Um conceito pertinente na avalição do curso dos transtornos do humor, e muitas vezes ignorado pela psiquiatria, é o conceito de temperamentos afetivos. Emil Kraepelin descreveu os quatro elementos básicos (depressivo, maníaco, ciclotímico e irritável), os quais ele considerava formas subclínicas e possíveis precursores dos transtornos afetivos, e que tinham raízes na adolescência. O conceito de temperamento afetivo foi perdido no século XX com o crescimento das teorias psicanalíticas, onde o conceito de personalidade era visto sob a lente psicológica ao invés de biológica. Baseado neste contexto, os objetivos principais deste estudo foram identificar e comparar a frequência dos três principais tipos de temperamento (distimia, hipertimia, ciclotimia), além da associação dos diagnósticos e os três tipos de temperamento. O estudo foi realizado com pacientes idosos diagnosticados com transtorno afetivo bipolar (TAB) e depressão maior, e em pacientes Controles. Para isto foram avaliados 22 casos de transtorno afetivo bipolar, 50 casos de depressão maior e 100 pacientes controles. Para este estudo foram usados os seguintes instrumentos de avaliação clínica: Mini Exame do Estado Mental, HAMD17, Hamilton para ansiedade, YMRS e TEMPS-A. Os pacientes do grupo com TAB apresentaram a maior incidência de hipertimia (59,1%), os pacientes com depressão maior apresentaram uma incidência maior também de hipertimia (48%). Em relação a análise de associação entre TAB e depressão maior e os três principais temperamentos, a medida usada foi o risco relativo (RR). Pacientes distímicos tiveram uma chance aumentada para o diagnóstico de TAB (RR=3,6, 95% IC 1,1-12,4), os pacientes hipertímicos apresentaram um RR estatisticamente significante, mas protetivo. Já os pacientes com depressão maior apresentaram uma chance maior de diagnóstico entre os pacientes ciclotímicos (RR=3,2, 95% IC 1,7-6,0) e uma chance menor entre os pacientes hipertímicos (RR=0,6, 95% IC 0,4-0,8). Foram analisadas as relações de alguns desfechos secundários (tentativa de suicídio, abuso na infância, abuso sexual e automutilação). Pode-se concluir neste estudo que sujeitos com temperamento ciclotímico tem um risco maior de serem diagnosticados tanto com TAB quanto com depressão maior, quando comparados aos Controles. Entretanto, pacientes com temperamento hipertímico possuem um risco diminuído de apresentarem diagnóstico de depressão maior

A relevant concept in assessing the course of mood disorders, and often ignored by psychiatry, is the concept of affective temperaments. Emil Kraepelin described the four basic elements (depressive, manic, cyclothymic and irritable), which he considered subclinical forms and possible precursors of affective disorders, and which had their roots in adolescence. The concept of affective temperament was lost in the twentieth century with the growth of psychoanalytic theories, where the concept of personality was seen through a psychological rather than a biological concept. Based on this context, the main aims of this study were to identify and compare the frequency of the three main types of temperament (dysthymia, hyperthymia, cyclothymia), in addition to the association of diagnoses and the three types of temperament The study was conducted with older adults diagnosed with bipolar disorder (BD) and major depression, and in Control patients. For this, 22 cases of bipolar disorder, 50 cases of major depression and 100 control patients were evaluated. For this study, the following rating scales were used: Mini Mental State Examination, HAMD17, Hamilton Scale for anxiety, YMRS and TEMPS-A. Patients in the group with BD had the highest incidence of hyperthymia (59.1%), patients with major depression also had a higher incidence of hyperthymia (48%). Regarding the analysis of the association between BD and major depression and the three main temperaments, the measure used was the relative risk (RR). Dysthymic patients had an increased chance of diagnosing BD (RR = 3.6, 95% CI 1.1-12.4), hyperthymic patients had a statistically significant but protective RR. Patients with major depression had a greater chance of diagnosis among cyclothymic patients (RR = 3.2, 95% CI 1.7-6.0) and a lower chance among hyperthymic patients (RR = 0.6, 95% CI 0.4-0.8). The relationships of some secondary outcomes (suicide attempt, childhood abuse, sexual abuse and self-harm) were analyzed. It can be concluded in this study that subjects with cyclothymic temperament have a higher risk of being diagnosed with both BD and major depression, when compared to Controls. However, patients with hyperthymic temperament have a reduced risk of having a diagnosis of major depression