Introdução: características do trabalho podem afetar a saúde mental e trazer sérias consequências para os trabalhadores e instituições, com destaque para queda no rendimento e produtividade, ausências ao trabalho e prejuízo laboral. Estudos realizados em países de alta renda com professores do ensino superior investigaram, principalmente, qualidade de vida, ansiedade, estresse e satisfação com o trabalho. Pesquisas sobre depressão e burnout foram realizadas especialmente com professores dos ensinos fundamental e médio. Poucos estudos no Brasil investigaram quais fatores do contexto de trabalho podem ameaçar a saúde mental de docentes de universidades públicas. Objetivos: investigar as relações entre as características do contexto de trabalho e a saúde mental de professores universitários, compreendendo os significados e os aspectos implicados na determinação dessas relações. Método: foi realizado estudo de métodos mistos do tipo sequencial explanatório com docentes de uma universidade pública no estado de São Paulo. Na fase quantitativa foi realizado estudo transversal. Formulário online foi enviado para investigar características individuais e do trabalho, sintomas depressivos (Patient Health Questionnaire-9), esgotamento profissional (Maslach Burnout Inventory) e justiça organizacional (Escala de Percepção de Justiça Organizacional). As análises das associações foram realizadas por meio da regressão de Poisson com variância robusta. Na fase qualitativa foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 17 professores escolhidos na perspectiva de garantir a maior diversidade entre os participantes. O material foi transcrito e submetido à análise de conteúdo temático. Resultados: participaram da fase quantitativa 316 docentes. 18,3% dos participantes apresentaram provável depressão maior, 31% alta exaustão emocional, 5,4% alta despersonalização e 49,1% baixa realização pessoal. 26,3% apresentaram baixa justiça distributiva, 13,9% baixa justiça processual e 4,1% baixa justiça interacional. As variáveis associadas à provável depressão maior foram sexo, problemas prévios de saúde, área do curso, ter outro trabalho, tempo de deslocamento para o trabalho, categoria profissional e justiça processual. As dimensões de burnout apresentaram associações com sexo, idade, dedicação exclusiva à docência na instituição, tempo de deslocamento para o trabalho e categoria profissional. Baixa realização pessoal apresentou associação com as três dimensões da justiça organizacional. A análise da fase qualitativa ajudou a compreender que: (1) a percepção de injusto provimento, não reconhecimento do trabalho desenvolvido, ausência de estruturas adequadas para o trabalho somada à cobrança por desempenho e produtividade ajudaram a melhor compreender a associação entre baixa justiça distributiva e maior risco de baixa realização pessoal; (2) baixa justiça processual e maior chance de depressão e de baixa realização pessoal se articulam à falta de objetividade e resolutividade, excesso de discussões, desequilíbrio entre as representações de cada curso/unidade acadêmica, diferente peso nas votações entre as categorias profissionais, falta de representatividade, percepção de decisões tomadas previamente, a percepção de desigual peso atribuído às atividades docentes para progressão na carreira, falta de clareza e de fiscalização sobre os critérios da progressão e critérios percebidos como não condizentes a realidade de todos os cursos/campi e; (3) falta de informações sobre decisões tomadas, ausência de feedback, tomada de decisão nãoparticipativa e relacionamento conflituoso com o supervisor ajudaram a melhor compreender a associação entre baixa justiça interacional e baixa realização pessoal. Conclusão: os resultados da presente pesquisa têm implicações para o corpo docente e gestores das instituições de ensino superior. Políticas institucionais voltadas para a justiça organizacional podem ter impacto para melhorar a saúde mental do corpo docente e mitigar suas consequências

Introduction: work characteristics can affect mental health and cause serious consequences for workers and institutions, especially a decrease in performance and productivity, work absences, and work disabilities. Studies conducted in high-income countries with higher education teachers have predominantly investigated quality of life, anxiety, stress, and job satisfaction. Research on depression and burnout has been conducted especially with primary and secondary school teachers. In Brazil, few studies have investigated which work factors might be related to professors' mental health at public universities. Objectives: to investigate the relationship between work characteristics and faculties' mental health, understanding their perceptions about aspects related to these associations. Method: mixed-methods research, sequential explanatory type, was conducted with professors of a public university in São Paulo. For the quantitative phase, a cross-sectional study was carried out. An online questionnaire was used to assess individual characteristics, work characteristics, depressive symptoms (Patient Health Questionnaire-9), burnout (Maslach Burnout Inventory), as well as organizational justice (Organizational Justice Perception Scale). Analyses of association were performed using Poisson regression with robust variance. For the qualitative phase, semi-structured interviews were carried out with 17 professors chosen to ensure diversity among participants. The interviews were transcribed and then submitted to thematic analysis. Results: 316 teachers participated in the quantitative phase. 18.3% presented probable major depression, 31% high emotional exhaustion, 5.4% high depersonalization and 49.1% low personal accomplishment. 26.3% presented low distributive justice, 13.9% low procedural justice and 4.1% low interactional justice. Major depression has been associated with gender, pre-existing health problems, course area, having another job, commuting time, rank of professorship, and procedural justice. Burnout dimensions were associated with gender, age, exclusive dedication to teaching, commuting time, and rank of professorship. Reduced personal accomplishment has been found to be associated with all three dimensions of organizational justice. The qualitative analysis has helped to understand that: (1) unfairness salary, not being recognized for the work developed, insufficient structures for work added to the demand for performance and productivity helped to better understand the association between low distributive justice and the increased risk of reduced personal accomplishment; (2) low procedural justice and higher risk of depression and of low personal accomplishment were related to the lack of objectivity and problem-solving, excessive discussions, imbalance among representations of each course/academic unit, different importance in voting between professional categories, lack of representativeness, perception of decisions taken in anticipation, unequal importance attributed to teaching activities for career progression, lack of clarity and control over the progression criteria, and criteria perceived as not consistent with the reality of all courses/campi, and; (3) lack of information about decisions made, no feedback, non-participative decision making, and conflicted relationship with supervisor helped to better understand the association between low interactional justice and reduced personal achievement. Conclusion: the results of the present research have implications for faculty and management members of higher educational institutions. Institutional policies targeting organizational justice may cause an impact to improve faculty mental health and mitigate its consequences