As políticas de saúde para as mulheres foram implementadas a partir da década de 80 visando à reformulação assistencial para além dos aspectos biológicos e maternos. Apesar dos avanços, ainda se encontram dificuldades na abordagem do cuidado integral, nos diferentes níveis e serviços às usuárias da saúde mental consumidoras de drogas. Apesar dessa lacuna, as usuárias de substâncias psicoativas têm sinalizado ascensão numérica ao longo dos anos, visto que a literatura científica apontou para fatores de início e manutenção do consumo diferentes quando comparados aos homens, com importante ressalva para os contextos e as vulnerabilidades psicossociais nas quais estão inseridas. Dentre os determinantes sociais, destacam-se as relações de gênero que impõem sobre as mulheres um conjunto de simbolismos, desigualdades e estigmas na vida social. As relações opressoras de gênero vividas pelas usuárias, enlaçadas às influências das relações interpessoais (familiares e/ou amorosas e conjugais) são aspectos contribuintes para o consumo problemático de drogas. Frente a esse contexto, encontra-se o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-ad), serviço público e comunitário, que se dispõe a ofertar um tratamento psicossocial sensível às questões de gênero. A produção científica nacional na interface entre mulheres e CAPS-ad está em desenvolvimento, com pouca sistematização e ordenamento sobre as evidências científicas já produzidas e com possíveis lacunas sobre vivências desse público. Assim, faltam orientações claras para o cuidado com essas mulheres, aspecto que pode ser construído através do mapeamento das evidências científicas existentes; assim como se ausentam compreensões sobre as relações afetivoamorosas e os impactos na vida e no tratamento. Com isso, justifica-se a relevância e a escrita de dois artigos científicos, quais sejam: (1) revisão integrativa da literatura sobre mulheres em CAPS-ad; e (2) pesquisa de abordagem qualitativa sobre os relacionamentos conjugais deste público enquanto desdobramento de uma lacuna do primeiro estudo. O objetivo é compreender algumas demandas e necessidades que se apresentaram para mulheres em tratamento no CAPSad, de maneira a contribuir para pesquisas e intervenções mais eficientes quanto às relações de gênero. Os resultados apontaram uma produção científica que se concentrou nas temáticas: perfil das usuárias, relacionamentos, maternidade, uso de drogas e saúde mental, e o acesso ao tratamento. A partir desses temas, foram construídas orientações assistenciais para os CAPSad na lida com mulheres. Já os resultados acerca dos relacionamentos afetivo-amorosos apontaram para construções engendradas e idealizadas sobre o papel de esposa, no qual as participantes viram as relações como esperança frente aos desamparos vividos. As dinâmicas relacionais modularam a quantidade de drogas consumidas e direcionaram intervenções para os serviços públicos da saúde e assistência social. Tanto as evidências científicas quanto as construções das participantes sobre as conjugalidades mostraram que as vivências das mulheres usuárias de drogas estão permeadas por construções e expectativas de gênero, por vezes vividas enquanto empecilhos para a reabilitação psicossocial e/ou redução do uso das drogas. Faz-se necessário que as práticas do CAPS-ad sejam aprimoradas e voltadas para essas problemáticas.

Health policies for women were implemented from the 1980s onwards, aiming to reformulate care beyond biological and maternal aspects. Despite advances, there are still difficulties in approaching comprehensive care, at different levels and services, for drug-using mental health users. Despite this gap, users of psychoactive substances have shown a numerical increase over the years, as scientific literature has pointed to different factors for the initiation and maintenance of consumption when compared to men, with an important caveat to the contexts and psychosocial vulnerabilities. Among the social determinants, gender relations stand out, which impose a set of symbolisms, inequalities and stigmas on women in social life. The oppressive gender relationships experienced by users, linked to the influences of interpersonal relationships (family and/or romantic and marital) are contributing aspects to problematic drug use. In this context, there is the Alcohol and Drug Psychosocial Care Center (CAPS-ad), a public and community service, which offers psychosocial treatment sensitive to gender issues. National scientific production at the interface between women and CAPS-ad is in development, with little systematization and organization of the scientific evidence already produced, and with possible gaps in some experiences of this public. Therefore, there is a lack of clear guidelines for the care of these women, an aspect that can be addressed by mapping existing scientific evidence; as well as a lack of understanding about affective-love relationships and their impacts on life and treatment. With this, the relevance and writing of two scientific papersi s justified, namely: (1) Integrative review of literature about women in CAPS-ad; and (2) Qualitative research on the marital relationships of this public, as an unfolding of a gap in the first study. The objective is to understand demands and needs that arise for women undergoing treatment at CAPS-ad, in order to contribute to more assertive research and interventions in gender relations. The results pointed to scientific productions that focused on themes: users profile, relationships, motherhood, drug use and mental health, and access to treatment. Based on these themes, assistance guidelines were created for CAPS-ad when dealing with women. The results regarding affective-loving relationships pointed to engendered and idealized constructions about the role of wife, where the participants saw the relationships as hope in the face of the helplessness experienced. Relational dynamics modulated the amount of drugs consumed, and directed interventions to public health and social assistance services. Both the scientific evidence and the participants' constructions about conjugal relationships showed that the experiences of women who use drugs were permeated by gender constructions and expectations, sometimes experienced as obstacles to psychosocial rehabilitation and/or reduction of drug use. It is necessary for CAPS-ad practices to improve and focus on these problems.