INTRODUÇÃO: A empatia está presente nas relações e é considerada um atributo importante no contexto do cuidado em saúde e profissionalismo, todavia, há ainda diversos fatores que podem influenciar no desenvolvimento da empatia do estudante. O docente é parte fundamental no processo de formação profissional e pode influenciar o aluno positiva e negativamente, como role model, através do currículo oculto, transmitindo a cultura médica o habitus médico, valores, ideias e ações comuns à profissão. OBJETIVO: Este estudo pretende analisar a empatia dos docentes e discentes do curso de graduação em Medicina de uma universidade particular do estado do Espírito Santo. MÉTODOS: Este estudo é de caráter observacional, transversal e misto (quantitativo e qualitativo), realizado com alunos do primeiro, terceiro e quinto anos, e docentes do curso de graduação em Medicina. Na primeira fase foram coletados dados através de questionários sociodemográficos e de auto-avaliação da empatia (Jefferson Scale of Empathy S e HP) e Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal de Davis (EMRI-DAVIS). Na segunda fase foi utilizado um questionário semi-estruturado, com perguntas fechadas e abertas, sobre a definição de empatia, o quanto se considerava empático e como o docente poderia influenciar positivamente e negativamente na empatia do aluno. Foi realizada análise de conteúdo temática para a parte qualitativa. RESULTADOS: Oitenta e sete (87) docentes (média = 47,11 [30-70] anos; 62,06% mulheres) e 333 discentes (média = 22,14 [18-40] anos; 68,77% mulheres) participaram do estudo. A maioria dos docentes e discentes se considerava católica (64,36%; 48,95%), auto declarava de cor branca (82,76%; 72,37%) e possuía renda acima de R$ 9.374,01 (91,95%; 57,35%). Os docentes e discentes apresentaram escores elevados de empatia na escala de Jefferson (124,61 10,33 vs 121,17 10,76), e diferença significativa nesta escala, p<0.01, e nas subescalas Tomada de Perspectiva (28,05 ±4,33 vs 26,21±4,24; p<0.001) e Angústia Pessoal (17,62±4,48 vs 19,37±4,78; p<0.01). Os discentes que pretendem seguir especialidades orientadas para o paciente e aqueles que estão no terceiro ano possuem escores mais elevados de Angústia Pessoal quando comparados àqueles que pretendem seguir especialidades orientadas para tecnologia e aqueles que estão no primeiro ano de graduação, respectivamente. O mesmo se observou na análise das especialidades dos docentes. Encontrou-se correlação entre os escores de empatia e a crença na influência do professor sobre a empatia do aluno, mostrando que, quanto mais o aluno e o docente acreditam na influência do docente, maiores são os seus escores de empatia. Identificamos que os docentes e discentes associam a empatia a sentimentos de compaixão e como característica inata, como uma personalidade. Os docentes e discentes reconhecem no professor o papel de modelo na formação profissional, nos cenários de prática e nos momentos de observação de ações cotidianas dentro da instituição. Porém, este papel ultrapassa a prática médica, tornando-se presente também na relação docente-discente, durante o processo de socialização do aluno, quando há acolhimento, escuta ativa e afeto, através do currículo oculto. As práticas pedagógicas também influenciam a empatia dos alunos, sendo necessário que o docente esteja atento ao planejamento de suas aulas, à pontualidade, ao uso do feedback e a um ambiente educacional que favoreça o aprendizado coletivo, com mediação e diálogo. CONCLUSÃO: A empatia do aluno se relaciona com a formação profissional ao longo da graduação, no processo de socialização. As relações estabelecidas entre docentes e discentes são fundamentais para a manutenção do habitus médico, como uma comunidade de prática, onde o docente exerce o papel de modelo daquilo que o estudante pretende ser como profissional. Esta influência se dá principalmente através do currículo oculto. Assim, o agir empático do docente, com diálogo, escuta, preparo acolhimento, se mostra essencial para que o aluno seja influenciado positivamente na sua formação como médico

INTRODUCTION: Empathy is present in relationships and considered an important attribute in the context of health care and professionalism, however, there are still several factors that can influence the development of student empathy. Teacher is a fundamental part of the professional training process and can influence the student positively and negatively, as role model, through the hidden curriculum, transmitting the medical culture - the medical habitus, values, ideas and actions common to the profession. OBJECTIVE: This study aims to analyze the empathy of teachers and students of the undergraduate medical course at a private university in the state of Espírito Santo. METHODS: This study is observational, cross-sectional and mixed-method model (quantitative and qualitative), with undergraduate students of the first, third and fifth years, and teachers of the Medicine course. In the first phase, data were collected through sociodemographic and empathy self-assessment questionnaires (Jefferson Scale of Empathy S and HP) and Interpersonal Activity Index (IRI-DAVIS). In the second phase, a semi-structured questionnaire was used, with closed and open questions, about the definition of empathy, how empathic considered itself and how the teacher could positively and negatively influence the student's empathy. Thematic content analysis was performed for the qualitative part. RESULTS: Eighty-seven (87) professors (average = 47.11 [30-70] years; 62.06% women) and 333 students (average = 22.14 [18-40] years; 68.77% women) participated in the study. Most teachers and students considered themselves Catholic (64.36%; 48.95%), self-declared white (82.76%; 72.37%) and had an income above R$ 9,374.01 (91, 95%; 57.35%). Teachers and students presented high empathy scores on the Jefferson scale of Empathy (124.61 10.33 vs 121.17 10.76), and a significant difference in this scale, p<0.01, and in the Perspective Taking subscales (28, 05 ±4.33 vs 26.21±4.24; p<0.001) and Personal Distress (17.62±4.48 vs 19.37±4.78; p<0.01). Students who intend to do an patient-oriented specialties and those who are in the third year have higher Personal Distress scores when compared to those who intend to do technology-oriented specialties and those who are in the first year of graduation, respectively. The same was observed in the analysis of the teachers' specialties. There was a correlation between the empathy scores and the belief in the teacher's influence on the student's empathy, showing that the more the student and the teacher believe in the teacher's influence, the higher are their empathy scores. We identified that teachers and students associate empathy with feelings of compassion and as an innate characteristic, as a personality. Teachers and students recognize in the teacher the role model in professional training, in practice scenarios and in observation moments of everyday actions within the institution. However, this situation goes beyond medical practice, becoming also present in the teacher-student relationship, during the student's socialization process, when there is reception, active listening and affection, through the hidden curriculum. Pedagogical practices also influence students' empathy, making it necessary for teachers to be attentive to the planning of their classes, punctuality, the use of feedback and an educational environment that favors collective learning, with mediation and dialogue. CONCLUSION: Student empathy is related to professional training throughout graduation, in the socialization process. The relationships established between teachers and students are fundamental for the maintenance of the medical habitus, as a community of practice, where the teacher become the role model of what the student intends to be as a professional. This influence is mainly through the hidden curriculum. Thus, the teacher's empathic action, with dialogue, listening, class preparation, is essential for the student to be positively influenced in his training as a doctor