Esta pesquisa parte do pressuposto de que determinados ambientes online podem ser caracterizados como comunidades por se beneficiarem de um sentido de espaço, práticas, recursos e apoio compartilhados, com negociação de identidades e oportunidade de relacionamentos interpessoais. busca ampliar a compreensão sobre questões de gênero e violência na contemporaneidade, utilizando uma abordagem teórica pós-estruturalista e de Estudos de Gênero. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, conduzido por meio de análise documental. A pesquisa se concentra na análise qualitativa de mensagens em fóruns frequentados por homens, destacando a influência do anonimato e da fluidez identitária na perpetuação de estereótipos de gênero. O pesquisador acessou um site específico, por um período de três meses, para observação e registro sistemático das postagens, comentários e discussões, sem estabelecer interação virtual com os usuários da página. As postagens foram salvas em formato de texto e transferidas para o software ATLAS.ti, que permitiu a organização e análise dos conteúdos coletados. Seguiu-se uma leitura atentiva dos conteúdos, em busca de elementos que permitissem dialogar com o objetivo do estudo; por meio da seleção e marcação preliminar de palavras e frases relevantes, buscou-se encontrar nas narrativas regularidades e deslocamentos, identificando continuidades e transformações, semelhanças e diferenças na trama discursiva. Ao final, foi realizada uma análise descritiva e comparativa entre os posts, o que permitiu rastrear e desvelar as formações discursivas presentes nas mensagens compartilhadas pelos usuários do chan. Como resultados, foram delineados três temas: "Fraturas expostas": relatos de cunho sexista/racista na manosphere; "O que é isso, companheiro?": usuários lamentam a própria vida; e Em busca da majestade perdida: a ideologia Red Pill. Os resultados evidenciam a exposição de fissuras estruturais no discurso hegemônico das masculinidades, que produzem excluídos em suas margens. Ao se posicionarem como párias sociais, os usuários do chan se identificam com o universo das masculinidades subalternas. A falta de regulamentação no ambiente da internet é um ponto crítico que favorece a disseminação de comunidades especializadas em propagar discursos de ódio na rede. No entanto, percebemos que essas comunidades online têm natureza ambivalente: se por um lado promovem violência, por outro atuam como espaços que oferecem suporte e reforçam laços de solidariedade entre os seus usuários, que sob o manto protetor do anonimato se sentem seguros para expor suas frustrações e fragilidades no chan. Este achado destaca a complexidade que envolve o debate atual sobre as comunidades online, sendo contraproducente defini-las unicamente por seu viés de intolerância. No que diz respeito ao viés misógino, é crucial examinar suas características específicas, como a promoção de uma lógica predatória inspirada no modelo extrativista da ideologia neoliberal, elemento identificado em um número significativo de publicações. Finalmente, observamos que os impactos da produção discursiva de teor misógino são bastante tangíveis no contemporâneo, independentemente do meio no qual esse tipo de pensamento prospera. A superação de fronteiras territoriais e limitações geográficas, facilitada pelo uso das tecnologias de informação e comunicação, cria condições propícias para a potencialização desses discursos, favorecendo a amplificação do alcance de mensagens que retroalimentam práticas misóginas no mundo off-line.

This research is based on the assumption that certain online environments can be characterized as communities by benefiting from a sense of space, practices, resources, and shared support, involving the negotiation of identities and opportunities for interpersonal relationships. It seeks to broaden the understanding of gender and violence issues in contemporary society, employing a post-structuralist theoretical approach and Gender Studies. It is a qualitative study conducted through document analysis. The research focuses on the qualitative analysis of messages in forums frequented by men, highlighting the influence of anonymity and identity fluidity in perpetuating gender stereotypes. The researcher accessed a specific website for a period of three months for observation and systematic recording of posts, comments, and discussions, without establishing virtual interaction with page users. The posts were saved in text format and transferred to the ATLAS.ti software, which allowed the organization and analysis of collected content. A careful reading of the content followed, seeking elements to engage with the study's objective; through the selection and preliminary marking of relevant words and phrases, the aim was to find regularities and shifts, identifying continuities and transformations, similarities, and differences in the discursive plot. In the end, a descriptive and comparative analysis of the posts was carried out, allowing the tracking and unveiling of discursive formations present in messages shared by chan users. As a result, three themes were outlined: "Exposed Fractures": reports of sexist/racist nature in the manosphere; "What is this, mate?": users lamenting their own lives; and In Search of Lost Majesty: the Red Pill ideology. The results highlight the exposure of structural fissures in the hegemonic discourse of masculinities, producing excluded individuals on its margins. By positioning themselves as social pariahs, chan users identify with the world of subaltern masculinities. The lack of regulation in the online environment is a critical point that favors the spread of communities specialized in propagating hate speech on the network. However, we perceive that these online communities have an ambivalent nature: while promoting violence on one hand, they also act as spaces that offer support and reinforce solidarity among their users, who, under the protective cloak of anonymity, feel safe to expose their frustrations and vulnerabilities on chan. This finding highlights the complexity surrounding the current debate about online communities, being counterproductive to define them solely by their intolerance bias. Regarding the misogynistic bias, it is crucial to examine its specific characteristics, such as the promotion of a predatory logic inspired by the extractivist model of neoliberal ideology, identified in a significant number of publications. Finally, we observe that the impacts of misogynistic discursive production are quite tangible in contemporary society, regardless of the medium in which this type of thinking thrives. The overcoming of territorial boundaries and geographical limitations, facilitated by the use of information and communication technologies, creates conducive conditions for the potentiation of these discourses, favoring the amplification of the reach of messages that feed misogynistic practices in the offline world.