Candidemia é definida pelo isolamento de espécies de Candida sp na corrente sanguínea. Os fatores de risco que predispõe um paciente a desenvolver essa infecção são encontrados principalmente em pacientes de maior gravidade. A espécie mais prevalente no Brasil e no mundo é C. albicans, seguido das principais não-albicans, como C. parapsilosis, C. tropicalis e C.glabrata. É uma infecção com elevada mortalidade, sendo que no Brasil esse valor tende a ser mais elevado do que em países desenvolvidos. O objetivo desse estudo é atualizar e avaliar as características clínicas e epidemiológicas, bem como os fatores de risco para mortalidade das infecções da corrente sanguínea por Candida sp no Instituto Central do HC-FMUSP, no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, sendo que este último ano foi caracterizado pela pandemia de COVID-19. É um estudo retrospectivo, baseado em análise de prontuário e os dados foram coletados em planilha do Excel. O desfecho principal é mortalidade em 30 dias. No período do estudo foram inicialmente incluídos 248 episódios de candidemia, com 78 excluídos, resultando em 170 episódios para análise. 58.2% ocorreram em indivíduos do sexo masculino e idade média 56 anos (4-86 anos). A mediana de tempo entre admissão e candidemia foi de 15 dias (0 a 387 dias). A densidade de incidência (DI) de candidemia por 1.000 admissões e por 1.000 pacientes-dia durante o período de estudo foi de 1.17 e 0.17, respectivamente. No ano de 2020, esses valores foram de 1.18/1000 admissões e 0.18/1000 pacientes-dia. Esses valores foram maiores do que os valores de 2017-2019. A comorbidade mais encontrada foi doença do trato gastrointestinal (41.7%), seguido de doença renal crônica (22.3%). Dentre os fatores de risco, o uso de cateter venoso central (CVC) foi o mais prevalente (93.5%), seguido de uso de antibiótico nos últimos 30 dias (91.1%). Uso de corticoide figurou em sétimo lugar (56.4%). Entre as espécies isoladas, C. albicans foi a mais comum, com 71 (41.7%) dos isolados, em segundo lugar C. tropicalis e C. glabrata, com 34 (20%) cada. Dos 170 pacientes, 118 foram submetidos a tratamento e a droga inicial mais utilizada foi uma equinocandina (60.1%), seguido de fluconazol (37%). Em relação ao dispositivo vascular, este foi retirado em 84.6% dos casos, com mediana de 2 dias entre candidemia e retirada. Ecocardiograma foi realizado em 70.3% dos casos com incidência de endocardite infecciosa de 6 (5.08%) casos. 68.6% dos pacientes foram submetidos a fundoscopia, resultando em 2 (2.4%) casos de endoftalmite. A mortalidade em 30 dias foi de 93 (54.7%). Os principais fatores de risco associados a mortalidade nessa casuística foram: idade (OR 1.03, IC 1.01 1.06), doença cardíaca (OR 7.51, IC 1.48 37.9), hemodiálise (OR 3.68, IC 1.28 10.57) e uso de corticoide (OR 2.83, IC 1.01 7.92). Os fatores associados a sobrevida foram: transplante (OR 0.16, IC 0.03 0.73), descalonamento para fluconazol (OR 0.84, IC 0.03 0.81) e o tempo maior entre candidemia e a retirada do cateter (OR 0.84, IC 0.73 0.96). Esse estudo trouxe um dado importante sobre o aumento do número de candidemias por C. glabrata (20%), o que tem grande relevância na prática clínica. Além disso, foi evidenciado que a pandemia de COVID-19 teve impacto no aumento da incidência de candidemia. A mortalidade ainda elevada ressalta a necessidade de melhores estratégias de manejo, controle de fatores de risco e garantia de tratamento adequado

Candidemia is defined by the isolation of Candida sp species in the bloodstream. The risk factors that predispose a patient to develop this infection are mainly found in more severe patients. The most prevalent species in Brazil and in the world is C. albicans, followed by the main non-albicans, such as C. parapsilosis, C. tropicalis and C. glabrata. It is an infection with high mortality, and in Brazil this value tends to be higher than in developed countries. The objective of this study is to update and evaluate the epidemiological characteristics, as well as the risk factors for mortality from bloodstream infections by Candida sp at the Central Institute of HC-FMUSP, from January 2016 to December 2020, the latter year being characterized by the COVID-19 pandemic. It is a retrospective study based on medical record analysis and the data were collected in Excel. The primary outcome is 30-day mortality. During the study period, 248 episodes of candidemia were initially included, with 78 excluded, resulting in 170 episodes for analysis. 58.2% occurred in males and mean age 56 years (4-86 years). The median time between admission and candidemia was 15 days (0 to 387 days). The incidence density (ID) of candidemia per 1000 admissions and per 1000 patient-days during the study period was 1.17 and 0.17, respectively. In the year 2020, these values were 1.18/1000 admissions and 0.18/1000 patient-days. These values were higher than the 2017-2019 values. The most common comorbidity was gastrointestinal tract disease (41.7%), followed by chronic kidney disease (22.3%). Among the risk factors, the use of a central venous catheter (CVC) was the most prevalent (93.5%), followed by the use of antibiotics in the last 30 days (91.1%). Corticosteroid use ranked seventh (56.4%). Among the isolated species, C. albicans was the most common, with 71 (41.7%) of the isolates, followed by C. tropicalis and C. glabrata, with 34 (20%) each. Of the 170 patients, 118 underwent treatment and the most commonly used initial drug was an echinocandin (60.1%), followed by fluconazole (37%). Regarding the vascular device, it was removed in 84.6% of the cases, with a median of 2 days between candidemia and removal. Echocardiography was performed in 70.3% of cases with an incidence of infective endocarditis in 6 (5.08%) cases. 68.6% of patients underwent fundoscopy, resulting in 2 (2.4%) cases of endophthalmitis. The 30-day mortality was 93 (54.7%). The main risk factors associated with mortality in this series were: age (OR 1.03, CI 1.01 1.06), heart disease (OR 7.51, CI 1.48 37.9), hemodialysis (OR 3.68, CI 1.28 10.57) and use of corticosteroids (OR 2.83, CI 1.01 7.92). Factors associated with survival were transplantation (OR 0.16, CI 0.03 0.73), de-escalation to fluconazole (OR 0.84, CI 0.03 0.81) and longer time between candidemia and catheter removal (OR 0.84, CI 0.73 0.96). This study provided important data on the increase in the number of candidemias caused by C. glabrata (20%), which is of great relevance in clinical practice. In addition, it was evidenced that the COVID-19 pandemic had an impact on the increased incidence of candidemia. The still high mortality highlights the need for better management strategies, control of risk factors and guarantee of adequate treatment