No campo da adoção são comuns preocupações quanto ao processo de estabelecimento dos vínculos entre criança-família adotiva. Pesquisas nesta área, geralmente respaldadas na Teoria do Apego, acabam focando a relação mãe-bebê e os padrões de apego estabelecidos. O presente trabalho objetivou compreender a construção das relações afetivas entre o bebê e sua família adotiva, investigando, ao longo do tempo, as configurações da trama relacional no contexto familiar, focando os campos interativos estabelecidos entre o bebê e as pessoas presentes no seu contexto e a pluralidade de sentidos de relação afetiva e de adoção, construídos no aqui-agora das situações, suas alterações e mudanças. Para tal, foi acompanhado, durante 12 meses, um bebê, em situação de guarda provisória, em sua família adotiva (sem filhos anteriores) e outros adultos presentes no contexto. Inicialmente, os pais foram entrevistados através de um roteiro semi-estruturado, abordando dados de identificação, questões relativas a sua história de vida e expectativas frente ao bebê. Após o primeiro mês de chegada do bebê e no 12° mês, os pais e os adultos presentes foram entrevistados abordando suas relações com o bebê. Foram feitas gravações em vídeo, com 30 minutos de duração, de diferentes situações interativas entre bebê-adultos. No primeiro mês, as gravações foram semanais; no segundo, quinzenais, passando a mensais após o terceiro mês. Utilizou-se notas de campo para redação das impressões do pesquisador e informações sobre as visitas, além de um diário escrito pela mãe adotiva. A análise dos dados baseou-se na perspectiva teórico-metodológica da Rede de Significações (RedSig), em elaboração pelo CINDEDI, em interlocução com o referencial de produção de sentidos a partir das práticas discursivas. Focou-se a multidirecionalidade das relações entre o bebê e os adultos, os campos interativos em que se configuravam os papéis/contra-papéis e/ou posicionamentos assumidos e atribuídos entre o bebê e os pais e outras pessoas próximas e a construção de diversos sentidos de relações afetivas e de adoção, situadas em um contexto sócio-cultural. O contato com o material evidenciou: período de espera e desenvolvimento do vínculo mãe-bebê imaginário, recusa do pai em criar um filho imaginário e movimento de aproximação e afastamento de ambos no encontro com o bebê real; busca dos pais por uma familiaridade com a criança através de traços físicos e comportamentais, aspectos culturais, como questões de gênero e amor materno naturalizado, e pessoais influindo nas posições assumidas e atribuídas a cada pessoa na relação com o bebê e nos sentidos construídos no aqui-agora das situações. Construção de discursos de parcerias preferidas e preteridas pelo bebê, sendo a mãe inicialmente estabelecida como figura preferencial do bebê e posteriormente o pai, que enfatizou o sentido do afeto construído na relação. Momentos de afastamento entre o bebê e sua tia sob o ponto de vista desta e dos demais e afinidade com a babá. Posicionamento da família como adotiva na relação com a família extensa, amigos e pessoas no geral, necessidade de ocultar a adoção, em alguns momentos, bem como dificuldades em lidar com a existência da família biológica do bebê e o temor de perdê-lo para esta. As posições assumidas e atribuídas a cada pessoa, na trama relacional familiar, influenciaram seus posicionamentos no aqui-agora com o bebê. O uso da RedSig possibilitou vislumbrar: a relação afetiva enquanto uma construção influenciada pelas habilidades e competências do bebê que, dentro da trama relacional familiar, atravessada pela matriz sócio-histórica, constituem os lugares e as pessoas que os ocupam; a fluidez e o dinamismo das relações, compreendidas como um processo de construção permanente entre as pessoas em interação, possibilitando o desenvolvimento de várias relações afetivas, cuja força varia conforme os momentos interativos; a tentativa de negociação do lugar de adotivo atribuído à família na relação com o outro. Tal panorama reflete o quão dinâmico e conflitivo é o processo de inserção do bebê na família adotiva, remetendo à importância de maiores discussões sobre o tema e um acompanhamento mais próximo a estas famílias.

In the adoption field, there are common worries about the bond establishment process between the adoptive child and family. Researches in this area generally based on the Attachment Theory, focus on the mother-baby relationship and the established attachment pattems. The present work aims to understand the affectionate relationships constructions between the baby and his adoptive family, investigating, along the time, relational plot configurations in the family context. It focuses the established interactive fields between the baby and the present people in his context. It also focuses the plurality of affectionate relationship and adoption meanings, which were built in here and now situations, with their changing and moving. We had followed a baby with his adoptive family, and other adults that were present in that context for 12 months, in a situation of provisional foster care. The adoptive family didn't have any children before that. The study began interviewing the parents through a semi-structured list of topics, approaching identification data, life history and expectations about the baby. Parents and present adults were interviewed about their relationship with the baby in different moments: after the first month of the baby's arrival, and on the twelfth month. Video records of 30 minutes long were produced with different interactive situations among the baby and adults. On the first month the records were weekly, on the second month, fortnightly, getting to monthly after the third month. There were taken field notes for a researcher perception writing, and visit information. Besides that, it was used a diary written by the adoptive mother. The data analysis was based on the perspective of theoretical methodological of network meaning, that is being elaborated by CINDEDI. It was used in interlocution with meanings production referential from the discursive practices. The multidirectional relationship between the baby and the adults were focused. There were taken in consideration the interactive fields with the roles/anti-roles and/or the assumed and attributed taken positions among the baby, the parents and close people. There were also considered as important the construction of affectionate and adoptive relationships in many meanings, which were situated in a socio-cultural context. There were some evidences in the contact with the material: a waiting and developing bond period between the mother and the imaginary baby; the father's refusal of raising an imaginary child, and the child and father movement of getting close and turning away when in contact with the real baby; the search for a familiarity with the baby through physical and behavioral traits; cultural aspects as gender matters and naturalized maternal love; personal aspects that were influencing the assumed and attributed positions of each person in the relationship with the baby through here and now constructed meanings from situations. There were made some speech constructions about the preferred and despised partnership for the baby. In the beginning the mother was the one who was preferred by the baby. Later on the father had this position, who emphasized the constructed affectionate meaning in the relationship. Remoteness moments between the baby and the aunt were noticed by herself and others. It was also noticed how the baby sitter was in tune with the baby. The assumed position of the adoptive family with the extensive family, friends, and other people; the necessity of hiding the adoption in some moments, as well the difficulties in dealing with the biological baby's family existence, and the fear of losing the baby for them. The assumed and attributed position by each person in the family relationship plot influenced their here and now relationship with the baby. The use of RedSig made it possible to realize: the affectionate relationship while a construction influenced by the baby's abilities and competences, in a family relational plot that is intersected by the social-historical matrix, constituted the position of places and people; the fluidity and dynamism of the relationships, understood as a permanent construction process among the people in interaction, made the development of many relationships possible, in which their strength would vary according to the Interactive moments; the negotiation attempt of the adoptive place attributed to the family in relationship with the other. Such view reflects how dynamic and conflictive the insertion baby process is in the adoptive family. It sends to the importance of larger discussions about the theme and a closer accompaniment with these families.