INTRODUÇÃO: Os idosos, sendo mais predispostos ao acúmulo de doenças crônicas, são susceptíveis à dor persistente. Esse problema associa-se a prejuízos relevantes na saúde das pessoas, como alterações do humor, isolamento social, exacerbação de doenças crônicas e síndrome da fragilidade. A fragilidade caracteriza-se por diminuição na reserva funcional de múltiplos sistemas que torna os indivíduos vulneráveis a desfechos adversos, como incapacidade e morte. Embora haja interesse crescente na relação entre dor persistente e fragilidade, pelo potencial reversível dessas condições, poucos estudos investigaram essa associação com escalas para dor validadas em idosos. OBJETIVOS: Examinar a associação de dor persistente, sua intensidade e dimensões, com fragilidade em idosos ambulatoriais. MÉTODOS: Trata-se de uma análise transversal do Prospective GERiatric Observational Study (ProGERO) que investiga fatores associados a desfechos adversos em idosos ambulatoriais. Foram incluídos pacientes com idade 60 anos, sem comprometimento cognitivo, atendidos no Ambulatório do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Dor persistente foi definida como experiência dolorosa autorreferida na maior parte dos dias nos últimos três meses. Consideramos a intensidade da dor (leve, moderada, forte e muito forte) pela Escala de Descritores Verbais. Em uma subamostra representativa de idosos com dor persistente, avaliamos a multidimensionalidade da dor pela escala Geriatric Pain Measure (GPM). Os pacientes foram classificados como robusto (0), pré-frágil (1) e frágil (2-3) pelo índice do Study of Osteoporotic Fractures (SOF) que inclui perda de peso recente, autorrelato de exaustão e incapacidade para levantar da cadeira cinco vezes. Regressão logística foi utilizada para avaliar associação de dor persistente com fragilidade em modelos ajustados para dados sociodemográficos e multimorbidade. RESULTADOS: Amostra com 672 pacientes com idade média de 80,6 anos, sendo 71,6% mulheres. Dor persistente foi reportada por 340 (50,6%) pacientes, tendo como principais causas osteoartrite e síndrome do ombro doloroso. Em relação à fragilidade, 275 (40,9%) pacientes foram classificados como robustos, 240 (35,7%) como pré-frágeis e 157 (23,4%) como frágeis. A prevalência de dor persistente variou significativamente nas categorias de fragilidade (robusto = 41,1%; pré-frágeis = 52,1%; frágeis = 65,0%; p < 0,001). Mesmo após ajuste para dados sociodemográficos e multimorbidade, idosos com dor persistente associaram-se com o status frágil em comparação aqueles sem dor persistente (odds ratio [OR] = 2,1; intervalo de confiança [IC] de 95% = 1,4-3,1). Essa relação foi ainda mais evidente ao comparar pacientes com dor persistente forte ou muito forte com aqueles sem nenhuma dor (OR = 4,9; IC 95% = 2,4-8,9). A pontuação total da GPM também se associou de maneira significativa com fragilidade. Os domínios da GPM relacionados de maneira independente com status frágil foram dor à deambulação e dor em outras atividades. CONCLUSÕES: Em uma população de idosos ambulatoriais, metade dos pacientes reportou dor persistente. Essa queixa associou-se de maneira independente com a síndrome de fragilidade, sendo essa relação mais forte em pacientes com maior intensidade da dor. Futuros estudos devem investigar se a abordagem adequada da dor persistente pode reduzir o risco de fragilidade entre os idosos

INTRODUCTION: Older people are predisposed to present multiple chronic diseases, increasing the susceptibility to persistent pain. This condition is associated with worse health status, including mood disorders, social isolation, exacerbation of chronic illnesses, and frailty syndrome. Frailty is characterized by a decreased functional reserve in multiple systems making individuals vulnerable to adverse outcomes such as disability and death. While there is increasing interest in the relationship between persistent pain and frailty, due to the potential reversibility of both conditions, few studies have investigated this association using pain scales that are validated in older adults. OBJECTIVE: To examine the association between persistent pain, including its intensity and dimensions, and frailty in older outpatients. METHODS: A cross-sectional analysis of the Prospective GERiatric Observational Study (ProGERO) that estimates factors associated with adverse outcomes in older outpatients. We included patients aged 60 years, without cognitive impairment, followed at the geriatric clinics of the academic medical center at the University of Sao Paulo Medical School. Persistent pain was defined as a self-reported painful experience on most days during the last three months. We considered pain intensity (mild, moderate, severe, and very severe) according to the Verbal Descriptor Scale. We also assessed the multidimensionality of pain using the Geriatric Pain Measure (GPM) scale in a representative sub-sample of patients experiencing persistent pain. We used the Study of Osteoporotic Fractures (SOF) index, composed of recent weight loss, self-reported exhaustion, and inability to get up from chair five times, to classify patients as robust (0), pre-frail (1), and frail (2-3). We run logistic regression to assess the association between persistent pain and frailty in models adjusted for sociodemographic factors and multimorbidity. RESULTS: A sample comprising 672 patients with a mean age of 80.6 years, 71.6% women. Persistent pain was reported by 340 (50.6%) patients, having osteoarthritis and painful shoulder syndrome as the main causes. Concerning frailty, 275 (40.9%) patients were classified as robust, 240 (35.7%) as pre-frail, and 157 (23.4%) as frail. The prevalence of persistent pain varied significantly across frailty categories (robust = 41.1%; pre-frail = 52.1%; frail = 65.0%; p<0.001). Even after adjusting for sociodemographic factors and multimorbidity, older people experiencing persistent pain were associated with frail status compared to those without persistent pain (odds ratio [OR] = 2.1; 95% confidence interval [CI] = 1.4 -3.1). This relationship was even more robust when comparing patients reporting severe or very severe persistent pain with those without any pain (OR = 4.9; 95% CI = 2.4-8.9). The GPM total score was also significantly associated with frailty. Both GPM domains, pain while walking and pain when executing other activities, were independently associated to the frail status. CONCLUSIONS: In an older outpatient population, half of the patients reported experiencing persistent pain. This condition was independently associated with frailty syndrome, presenting a stronger relationship in patients reporting severe pain. Future studies should investigate whether an adequate treatment for persistent pain could reduce the risk of frailty in older people