Este trabalho tem sua origem em um interesse, oriundo de uma experiência clínica, acerca de como a psicanálise poderia contribuir para a formação do professor. Nas últimas décadas, o tema da formação de professores tem ocupado um lugar de destaque nos debates educacionais, sendo motivo de preocupação e investimento dos governos de diversos países. A partir da análise de uma reportagem publicada em 2016 pela revista britânica, The Economist, a respeito da formação docente, sob o curioso título Como fazer um bom professor, procuramos traçar como a formação de professores vem sendo concebida pela discursividade hegemônica pedagógica: uma formação essencialmente técnica e instrumental delineada a partir de determinadas características que definiriam um professor ideal universal. Nessa concepção de formação observamos um esvaziamento da experiência formativa em prol da fabricação, no sentido arendtiano do termo, do Bom Professor. Não estaria essa discursividade hegemônica sobre a formação docente, em nome de fabricar o Bom Professor, silenciando o estilo próprio do professor? Que efeitos uma concepção de formação docente, regida predominantemente pela lógica da fabricação, teria sobre a transmissão e a implicação do professor no ato educativo? Essas foram as perguntas que nortearam esse trabalho. Diversos autores das ciências da educação vêm alertando para a problemática desta formação essencialmente técnica e instrumental, alertando que em um ofício que lida com o humano, como o educar e o analisar, além dos procedimentos e conhecimentos teóricos, é fundamental considerar o saber fazer e sua subjetividade do professor em sua formação. A preocupação com a subjetividade e o saber fazer do professor levam uma nova proposta para dentro do campo das teorias de formação docente: a formação do professor reflexivo. Procuramos, então nessa pesquisa, a partir da perspectiva psicanalítica, promover uma discussão a respeito dessas duas concepções de formação docente: de um lado a formação do Bom Professor e de outro lado, a proposta de formação do professor reflexivo, tal como defendida por Philippe Perrenoud. Conforme a psicanálise, há algo no acesso ao saber que se passa no laço social entre professor e aluno, algo do estilo do professor que lhe escapa e que é da ordem do inconsciente. A este estilo que se passa na relação transferencial, a psicanálise dá o nome de transmissão. O saber é resultado de uma operação do sujeito do inconsciente e trata da experiência do sujeito do desejo com o saber inconsciente. Assim, longe de pretender oferecer uma proposta ideal de formação, ou definir as características de um professor ideal, procuramos delimitar a démarche específica através da qual a psicanálise pode ter algum valor para o campo da formação dos professores. Cabe a ela recuperar na formação do professor a dimensão do sujeito do inconsciente e sua relação intrínseca com o saber.

This work has its origin in an interest, derived from a clinical experience, about how psychoanalysis could contribute to teacher training. In the last decades, the theme of teacher training has occupied a prominent place in educational debates, being a matter of concern and investment by the governments of several countries. From the analysis of a report published in 2016 by the British magazine, The Economist, about teacher training, under the curious title "How to make a good teacher", we seek to outline how teacher training has been conceived by hegemonic pedagogical discourse: an essentially technical and instrumental training outlined based on certain characteristics that would define a universal ideal teacher. In this conception of formation, we observe an emptying of the training experience in favor of manufacturing, in the Arendtian sense of the term, of the Good Teacher. Isn't this hegemonic discourse about teacher education, in the name of fabricating the Good Teacher, silencing the teachers own style? What effects would a conception of teacher training, oriented predominantly by the logic of manufacturing, have on the transmission and involvement of the teacher in the educational act? These were the questions that guided this work. Several authors of the educational sciences have been warning about the problem of this essentially technical and instrumental formation, warning that in a job that deals with the human, such as educating and analyzing, in addition to theoretical procedures and knowledge, it is essential to consider the know-how and his subjectivity of the teacher in his education. This concern take a new proposal into the field of theories of teacher education: the formation of the reflective teacher. We then sought in this research, from the psychoanalytic perspective, to promote a discussion about these two conceptions of teacher education: on the one hand the formation of the Good Teacher and on the other hand, the proposal for the formation of the reflective teacher, as defended by Philippe Perrenoud. According to psychoanalysis, there is something about access to knowledge that takes place in the social bond between teacher and student, something about the style of the teacher that escapes him and that is of the order of the unconscious. To this style that takes place in the transferential relationship, psychoanalysis gives the name of transmission. Knowledge is the result of an operation by the subject of the unconscious and deals with the subject's experience of desire with unconscious knowledge. Thus, far from intending to offer an ideal training proposal, or to define the characteristics of an ideal teacher, we seek to delimit the specific démarche through which psychoanalysis can have some value for the field of teacher training. Psychoanalysis recover in the teacher training the dimension of the subject of the unconscious and its intrinsic relationship with knowledge.