A prevalência do tabagismo entre indivíduos da população psiquiátrica é significativamente alta comparada à população geral. Essa população é conhecida por apresentar tabagismo mais grave, maior dificuldade em parar de fumar e pior acesso ao tratamento para a cessação do tabaco. Além disso, pouco ainda se sabe sobre os preditores de sucesso e necessidades de adaptação do modelo de tratamento convencional do tabagismo para os contextos de saúde mental. Este estudo retrospectivo, de caráter naturalístico, buscou avaliar a resposta ao tratamento para a cessação de tabaco entre diferentes subgrupos de indivíduos com transtornos mentais. Foram incluídos 1.213 indivíduos que participaram do programa de tratamento para a cessação do tabaco oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) de São Caetano do Sul. A amostra foi distribuída em quatro grupos diagnósticos: (1) dependência de nicotina (DN) (n=713;58,8%); (2) dependência de nicotina com outro transtorno por uso de substâncias (TUS) (n=141;11,6%); (3) dependência de nicotina com outro transtorno mental não relacionado a outro transtorno por uso de substância (TM) (n=209;17,2%); e (4) dependência de nicotina com outro transtorno por uso de substâncias e outro transtorno mental (TUSM) (n=148;12,2%). Foram coletados dados sociodemográficos, clínicos e de padrão de consumo de cigarro. O tratamento teve a duração de seis semanas e foi composto por seis sessões de terapia cognitivo-comportamental (TCC) em grupo e quatro consultas médicas individuais com enfoque medicamentoso. Os desfechos abstinência pontual, de sete e de 28 dias, e abstinência prolongada, de 12 meses a partir do término do tratamento, foram investigados. Dados de gravidade do tabagismo e de conclusão do tratamento com êxito foram também avaliados como possíveis preditores de resposta. Foram utilizados os modelos de regressão logística e de regressão de Cox para as análises. Os resultados apontaram para índices de abstinência satisfatórios (45,4-62,5%, 20,9- 36,5%; e 14,9-22,4%, na abstinência de sete dias, de 28 dias e de 12 meses, respectivamente), sendo os índices mais baixos no grupo TUSM em todos os tempos avaliados. Com relação à abstinência prolongada, a gravidade do tabagismo foi identificada como principal fator preditor de maior risco de recaída na amostra estudada. Foi observado também que a subamostra que não concluiu o tratamento possuía mais participantes do grupo TUSM e maior intensidade do tabagismo, além de terem recebido menos medicação para auxiliar no processo de cessação e, entre aqueles que concluíram o tratamento com êxito, não foram observadas diferenças nos índices de abstinência entre os grupos diagnósticos. Conclui-se que a inserção do programa de cessação de tabaco oferecido em rotina de serviço do CAPS-AD favoreceu a redução da prevalência de tabagistas entre indivíduos com diferentes tipos de transtornos mentais. Mais atenção deve ser dada a tabagistas com maior número de diagnósticos, assim como aqueles com alto nível de dependência de nicotina. O investimento em estratégias que garantam a permanência de tabagistas da população psiquiátrica no tratamento, assim como a intensificação de intervenções medicamentosas e psicossociais, pode contribuir para o aumento das chances de sucesso de programas de tabagismo neste contexto

The prevalence of smoking among individuals in the psychiatric population is significantly high compared to the general population. This population is known to have more severe smoking, greater difficulty in quitting, and poorer access to treatment for tobacco cessation. In addition, little is known about the predictors of success and needs for adapting the conventional smoking treatment model to mental health contexts. This retrospective, naturalistic study sought to assess the response to tobacco cessation treatment among different subgroups of individuals with mental disorders. A total of 1,213 individuals who participated in the treatment program for tobacco cessation offered by the Psychosocial Care Center for Alcohol and Drugs (CAPS-AD) in São Caetano do Sul were included. The sample was divided into four diagnostic groups: (1) nicotine dependence (ND) (n=713;58.8%); (2) nicotine dependence with another substance use disorder (SUD) (n=141;11.6%); (3) nicotine dependence with another mental disorder unrelated to another substance use disorder (MD) (n=209;17.2%); and (4) nicotine dependence with another substance use disorder and another mental disorder (SUMD) (n=148;12.2%). Sociodemographic, clinical and tobacco consumption patterns data were collected. The treatment lasted six weeks and consisted of six sessions of group cognitive-behavioral therapy (CBT) and four individual medical consultations focused on pharmacological intervention. The outcomes 7-day and 28-day point-prevalence abstinence, and 12-month prolonged abstinence from the end of treatment were investigated. Data on smoking severity and successful treatment completion were also evaluated as possible predictors of response. Logistic regression and Cox regression models were used for the analyses. The results showed satisfactory abstinence rates (45.4- 62.5%, 20.9-36.5%; and 14.9-22.4%, for seven-day, 28-day and 12-month abstinence, respectively), with the lowest rates observed in the SUMD group at all times evaluated. Regarding prolonged abstinence, the severity of smoking was identified as the main predictor of higher risk of relapse in the sample. It was also observed that the subsample that did not complete the treatment had more participants in the SUMD group and greater intensity of smoking, in addition to having received less medication to aid in the cessation process and, among those who successfully completed the treatment, no differences in abstinence rates were observed between the diagnostic groups. The inclusion of the tobacco cessation program offered in the CAPS-AD service routine favored the reduction of the prevalence of smokers among individuals with different types of mental disorders. More attention should be given to smokers with a greater number of diagnoses, as well as those with a high level of nicotine dependence. Investment in strategies that guarantee the permanence of smokers with psychiatric disorders in treatment, as well as the intensification of pharmacological and psychosocial interventions, can increase the chances of success of smoking programs in this context