Estudos recentes indicam que processos racionais e afetivos estão mais relacionados do que supunham antigos filósofos e teóricos da ciência psicológica. Evidências empíricas indicam que, mais do que fenômenos antagônicos, processos cognitivos e afetivos interagem entre si, e com outros fenômenos psicológicos, influenciando o comportamento de maneira complexa. Nesse sentido, este trabalho teve como proposta geral examinar possíveis relações entre tomada de decisão, regulação emocional e características de personalidade em adultos, utilizando uma abordagem multimétodos (autorrelato, desempenho e medidas implícitas). Para tanto, esta pesquisa foi dividida em duas etapas, compreendendo dois estudos. O Estudo I visou explorar as inter-relações entre variáveis de regulação emocional, caracterizando perfis de estratégias de regulação em adultos jovens, posteriormente vinculadas a variáveis afetivas. Dessa forma, buscou-se validar a presença de perfis de regulação emocional na população estudada. Participaram desta pesquisa 1165 sujeitos de ambos os sexos (855 mulheres, 73,4%) com idade média de 26,72 anos (DP = 8,35) que responderam ao Questionário de Regulação Emocional (ERQ), a Escala de Dificuldades de Regulação Emocional (DERS), Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS); Escala de Afetos (EA) e a Following Affective States (FAST) em uma plataforma online. A amostra foi dividida em três subamostras. A subamostra I (n = 375) recuperou três perfis de regulação emocional distintos: a) perfil adaptado; b) perfil regulador inconsciente e c) perfil desregulado. A subamostra II (n = 390) retornou o mesmo número de perfis, demonstrando sua consistência. A subamostra III (n = 400) indicou a importância da reavaliação cognitiva, e dificuldades de consciência como diferenciadores dos perfis e que os perfis identificados se mostraram estáveis ao longo do tempo e se relacionaram com variáveis afetivas como afetos positivos e negativos e atenção às emoções. O Estudo II visou a associação entre variáveis de regulação emocional, tomada de decisão e indicadores afetivos e cognitivo de personalidade, bem como se diferentes perfis de regulação emocional apresentavam diferenças nos processos de tomada de decisão. Nesse estudo, participaram 92 jovens adultos, de ambos os sexos (63 mulheres, 68,5%) com idade média de 25,7 (DP = 6,45) que tomaram parte no estudo I. Os participantes responderam à Escala de Estilos de Decisão (DSS), ao Iowa Gambling Task (IGT) e ao Método de Rorschach (R-PAS). Os resultados indicaram que é possível relacionar os construtos do mesmo domínio à partir de métodos diferenciados. Observou-se especialmente relações entre dificuldades de regulação emocional (DERS) e atenção às emoções (FAST) e variáveis do Método de Rorschach. Também foi possível observar poucas relações entre estilos de tomada de decisão (DSS), o desempenho no IGT e o Rorschach o que pode sugerir que diferentes métodos avaliam aspectos diferentes dos processos de tomada de decisão. Os resultados também permitiram avaliar o relacionamento entre regulação emocional e tomada de decisão, apontando que variáveis afetivas estão relacionadas aos estilos preferencias de tomada de decisão e influenciam no desempenho em tarefas que avaliam tomada de decisão em situações de incerteza, em especial, a tendência a ignorar as próprias emoções negativas. Por fim, as análises indicaram que os perfis de regulação emocional se diferenciam em relação ao estilo intuitivo de tomada de decisão e ao indicador (CF+C) - FC no Método de Rorschach, que pode ser interpretado como um indicador de impulsividade. Em conjunto, os resultados empíricos dos dois estudos permitiram confirmar algumas das hipóteses levantadas, indicando que uma abordagem multimétodos permite a investigação de fenômenos complexos como a inter-relação entre processos de tomada de decisão, regulação emocional e personalidade.

Recent studies indicate that rational and affective processes are more related than previously thought by philosophers and theorists of psychological science. Empirical evidence indicates that, more than antagonistic phenomena, cognitive and affective processes interact with each other, and with other psychological phenomena, influencing behavior in a complex way. In this sense, this work had as a general proposal to examine possible relations between decision making, emotional regulation and personality characteristics in adults, using a multimethod approach (self-report, performance and implicit measures). To this end, this research was divided into two stages, comprising two studies. Study I aimed to explore the interrelationships between variables of emotional regulation, characterizing profiles of regulatory strategies in young adults, later linked to affective variables. Thus, we sought to validate the presence of profiles of emotional regulation in the studied population. 1165 subjects of both sexes participated (855 women, 73.4%) with an average age of 26.72 years (SD = 8.35) who answered the Emotional Regulation Questionnaire (ERQ), the Regulation Difficulty Scale Emotional (DERS), Positive and Negative Affections Scale (PANAS); Scale of Affections (EA) and Following Affective States (FAST) on an online platform. The sample was divided into three subsamples. Subsample I (n = 375) recovered three distinct emotional regulation profiles: a) adapted profile; b) unconscious regulatory profile and c) unregulated profile. Subsample II (n = 390) returned the same number of profiles, demonstrating its consistency. Sub-sample III (n = 400) revealed the importance of cognitive reassessment, and difficulties in awareness as differentiating profiles and that the identified profiles were stable over time and were related to affective variables such as positive and negative affects and attention to emotions. Study II aimed at the association between variables of emotional regulation, decision making and affective and cognitive indicators of personality, as well as whether different profiles of emotional regulation showed differences in decision-making processes. In this study, 92 young adults participated, of both sexes (63 women, 68.5%) with an average age of 25.7 (SD = 6.45) who took part in study I. The participants responded to the Decision (DSS), the Iowa Gambling Task (IGT) and the Rorschach Method (R-PAS). The results indicated that it is possible to relate the constructs of the same domain using different methods. It was observed especially relationships between difficulties in emotional regulation (DERS) and attention to emotions (FAST) and variables of the Rorschach Method. It was also possible to observe few relationships between decision-making styles (DSS), performance at IGT and Rorschach, which may suggest that different methods evaluate different aspects of decision-making processes. The results also made it possible to evaluate the relationship between emotional regulation and decision making, pointing out that affective variables are related to the preferred styles of decision making and influence the performance in tasks that evaluate decision making in situations of uncertainty, in particular, the tendency to ignore your own negative emotions. Finally, the analyzes indicated that the profiles of emotional regulation differ in relation to the intuitive style of decision making and the indicator (CF + C) - FC in the Rorschach Method, which can be interpreted as an indicator of impulsivity. Together, the empirical results of the two studies confirmed some of the hypotheses raised, indicating that a multi-method approach allows the investigation of complex phenomena such as the interrelationship between decision-making processes, emotion regulation and personality.