O presente estudo investigou o efeito do treino com desenhos em relevo no reconhecimento háptico de figuras bidimensionais tangíveis por cegos, alfabetizandos e usuários do sistema Braille. Não tem havido consenso sobre a necessidade da experiência visual no reconhecimento háptico de figuras planas por cegos congênitos totais e sobre a capacidade desses sujeitos em reconhecerem desenhos com linhas em relevo. A fim de se elucidar tais controvérsias, o presente estudo esteou-se em um trabalho de treinamento háptico com oito sujeitos cegos totais, de duas escolas públicas da cidade de São Paulo. Para teste e treino no reconhecimento de desenhos bidimensionais tangíveis, fez-se uso de figuras em relevo, representativas de objetos (17) e figuras geométricas (16). Os sujeitos foram treinados a reconhecer esses desenhos, por exemplo, através de instrução verbal (oferecendo-se-lhes a categoria básica e superordenada, a qual os desenhos pertenciam), e através de informações sobre como as figuras foram produzidas (que regras pictográficas as regem e de que maneira os cegos poderiam produzir tais figuras). O teste e reteste foram feitos usando a tarefa de nomeação, sem a oferta de categoria ou instrução. O estudo permitiu elucidar, decisivamente, a controvérsia sobre a necessidade da experiência visual ou mediação visual no reconhecimento háptico de desenhos, revelando, incontestavelmente, a capacidade de os cegos reconhecer desenhos pelo tato, desde que lhes sejam oferecidos treino e instrução adequados. Sugere-se que se ensine a pessoa portadora de limitação visual a reconhecer e fazer desenhos o mais cedo possível, adaptando-se-lhes materiais e técnicas especiais a sua idade e grau de limitação visual.

The present work investigated the effect of training congenitally blind people at recognizing raised-line drawings by touch. It has been argued that vision mediation is necessary for making sense of two-dimensional pictures by the haptic system, and that congenitally blind individuals show a poor performance, when attempting picture recognition, because they have had no visual experience. On the other hand, it is claimed that the low performance of some blind people at naming planar configurations is due to a lack of experience with picture recognition. Eight totally blind individuals served as observers in a haptically recognition task, both, before and after being trained at naming 33 two-dimensional raised-line drawings. Statistical analysis showed a significant effect of training with planar configurations. Visual mediation was proved not necessary for picture recognition, since blind individuals had a cogent development at naming pictures, examined by touch. The high performance of the congenitally blind individuals at naming two-dimensional drawings suggests that these people should be taught picture recognition and picture making the earliest possible, taking to account their age and school background.