A utilização de biopesticidas têm crescido mundialmente como estratégia efetiva e ecologicamente sustentável para o manejo de pragas agrícolas, o que por sua vez aumenta a necessidade de investigar potenciais efeitos prejudiciais em organismos não-alvo. O efeito de formulações comerciais à base de fungos entomopatogênicos em abelhas sociais, principais polinizadores em diferentes culturas, ainda é pouco conhecido. Nós utilizamos exposição controlada, análises químicas (cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas) e ensaios comportamentais (apresentação de iscas na entrada da colônia) para avaliar o impacto de um micoinseticida (Boveril® ) na sobrevivência, perfil químico e reconhecimento social em operárias de uma abelha nativa brasileira (Scaptotrigona aff. depilis). A exposição tópica ao micoinseticidas causou mortalidade quando aplicado no tórax (TL50 = 30 min) e abdômen (TL50 = 24 h). Além disso, afetou o perfil químico 12 h após a exposição, aumentando a proporção relativa de três alcanos lineares e um alcano metilado. Finalmente, afetou o reconhecimento social, de forma que coespecíficas expostas (companheiras de ninho ou forasteiras) receberam menor tempo de agressão de guardas na entrada da colônia. Nossos resultados sugerem que Boveril® é prejudicial para S. aff. depilis, causando mortalidade em abelhas diretamente expostas. Além disso, a menor agressão recebida por coespecíficos expostos pode aumentar a probabilidade de transmissão de patógenos para a colônia. Portanto, a exposição dessas abelhas à este micoinseticida deve ser limitada.