Introdução: Os ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) ômega (n)-3 eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA) podem influenciar a resposta imunológica, com efeitos potencialmente anti-inflamatórios. A disponibilidade celular (principalmente leucocitária) de EPA e DHA é fundamental para que esses efeitos imunomoduladores ocorram. Em pacientes cirúrgicos sob terapia nutricional parenteral, a infusão de emulsão lipídica contendo óleo de peixe (ELOP), como fonte de EPA e DHA, pode atenuar efeitos adversos da resposta inflamatória pós-operatória, com melhora de marcadores imunológicos e desfechos clínicos. Entretanto, ausência de benefícios clínicos também é relatada e poderia se associar com tempo insuficiente de infusão de ELOP. Aceita-se que o tempo de infusão parenteral de ELOP seja o necessário para disponibilizar na célula EPA e DHA (cerca de 3 dias), mas este pode não ser suficiente para manter essa disponibilidade ativa durante toda a dinâmica da resposta imunológica pós-operatória. Nesse sentido, faltam diretrizes para orientar essa atuação na área de nutrição clínica. Objetivo: Para contribuir com o planejamento de protocolos em nutrição especializada, o presente estudo avaliou níveis plasmáticos, hepáticos e leucocitários de AGPIs, após diferentes períodos do término da infusão parenteral de ELOP em ratos Lewis submetidos à cateterização cirúrgica do sistema venoso central (CVC). Métodos: Após 5 dias de adaptação em gaiolas metabólicas, 78 ratos Lewis machos (300-450 g) alimentados com dieta oral padrão foram sacrificados (grupo CB; n = 6) ou submetidos apenas à CVC (grupo CC; n = 24) ou também à infusão parenteral (72 horas, 4,3g de gordura/kg de peso corpóreo) de emulsão controle sem óleo de peixe (grupo EC; n = 24) ou de ELOP (grupo OP; n = 24). Os animais submetidos à CVC foram sacrificados 0 (T0), 2 (T2), 6 (T6) e 12 (T12) horas após o período correspondente ao término da infusão de emulsões, de tal forma que cada grupo/tempo foi constituído por 6 animais. Cromatografia gasosa determinou a quantidade e porcentagem de EPA, DHA e ácido araquidônico (ARA) e razão n-3:n-6 no plasma, fígado e pools de leucócitos mononucleares e polimorfonucleares do sangue. Testes de Kruskal-Wallis e Wilcoxon analisaram os dados obtidos no plasma e fígado, enquanto os leucocitários foram tratados com análise descritiva. Resultados: Conforme observado no grupo CB, as amostras de plasma, fígado e leucócitos apresentaram ausência de EPA e DHA (exceto por baixa quantidade de EPA em leucócitos mononucleares) e quantidades mensuráveis (plasma e fígado) a altas (leucócitos) de ARA. Imediatamente após a infusão de ELOP (T0), a quantidade desses AGPIs mudou em todas as amostras estudadas, resultando em maior razão n-3:n-6, em comparação aos grupos sem infusão de ELOP (p < 0,05). Essas alterações permaneceram até T6 no plasma e T12 no fígado, mas a partir de T2 não houve mais EPA e DHA nos leucócitos, exceto por baixos níveis de EPA em células mononucleares. Em geral, os dados de porcentagem confirmaram esses achados. Conclusões: A infusão de ELOP aumentou a razão n-3:n-6 nas amostras estudadas, sugerindo fenótipo leucocitário menos inflamatório. Entretanto, tomando-se o fígado como referência, houve elevada taxa de utilização de EPA e DHA por leucócitos. A alta labilidade de AGPI n-3 em leucócitos sugere que a infusão de ELOP para fins imunomoduladores em cirurgia deva ser mantida durante toda a dinâmica da resposta imunológica pósoperatória, para favorecer benefícios clínicos

Introduction: The omega (n)-3 polyunsaturated fatty acids (PUFA) eicosapentaenoic (EPA) and docosaexaenoic (DHA) can influence the immune response, with potential anti-inflammatory effects. Cellular availability (mainly leukocyte) of EPA and DHA is critical for these immunomodulatory effects to occur. In surgical patients under parenteral nutritional therapy, the infusion of fish oil-containing lipid emulsions (FOLE) as a source of EPA and DHA can attenuate adverse effects of the postoperative inflammatory response, with Improvements on immunological markers and clinical outcomes. However, the absence of clinical benefits is also reported and may be associated with insufficient length of the FOLE infusion. It is accepted that the time of parenteral infusion of FOLE is that required to provide cellular availability of EPA and DHA (about 3 days), but this may not be sufficient to maintain this active availability throughout the entire dynamics of the postoperative immune response. In this sense, guidelines are lacking to guide this practice in the area of clinical nutrition. Objective: To contribute to the design of specialized nutrition protocols, the present study evaluated plasma, hepatic and leukocyte levels of PUFA after different periods of FOLE parenteral infusion in Lewis rats submitted to the surgical central venous catheterization (CVC). Methods: After 5-day adaptation in metabolic cages, 78 male Lewis rats (300-450 g) fed standard oral diets were sacrificed (group CB; n = 6) or submitted only to CVC (CC group; n = 24) or also to the parenteral infusion (72 hours, 4.3 g fat / kg body weight) of a control emulsion without fish oil (EC group; n = 24) or FOLE (FO group; n = 24). The animals submitted to CVC were sacrificed 0 (T0), 2 (T2), 6 (T6) and 12 (T12) hours after the emulsion infusion corresponding-period, so that each group / time had 6 animals. Gas chromatography determined the amount and percentage of EPA, DHA and arachidonic acid (ARA) and the n-3:n-6 ratio in plasma, liver, and in pools of blood mononuclear and polymorphonuclear leukocytes. Kruskal-Wallis and Wilcoxon tests analyzed the plasma and liver data, while the leukocyte data were treated by descriptive analysis. Results: As observed in the CB group, plasma, liver and leukocyte samples exhibited absence of EPA and DHA (except for low amount of EPA in mononuclear leukocytes) and measurable (plasma and liver) to high (leukocytes) amounts of ARA. Immediately after FOLE infusion (T0), the amount of these PUFAs changed in all samples studied, resulting in a higher n-3:n-6 ratio compared to non-FOLE infusion groups (p < 0.05). These changes remained until T6 in plasma and T12 in liver, but from T2 there were no more EPA and DHA in leukocytes, except for low levels of EPA in the mononuclear cells. In general, percentage data confirmed these findings. Conclusions: FOLE infusion increased the n-3:n-6 ratio in the studied samples, suggesting a less inflammatory leukocyte phenotype. However, taking the liver as reference, leukocytes highly used EPA and DHA. The high n-3 PUFA lability in leukocytes suggests that FOLE infusion for immunomodulatory purposes in surgery should be maintained throughout the dynamics of the postoperative immune response to favor clinical benefits