A presente tese se propõe a estudar as representações de crianças leitoras de Eva Furnari, autora e ilustradora de mais de 60 livros literários endereçados às crianças, a partir da análise de seu texto escrito, principalmente, e das ilustrações por ela criadas. Nessa leitura o ponto fundamental é a presença do humor e da fantasia em sua obra: por meio da criação de personagens e situações narrativas inusitadas, por vezes absurdas, identifica-se o questionamento de algumas convenções sociais, culturais e mesmo acadêmicas. Características como a mobilização da metalinguagem, e mesmo metaficcionalidade (SOUZA, E., 2021), permitem ao leitor o desvelamento do caráter de construção do texto literário, além de se constituírem como estratégias de diálogo brincante e aproximação com o leitor ao instigar sua participação textualmente. Esses são aspectos presentes em sua obra e que permitem a hipótese que sua representação de criança leitora contempla uma leitora ativa, capaz de crítica ao rir do inusitado no cotidiano e suas regras, e de compreender o mundo social em suas nuances. A pesquisa mobilizou como documentação de análise livros de Eva Furnari distribuídos em seis coleções publicadas atualmente pela editora Moderna. Para essa análise e interpretação foram importantes as contribuições teóricas de Chartier (1988: 1991; 2011), Freud (1996), Vigotski (2007; 2014), Bruner (1997), Eco (1994), López (2015) e Sant´Anna (2000). Nas produções de Furnari há uma ênfase no que Sant´Anna (2000) chamou de eixo parodístico: elas possuem elementos de subversão de determinada ordem em sua narrativa, de uma proposta de inversão de algumas convenções e pontos de vista predominantes. O humor em textos literários possibilita acessar o mundo da fantasia por um ponto de vista subversivo, de estranhamento à ordem estabelecida, e esse olhar permite que a criança vivencie e reelabore nesse plano opiniões, perspectivas e emoções que contribuam para seu desenvolvimento e compreensão do mundo social. Conclui-se que as escolhas literárias de Eva Furnari pressupõem uma criança ativa, crítica e imaginativa. Outra reflexão da tese, e uma de suas contribuições, é a afirmação da possibilidade de compreender a relação entre leitura e crianças leitoras a partir do jogo e da brincadeira articulando tais relações com as considerações dos estudos de Psicologia e com a potencialidade da imaginação e da narrativa literária para a educação das crianças.

This research focuses on the representation of child readers by Eva Furnari, the author and illustrator of more than 60 children's literary books, based on a review of the written texts and illustrations she created. This study highlights the existence of humor and fantasy in her work: through the creation of characters and unusual, sometimes even absurd, narrative situations, Furnari is able to question certain social, cultural, and even academic conventions. Characteristics such as the mobilisation of metalinguistics and even metafiction (SOUZA, E., 2021) allow readers to unveil the construction of literary texts and are strategies for playful dialogue and methods to grow closer to readers by instigating their textual participation. These are aspects of her work that allow for the hypothesis that her representation of the child reader is that of an active reader who can think critically about the unusual aspects of everyday life and its rules and understand the social world in its nuances. The study used Eva Furnari's books in six collections, currently published by Moderna, as the basis of its research. The theoretical contributions of Chartier (1988; 1991; 2011), Freud (1996), Vygotsky (2007; 2014), Bruner (1997), Eco (1994), López (2015), and Sant'Anna (2000) were crucial for this analysis and interpretation. In Furnari's productions, there is an emphasis on what Sant'Anna (2000) referred to as the parodical axis: they have elements of subversion within a certain order in the narration, which propose the reversal of certain conventions and dominant viewpoints. The humor of literary texts allows access to fantasy worlds from a subversive view, which is far from the established order, and this view allows children to experience and reinvent these levels of thought, view, and emotions, which contribute to their development and understanding of the social world. It is concluded that Eva Furnari's literary choices assume an active, critically thinking, and imaginative child. Another reflection from this work and one of its contributions is affirming that it is possible to understand the relationship between reading material and child readers from the vantage point of playfulness and games, and to highlight this relationship in terms of the possibilities of imagination and narrative literature to educate children from the perspective of psychological studies.