Introdução: Apesar do conhecimento sobre os efeitos deletérios dos poluentes atmosféricos na mortalidade e morbidade por problemas respiratórios e cardiovasculares, pouco se sabe sobre a relação entre esses poluentes e as doenças neurológicas. Recentemente, alguns estudos têm demonstrado uma possível associação entre exposição a poluentes atmosféricos de origem urbana e comprometimento cognitivo. Partindo desse contexto, nossa hipótese é investigar se existe associação entre a exposição aos poluentes atmosféricos e o desempenho cognitivo em pessoas expostas à poluição do ar na cidade de São Paulo. Objetivos: Investigamos os possíveis efeitos da exposição à poluição atmosférica sobre o desempenho cognitivo em participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) na cidade de São Paulo. Metodologia: Analisamos informações sobre função cognitiva, por meio dos escores de três testes validados e padronizados para a população brasileira: o teste de palavras CERAD; o teste de fluência verbal; e o teste de trilhas. A avaliação da exposição aos poluentes atmosféricos foi feita indiretamente, utilizando-se a densidade de tráfego ponderada pela distância (DTPD) na residência, no trabalho e a combinada (residência/trabalho). Na análise, usamos modelos de regressão linear simples e ajustados para idade, sexo, etnia, escolaridade, tabagismo, depressão, uso de álcool, diabetes, LDL-colesterol, HDL-colesterol, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica e atividade física. Resultados: Entre os 5.061 participantes do ELSA-Brasil- São Paulo, foram incluídos 4.415 (média de idade = 51,4 ± 9,6 anos, 46% homens e 60% brancos). Nos modelos de regressão linear simples, os participantes do terceiro tercil de DTPD combinado (residência e trabalho) apresentaram melhor desempenho global, em memória e fluência verbal quando comparados aos participantes do primeiro tercil. Por outro lado, os participantes do terceiro tercil de DTPD apresentaram pior desempenho cognitivo no teste de trilha (TMT) quando comparados aos participantes do primeiro tercil (p < 0,0001). No entanto, a DTPD não foi associada ao desempenho cognitivo em modelos ajustados. Quando investigamos a associação do desempenho cognitivo com a DTPD perto do trabalho e da residência dos participantes separadamente, encontramos resultados semelhantes

Introduction: Despite knowledge about the deleterious effects of air pollutants on mortality and morbidity due to respiratory and cardiovascular problems, little is known about the relationship between these pollutants and neurological diseases. Recently, some studies have demonstrated a possible association between exposure to air pollutants of urban origin and cognitive impairment. Based on this context, our hypothesis is to investigate whether there is an association between exposure to air pollutants and cognitive performance in people exposed to air pollution in the city of São Paulo. Objectives: We investigated the possible effects of exposure to air pollution on cognitive performance in participants of the Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) in the city of São Paulo. Methodology: We analyzed information on cognitive function, through the scores of three validated and standardized tests for the Brazilian population: the CERAD word test; the verbal fluency test; and testing the trails. The assessment of exposure to air pollutants was made indirectly, using the distance-weighted traffic density (DTPD), at home, at work and combined (residence / work). In the analysis, we used simple linear regression models adjusted for age, sex, ethnicity, education, smoking, depression, alcohol use, diabetes, LDL-cholesterol, HDL-cholesterol, cardiovascular diseases, systemic arterial hypertension and physical activity. Results: Among the 5,061 participants at ELSA-Brasil-São Paulo, 4,415 were included (mean age = 51.4 ± 9.6 years, 46% men and 60% white). In the simple linear regression models, participants in the third tertile of combined DTPD (residence and work) showed better overall performance, in memory and verbal fluency when compared to participants in the first tertile. On the other hand, participants in the third tertile of DTPD showed worse cognitive performance in the trail test (TMT) when compared to participants in the first tertile (p < 0.0001). However, DTPD was not associated with cognitive performance in adjusted models. When we investigated the association of cognitive performance with DTPD near work and the participants' residence separately, we found similar results