode assumir para outra são ainda necessárias. Desta forma, este estudo objetivou investigar as características pessoais e contextuais implicadas na conduta problemática de uso de substâncias em jovens apresentando variados padrões de conduta delituosa, visando evidenciar diferenças em fatores atinentes ao uso problemático de substâncias e observar os mais relacionados a um maior engajamento em práticas de delitos. Participaram 21 adolescentes com idades entre 15 e 18 anos, que haviam sido detidos por prática de infrações e dirigidos a um Núcleo de Atendimento Integral, local de recrutamento. Esses responderam a um questionário para sua caracterização socioeconômica e instrumentos para descrição e classificação dos padrões de ambas as condutas (Entrevista Estruturada de Delinquência Autorrevelada e o Drug Use Screening Inventory-Revised), bem como para a análise de contingências do primeiro uso e uso atual de álcool e maconha, e da relação entre uso de substâncias e prática de delitos (Roteiro de Entrevista Semiestruturada de Análise de Contingências). Para comparação, foi possível agrupar os participantes em quatro grupos de acordo com o padrão de conduta delituosa (conduta normativa e conduta distintiva) e o padrão de uso de maconha (uso esporádico e uso diário). Por meio de metodologia mista, foram realizadas análises de estatística descritiva e análise temática das unidades funcionais, após a transcrição na íntegra das entrevistas gravadas em áudio. Observou-se que o primeiro uso de álcool e de maconha apresentaram diversas semelhanças contextuais, tais como a busca por sensações, fácil acesso às substâncias, percepção de maturidade atrelada, expectativas positivas em relação aos efeitos das substâncias, normalização do uso, familiares e pares usuários, ambientes de socialização e baixa supervisão parental. O que diferenciou os grupos apresentando conduta distintiva foi o início do uso junto a pares infratores em ambientes criminalizados. A análise de contingências do uso atual de álcool e de maconha evidenciou a função de regulação emocional para alguns grupos mediante a experiência de condições e de emoções aversivas. Este contexto se apresentou importante para a relação entre uso de substâncias e prática de delitos, especialmente para o grupo composto por jovens apresentando uso diário de maconha e padrão de conduta delituosa distintiva. Destacou-se também, para este grupo, o longo período de implicação em tráfico de drogas. Desta forma, identifica-se que o uso de substâncias e a prática infracional na adolescência podem se manifestar pelo compartilhamento de fatores de risco, mas se agravarem a ponto de se tornar um problema único, também em função de problemas associados que concorrem para que as duas condutas se "fundam". Assim, modelos pressupondo relações bidirecionais parecem mais adequados para investigar e entender esta relação complexa - crime-droga - nos casos em que ambas as condutas se manifestam em níveis problemáticos.

Substance use and delinquency are conducts that can emerge in adolescence, maintain a strong relationship and can reinforce each other, reciprocally increasing their chances of persistence and aggravation, until adulthood. Investigations that focus on personal and contextual variables and denote differences in the function that one conduct can assume for another are still needed. This study aimed to investigate the personal and contextual characteristics involved in the problematic conduct of substance use in adolescents presenting different patterns of offending, in order to highlight differences in factors related to problematic substance use and observe those most closely related to a greater involvement with delinquency. The sample consisted in 21 adolescents aged between 15 and 18 years old, who had been arrested for committing offenses and sent to the Núcleo de Atendimento Integral, the place of recruitment. They answered a questionnaire for their socioeconomic characterization and instruments to describe and classify the patterns of both conducts (Self-Report Delinquency Interview and the Drug Use Screening Inventory-Revised), as well as for the contingency analysis of the first and current use of alcohol and marijuana, and the relationship between substance use and delinquency (Semi-structured Interview of Contingency Analysis). For comparison, it was possible to allocate the participants into four groups according to the pattern of offending (normative and persistent conduct) and the pattern of marijuana use (sporadic and daily use). Through mixed methodology, descriptive statistical and thematic analysis of the contingencies were performed after transcription in full of the audio-recorded interviews. It was observed that the first use of alcohol and marijuana presented several contextual similarities, such as sensation seeking, easy access to substances, perception of maturity attached, positive expectations regarding the effects of substances, normalization of use, family and peer use, socialization environments and low parental supervision. What differentiated the groups presenting persistent conduct of offending was the onset of use with delinquent peers in criminalized environments. The contingency analysis of current alcohol and marijuana use evidenced the function of emotional regulation for some groups when experiencing aversive conditions and emotions. This context was important for the relationship between substance use and delinquency, especially for the group composed by adolescents with daily use of marijuana and a persistent pattern of offending. For this group, the long period of involvement in drug trafficking was also significant. In this way, it was identified that substance use and delinquency in adolescence may manifest themselves by sharing common risk factors but can aggravate to the point of becoming a single problem, also due to associated problems that contribute to the "merging" of the two conducts. Thus, models that assume bidirectional relationships appear to be more appropriate for investigating and understanding this complex relationship - "crime - drug" - in cases where both conducts manifest themselves at problematic levels.