Introdução: A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) já foi demonstrada com um fator de risco para desenvolvimento de complicações no transplantado pulmonar, sobretudo da disfunção crônica do enxerto pulmonar (DCE), que representa a principal causa de mortalidade no período pós-operatório tardio. No entanto ainda faltam informações na literatura sobre os possíveis mecanismos mediadores da lesão do enxerto e padrões histomorfológicos correlacionados. O estudo desses padrões histológicos pode nos fornecer dados que identifiquem pacientes com diagnóstico de DRGE com risco elevado para o desenvolvimento de DCE. Objetivos: O objetivo principal desse estudo é descrever e comparar os achados histopatológicos encontrados nas biópsias de pacientes transplantados de pulmão, diferentes de rejeição celular aguda, de acordo com o diagnóstico da DRGE pelo exame de pHmetria esofágica de 24 horas. Métodos: Em uma coorte retrospectiva foram incluídos os pacientes submetidos a transplante pulmonar no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP no período de setembro de 2003 a agosto de 2018, que realizaram estudo funcional esofágico com pHmetria de 24 horas. Critérios de exclusão definidos como menos de 1 ano de sobrevida após a cirurgia ou dados insuficientes em prontuário. Variáveis demográficas, exames de função pulmonar, diagnóstico de rejeição celular aguda (RCA) e culturas de lavado broncoalveolar (LBA) foram coletados em prontuário. Todas as biópsias disponíveis no arquivo do serviço de Patologia da FMUSP foram revisadas para achados inflamatórios considerados inespecíficos diferentes de RCA. A frequência dos achados histológicos presentes nos grupos separados de acordo com a presença ou ausência de DRGE foram correlacionados com parâmetros clínicos, incluindo RCA, culturas de LBA, função pulmonar e diagnóstico de DCE. Para todas as análises estatísticas foi considerado significante valor de p < 0,05. Resultados: Foram realizados 281 transplantes no período, destes 42 apresentavam critérios de inclusão, e 2 foram excluídos por tempo de seguimento inferior a 1 ano pós-operatório. Do total de 40 pacientes, vinte e sete foram do grupo DRGE presente (casos) e 13 do grupo DRGE ausente (controles). Um total de 209 biópsias, sendo 143 em 23 casos e 66 em 11 controles, estavam disponíveis para análise. Achados inflamatórios sem etiologia específica foram observados em mais de 60% das lâminas revisadas em ambos os grupos. Edema de submucosa brônquica foi mais frequente nos pacientes com DRGE presente (p=0,044), enquanto erosão de mucosa brônquica nos controles (P=0,047). Culturas q G ( 0,017), e não houve diferença quanto a RCA ou DCE entre os grupos. Conclusão: Os resultados sugerem uma nova percepção diagnóstica da DRGE para acompanhamento dos pacientes transplantados, e trazem pela primeira vez uma avaliação histológica ampla com enfoque em possíveis alterações associadas à lesão do enxerto pela doença

Introduction: Gastroesophageal reflux disease (GERD) has already been shown to be a risk factor for the development of complications in lung transplant recipients, especially chronic lung allograft dysfunction (CLAD), which represents the main cause of mortality in the late postoperative period. However, there is still a lack of information in the literature about the possible mediating mechanisms of graft injury and correlated histomorphological patterns. The study of these histological patterns can provide us with data that identify patients diagnosed with GERD at high risk for the development of DCE. Objectives: The main objective of this study is to describe and compare the histopathological findings in the biopsies of lung transplant recipients, different from acute cellular rejection (ACR), according to the diagnosis of GERD by 24-hour esophageal pH monitoring. Methods: In a retrospective cohort, patients who underwent lung transplantation at the Instituto do Coração of Hospital das Clínicas da FMUSP from September 2003 to August 2018, who had an esophageal functional study with 24-hour pH monitoring, were included. Exclusion criteria defined as less than 1 year of survival after surgery or insufficient data in medical records. Demographic variables, pulmonary function tests, diagnosis of acute cellular rejection (ACR) and bronchoalveolar lavage (BAL) cultures were collected from medical records. All biopsies available in the FMUSP Pathology service file were reviewed for nonspecific inflammatory findings. The frequency of histological findings presented in the groups separated according to the presence or absence of GERD was correlated with clinical parameters, including ACR, BAL cultures, lung function, and CLAD diagnosis. For all statistical analyses, p < 0.05 was considered significant. Results: A total of 281 transplants were performed in the period, of which 42 met the inclusion criteria, and 2 were excluded for a follow-up period of less than 1 year after the procedure. Of the total of 40 patients, twenty-seven were from the GERD group present (cases) and 13 from the GERD group absent (controls). A total of 209 biopsies, 143 in 23 cases and 66 in 11 controls, were available for analysis. Inflammatory findings with no specific etiology were observed in more than 60% of slides reviewed in both groups. Bronchial submucosal edema was more frequent in patients with present GERD group (p=0.044), while bronchial mucosal erosion was more frequent in controls (P=0.047). Positive cultures in BAL were more frequent in the abse G (0.017), and there was no difference in ACR or CLAD between the groups. Conclusion: The results suggest a new diagnostic perception of GERD for the follow-up of transplanted patients, and for the first time bring a broad histological evaluation with a focus on possible changes associated with graft damage caused by the disease