A presente pesquisa-ação buscou identificar as potencialidades da Educação Física cultural no trato das questões de gênero e sexualidade, de maneira a pensar a produção de cenas didáticas que permitam apostar em formas outras de estar no mundo e fabricar práticas corporais que sabotem o cis-tema heteronormativo. Epistemologicamente falando, promoveu-se o encontro entre os estudos feministas, a Teoria Queer e queer decolonial com intervenções pedagógicas culturalmente orientadas. Nesse emaranhado de reflexões, priorizou-se o encontro com os corpos-docentes e corpos-discentes, onde o chão da escola e as experiências ali vividas teceram a possibilidade de alianças. O trabalho de campo ocorreu no 2 semestre de 2019, em uma escola pública na região do Capão Redondo, Zona Sul da cidade de São Paulo, com uma turma de 5 ano com o professor responsável pelas aulas. Consistiu na tematização do basquete com olhar atento aos conflitos e disputas relacionadas às questões de gênero, tendo sido permeada por problematizações, aprofundamentos, ampliações e desconstruções, inspiradas nos construtos teóricos de Judith Butler, Paul Beatriz Preciado, dos estudos queer (decoloniais) e da Educação Física cultural. O currículo cultural mostrou-se potencialmente performativo (onde se faz uma vez e de novo, em um movimento no espaço público de repetição que difere e que permite a criação de novas zonas de reconhecimento e inteligibilidade) e prostético (onde, a partir do acoplamento de próteses contrassexuais, se tem a possibilidade de desmantelamento do cis-tema que se pretende natural, pois escancara o caráter ficcional e produzido dos corpos generificados). Identificamos o firmamento do contrato parodístico, que objetiva o comprometimento com os princípios ético-políticos do currículo cultural da Educação Física, como fundamental, pois é essa ação que mantém o corpo-docente em movimento constante, desnudando-se em sua precariedade e afirmando a necessidade das alianças para um fazer docente mais potente. Concluiu-se que o processo de descolonização do currículo precisa caminhar com o de descolonização do olhar da/o docente, para que esteja sensível às diferenças e possa entendê-las como condição de existência, abrindo-se ao incerto e às fagulhas criativas de como produzir próteses com potencial contrassexual. Por fim, inferiu-se, sempre no campo das apostas, que as próteses situações didáticas e princípios ético-políticos permitem alargar as possibilidades de tratar as questões de gênero nas aulas de Educação Física, de forma a tentar interromper a produção de corpos-generificados de maneira binária.

The present action-research sought to identify the potential of cultural Physical Education in dealing with gender and sexuality issues, in order to think about the production of didactic scenes that allow relying on other ways of being in the world and constructing body practices that disrupt the cis-heteronormative theme. Epistemologically speaking, the meeting between feminist studies, Queer Theory and decolonial queer was promoted through culturally oriented pedagogical interventions. In this tangle of reflections, the meeting with teacher-bodies and students-bodies was prioritized, where the school floor and the experiences lived there wove the possibility of alliances. The fieldwork took place in the 2nd semester of 2019 in a public school in the region of Capão Redondo, located in the south of São Paulo, with students from 5th grade and the teacher responsible for the classes. It consisted of the thematization of basketball with an attentive look at conflicts and disputes related to gender issues, having been permeated by problematizations, deepenings, expansions and deconstructions, inspired by the theoretical constructs of Judith Butler, Paul Beatriz Preciado, queer (decolonial) studies and the Cultural Physical Education. The cultural curriculum proved to be potentially performative (where it is done once and again, in a movement in the public space of repetition that differs and allows the creation of new zones of recognition and intelligibility) and prosthetic (where, from the coupling of countersexual prostheses, we have the possibilities of the dismantling of the cis-theme that is intended to be natural, as it opens up the fictional and produced character of gendered bodies). We identify the establishment of the parodistic contract, which aims at the commitment to the ethical-political principles of the cultural curriculum of Physical Education, as fundamental, because it keeps the body-teacher in constant movement, revealing its precariousness and affirming the need for alliances for a more powerful teaching. It was concluded that the process of decolonization of the curriculum needs to go hand in hand with the decolonization of the teacher's gaze, so that they are sensitive to differences and can understand these differences as a condition of existence, opening themselves to the uncertainty and creative sparks of how to produce prostheses with countersexual potential. Finally, it was inferred, always in the field of bets, that prostheses didactic situations and ethical-political principles allow expanding the possibilities of dealing with gender issues in Physical Education classes, in order to try to interrupt the production of gendered-bodies in a binary way.