INTRODUÇÃO: Importantes transtornos mentais tais como esquizofrenia, depressão maior e transtorno bipolar são encontrados e nomeados na literatura como transtorno mental grave (TMG). Estes tipos mais incapacitantes de transtornos mentais tem uma evolução crônica e trazem grandes prejuízos a diferentes áreas da vida. A vida sexual deles pode ser afetada tanto pelas dificuldades sintomatológicas da doença e/ ou da incapacidade gerada por ela, ou mesmo pelo estigma sofrido contra a pessoa com transtorno mental ou ainda, devido ao uso de remédios psicotrópicos. É sabido as dificuldades desta população nas relações sociais, mas pouco se sabe sobre as relações do estigma e da adesão medicamentosa na vida afetivo-sexual, e vice-versa. OBJETIVOS: Realizar a validação de instrumentos (1) Questionário do Estigma Sexual da Doença Mental (MISS-Q); (2) Inventário da vida de relacionamentos familiares, afetivos e sexuais; e (3) Escala de Avaliação de Adesão à Medicação (MARS). Além, de analisar qualitativamente o MISS-Q e validar o constructo do Inventário da Vida de Relacionamentos Familiares, Afetivos e Sexuais. MÉTODO: Estudo observacional, metodológico de validação, realizado com 201 participantes, homens mulheres, com idade igual ou maior que 18 anos, alfabetizado, sem algum tipo de deficiência intelectual e diagnóstico de TMG ou compulsivos sexuais; ou ser profissionais de saúde mental. Como critério de exclusão, presença de alterações da consciência, agitação psicomotora e/ ou sintomas delirantes e/ ou alucinatórios que possa interferir no conteúdo das respostas naquele momento da entrevista; e/ ou apresentar histórico de convulsões, epilepsias, traumatismos cranianos encefálicos ou algum tumor cerebral e fazer uso de medicações não psicotrópicas que possam interferir no funcionamento sexual e a presença de comorbidades autorreferidas e dependência de álcool e/ ou drogas avaliadas pelo MINI. Todos os participantes estavam matriculados no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre junho de 2019 a novembro de 2022 e passaram por entrevistas diagnóstica e investigativa dos aspectos sociodemográficos e preencheram aos instrumentos: Inventário de Tarefas Rotineiras - Estendido, (RTI-E); Escala APGAR da Família; WHOQOL-Bref; Escala de Experiência Sexual do Arizona (ASEX); Escala de Estresse Percebido (PSS); Escala Breve Do Lidar (BriefCOPE); Escala de Autoestima de Rosemberg (EAR); e Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica Versão Ancorada (BPRS-A). RESULTADOS: Aprovada a análise qualitativa do MISS-Q após três tentativas. Validado o constructo do MISS-Q e do Inventário de Vida de Relacionamentos Familiares, Afetivos e Sexuais, com aprovação maior que 80% e mostrando-se claras, legíveis e sem palavras difíceis. A nova versão do MISS-Q apresentou melhores resultados que a versão original; possui 38 questões divididas em nove domínios, com carga fatorial entre 0,5285 e 0,9164 e coeficiente de alfa de Cronbach de 0,8795, boa. Na análise discriminante apresentou, em sua maioria, diferença entre os grupos de TMG e profissionais de saúde mental. Apresentou correlações fracas a moderada com os demais instrumentos. A MARS apresentou somente dois domínios, diferente da original com três. Carga fatorial entre 0,77 e 0,99 e coeficiente de Cronbach 0,9634, muito boa. Não apresentou diferenças entre os grupos e não apresentou correlação com nenhum instrumento. O Inventário da Vida de Relacionamentos Afetivos e Sexuais possui 51 questões divididas em 12 domínios, carga fatorial entre 0,4288 e 0,9629 e coeficiente de Cronbach de 0,784, razoável. De 12 domínios, três deles apresentaram-se iguais entre os três grupos, e um para somente para TMG e compulsivo sexual e outro para TMG e profissional de saúde mental. Apresentou correlações fracas a moderada com os demais instrumentos. CONCLUSÕES: No geral, identifica-se que a pessoas com maior nível de funcionalidade, menores níveis de disfunção sexual e menores sintomatologias da doença mental, terão uma vida de relacionamento afetivo e sexual mais frequente e segura e maior participação da família e da equipe de profissionais. Observa-se que os pacientes mais graves, apresentam menos oportunidades sexuais, mais comportamento de risco e menos crítica sobre o seu funcionamento. Além, da falta de comunicação com a equipe sobre a sua vida sexual. Foi possível concluir a validação do instrumento MISS-Q e Inventário da Vida de Relacionamentos Familiares, Afetivos e Sexuais. Será necessário refazer o estudo da MARS, comparando os dados da versão original com a traduzida para o Brasil, e os achados deste estudo

INTRODUCTION: Important mental disorders such as schizophrenia, major depression, and bipolar disorder are found and named in the literature as severe mental illness (SMI). These most disabling types of mental disorders have a chronic evolution and greatly damage different areas of life. Their sex life can be affected by the symptomatologic difficulties of the disease and/or the disability generated by it, or even by the stigma suffered against the person with a mental disorder or even due to the use of psychotropic drugs. The difficulties of this population in social relationships are well known, but little is known about the associations between stigma and medication adherence in affective-sexual life and vice versa. OBJECTIVES: Validate instruments (1) Mental Illness Sexual Stigma Questionnaire (MISS-Q); (2) Life inventory of family, affective and sexual relationships; and (3) Medication Adherence Rating Scale (MARS). In addition, to qualitatively analyze the MISS-Q and validate the construct of the LifeInventory of Family, Affective, and Sexual Relationships. METHOD: Observational, methodological, validation study, carried out with 201 participants, male and female, aged 18 years or older, literate, without any intellectual disability and diagnosis of SMI or sexual compulsives; or be mental health professionals. As exclusion criteria, the presence of alterations in consciousness, psychomotor agitation and/or delusional and/or hallucinatory symptoms that could interfere with the content of the responses at that time of the interview; and/or have a history of seizures, epilepsy, traumatic brain injury or a brain tumor and use non-psychotropic medications that may interfere with sexual functioning and the presence of self-reported comorbidities and dependence on alcohol and/or drugs assessed by MINI. All participants were enrolled at the Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, between June 2019 and November 2022 and underwent diagnostic and investigative interviews of sociodemographic aspects and completed the instruments: Inventory of Routine Tasks - Extended, (RTI-E); Family APGAR Scale; WHOQOL-Bref; Arizona Sexual Experience Scale (ASEX); Perceived Stress Scale (PSS); Brief Coping Scale (BriefCOPE); Rosemberg Self-Esteem Scale (EAR); and Brief Psychiatric Rating Scale Anchored Version (BPRS-A). RESULTS: Qualitative analysis of the MISS-Q passed after three attempts. The construct of the MISS-Q and the Life Inventory of Family, Affective, and Sexual Relationships was validated, with approval greater than 80%, and proving to be clear, legible, and without difficult words. The new version of MISS-Q showed better results than the original version; it has 38 questions divided into nine domains, with a factorial load between 0.5285 and 0.9164 and a Cronbach alpha coefficient of 0.8795, which is good. In the discriminant analysis, there was, for the most part, a difference between the SMI and mental health professionals groups. It presented weak to moderate correlations with the other instruments. MARS gave only two domains, different from the original with three. Factor loading between 0.77 and 0.99 and Cronbach coefficient 0.9634, very good. There were no differences between the groups and no correlation with any instrument. The Life Inventory of Affective and Sexual Relationships has 51 questions divided into 12 domains, with factor loading between 0.4288 and 0.9629 and a Cronbach coefficient of 0.784, which is reasonable. Of 12 domains, three were the same among the three groups, one for only SMI and sexual compulsiveness and another for SMI and mental health professionals. It presented weak to moderate correlations with the other instruments. CONCLUSIONS: In general, it is identified that people with a higher level of functionality, lower levels of sexual dysfunction, and lower symptoms of mental illness will have a more frequent and safer affective and sexual relationship life and greater participation of the family and the health care professionals. More severe patients have fewer sexual opportunities, more risky behavior, and less criticism of their functioning. In addition, the lack of communication with the team about their sex life. It was possible to complete the validation of the MISS-Q instrument and Life Inventory of Family, Affective, and Sexual Relationships. It will be necessary to redo the MARS study, comparing the data from the original version with the one translated into Brazil and the findings of this study