Esta pesquisa, de natureza qualitativa e cunho etnográfico, buscou compreender, a partir dos determinantes políticos e sociais que orientam a organização do trabalho dos professores, a resistência docente à participação comunitária na gestão da escola. O objetivo geral da pesquisa foi compreender por que os educadores, a despeito do discurso francamente favorável à participação comunitária na escola, eram, na prática, refratários a qualquer tipo de intervenção. A análise da estrutura organizativa, do processo de trabalho docente e das relações concretas entre professores e comunidade, em uma escola pública municipal da periferia da cidade de São Paulo, demonstrou que o controle sobre o processo de trabalho o conteúdo, o ritmo/volume e o local de trabalho era uma prioridade para os educadores. O controle sobre o processo de trabalho permitia que os professores preservassem sua qualidade de vida individual, compensando a falta de infraestrutura de trabalho, em detrimento das metas universais de cidadania e do direito à educação. Também possibilitava manter a ética artesanal do ofício e, ao mesmo tempo, preservar o status profissional. Para atingir seus objetivos, os professores isolavam a escola e negociavam com o Estado. Ao resistirem à perda de controle sobre o processo de trabalho, os professores contribuíam para tornar a escola impermeável à participação comunitária. Mas essa contribuição não era fruto da vontade autônoma dos professores, pois o que norteava suas ações eram seus interesses imediatos, como costuma acontecer com qualquer categoria profissional. Além disso, o desconhecimento da especificidade do trabalho pedagógico, por parte dos formuladores de políticas públicas em educação, contribuía para a reação corporativista do magistério, baseada na tradição associativa e no movimento sindical operário. Conclui-se que a intensificação do controle sobre o trabalho dos professores tende a afastá-los da comunidade. Assim, atender às necessidades imediatas dos professores e adequar a gestão do ensino às especificidades do trabalho pedagógico constitui um passo determinante para aproximar professores e comunidades, desfazendo os constrangimentos institucionais que impedem o estabelecimento de um diálogo construtivo entre essas duas instâncias de socialização infantil.

This qualitative and ethnographic research sought to understand, from the political and social determinants that guide the organization of teaching work, the resistance of teachers to community participation in school management. The general objective of the research was to understand why educators, despite the speech frankly favorable to the participation of the community in the school, were, in practice, refractory to any type of intervention. The analysis of the organizational structure, the teaching work process and the concrete relationships between teachers and the community, in a municipal public school on the outskirts of the city of São Paulo, showed that control over the work process - content, rhythm, volume and the workplace was a priority for educators. Controlling the work process allowed teachers to preserve their individual quality of life, compensating for the lack of work infrastructure, to the detriment of universal goals of citizenship and the right to education. It also made it possible to maintain the artisanal ethic of the craft and, at the same time, preserve professional status. To achieve their goals, teachers isolate the school and negotiate with the State. By resisting the loss of control over the work process, teachers contribute to making the school impervious to community participation. But this contribution was not the result of the teachers' autonomous will, as what guided their actions were their immediate interests, as is usually the case with any professional category. In addition, the lack of knowledge of the specificity of the pedagogical work, on the part of the formulators of public policies in education, contributed to the corporatist reaction of the teaching profession, based on the associative tradition and the union movement. It is concluded that the intensification of control over teachers' work tends to distance them from the community. Thus, meeting the immediate needs of teachers and adapting teaching management to the specifics of pedagogical work is a decisive step to bring teachers and communities together, undoing the institutional constraints that prevent the establishment of a constructive dialogue between these two instances of child socialization.