Introdução: Os terapeutas ocupacionais que atuam com pessoas com deficiência em sua prática estão envolvidos com a dispensação de dispositivos de tecnologia assistiva e estudam como esses recursos podem melhorar a independência, a autonomia e a participação social. No entanto, esses profissionais enfrentam problemas desafiadores relacionados ao acesso, usabilidade e ao possível abandono dessas tecnologias. O abandono de um equipamento auxiliar, na maioria das vezes tem uma repercussão ruim tanto para o sujeito como para o serviço que disponibiliza o recurso, significando que as necessidades do usuário continuam a ser insatisfeitas e que sua autonomia e qualidade de vida podem estar comprometidas. Objetivo: Analisar as relações entre o processo de indicação, adaptação, orientação, satisfação, usabilidade e eventual abandono de cadeiras de rodas em um hospital de alta complexidade. Métodos: Estudo observacional descritivo transversal realizado no serviço de terapia ocupacional do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com indivíduos usuários da clínica de prescrição de cadeiras de rodas que foram atendidos dos anos de 2013 a 2017. Foi utilizado um instrumento de coleta de dados composto por questões fechadas e abertas além da versão brasileira do instrumento QUEST. Resultados: Foram entrevistados 110 usuários, 57 (51,8%) do sexo feminino e 53 (48,2%) do sexo masculino. Vinte usuários (18,2%) responderam a entrevista por si mesmos e 90 (81,8%) responderam com ajuda de um cuidador. O diagnóstico mais prevalente foi a paralisia cerebral (61,8%) e 81,8% dos usuários moram na cidade de São Paulo. A maioria (82,7%) demorou entre 1 ano e 1 mês a 2 anos para receber sua cadeira, tendo feito de 3 a 4 visitas (87,3%) ao serviço e considerou a quantidade de visitas adequada (87,3%). Setenta e seis usuários (69,1%) classificaram o atendimento recebido como bom (69,1%). O maior índice de baixa satisfação foi relacionado ao peso da cadeira, com 39,1% e o maior índice de alta satisfação foi em relação a qualidade dos serviços profissionais, com 97,3%. Em relação a usabilidade da cadeira de rodas, 59,1% dos usuários responderam que usam a cadeira, 10,9% usam parcialmente e 30,0% responderam que não usam. O motivo mais frequente de abandono foi a substituição do dispositivo por um melhor. Conclusões: A investigação proposta produziu evidências que irão contribuir para a prática clínica dos profissionais que estão envolvidos na prescrição e dispensação de cadeiras de rodas e sistemas de adequação postural. Embora a maioria dos participantes da nossa amostra estivessem satisfeitos com as características de seu equipamento e do serviço de dispensação, pode-se observar a falta de importantes diretrizes no processo de concessão. A elaboração de um protocolo de avaliação, prescrição e dispensação baseado em modelos teóricos de tecnologia assistiva é um passo importante para a atenção às demandas e necessidades dos usuários e garantia de que o investimento dos serviços seja efetivo

Introduction: Occupational therapists that work with people with disabilities in their practice are involved with the provision of assistive technology devices and study how these resources can improve independence, autonomy and social participation. However, these professionals face challenging issues related to the access, usability and possible abandonment of these technologies. The abandonment of an auxiliary equipment, in most cases, has a negative impact for the individual and the service that makes the resource available, meaning that the user's needs continue to be unsatisfied and that their autonomy and quality of life may be compromised. Objective: To analyze the relationships between the process of indication, adaptation, guidance, satisfaction, usability and eventual abandonment of wheelchairs in a high complexity hospital. Methods: Cross-sectional descriptive observational study carried out at the occupational therapy service of the Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo with users of the wheelchair prescription clinic that were attended from 2013 to 2017. A data collection instrument composed of closed and open questions was used, in addition to the Brazilian version of the QUEST instrument. Results: 110 users were interviewed, 57 (51.8%) female and 53 (48.2%) male. Twenty users (18.2%) answered the interview by themselves and 90 (81.8%) answered with the help of a caregiver. The most prevalent diagnosis was cerebral palsy (61.8%) and 81.8% of users that live in São Paulo city. The majority (82.7%) receive their wheelchair between 1 year and 1 month to 2 years, having made 3 to 4 visits (87.3%) to the service and considered the number of visits adequate (87.3%). Seventy-six users (69.1%) classified the service received as good (69.1%). The highest rate of low satisfaction was related to the weight of the wheelchair, with 39.1% and the highest rate of high satisfaction was related to the quality of professional services, with 97.3%. Regarding the usability of the wheelchair, 59.1% of the users answered that they use the wheelchair, 10.9% partially and 30.0% answered that they do not use. The most frequent reason for abandonment was replacing the device to a better one. Conclusions: The proposed investigation produced evidence that will contribute to the clinical practice of professionals that are involved in the prescription and dispensing of wheelchairs and postural support devices. Although most participants in our sample were satisfied with the features of their equipment and dispensing service, important guidelines to the delivery process are missing. The elaboration of an assessment, prescription and dispensing protocol based on assistive technology theoretical models is an important step towards paying attention to the demands and needs of users and guaranteeing that the investment of the services will be effective|