No Brasil, a exploração aurífera esteve relacionada com processos de construção do espaço geográfico brasileiro, genocídio de povos indígenas e africanos e criação da identidade nacional. Nesta tese, estudamos o imaginário brasileiro sobre o ouro e buscamos identificar suas implicações educacionais, considerando a complexidade e as múltiplas dimensões do conhecimento científico. Para isso, inicialmente foi realizada uma pesquisa histórica inspirada na perspectiva decolonial, embasada nos referenciais teóricos da História Cultural das Ciências e da Teoria Antropológica do Imaginário. Analisamos alguns documentos, principalmente dos séculos XVIII e XIX, como as obras Erário Mineral (1735), de autoria de Luís Gomes Ferreira (1686-1764) e Pluto Brasiliensis (1833), de autoria de Wilhelm L. Von Eschwege (1777-1855), imagens produzidas por viajantes, assim como abordamos pesquisas históricas que estudaram vestígios arqueológicos da mineração do ouro. Para ilustrar aspectos desse imaginário na contemporaneidade, analisamos obras cinematográficas e literária dos séculos XX e XXI, identificando rupturas e permanências, como mitos repaginados e camuflados na cultura, ligados com estruturas de dominação. Analisamos os filmes Chico Rei (1985), Serra Pelada (2013), Serra Pelada: A lenda da Montanha de Ouro (2013), Chico Rei entre nós (2020), e a obra literária de Cecília Meireles (1901-1964) Romanceiro da Inconfidência (1953). Dentre os resultados da pesquisa, destacamos contribuições de conhecimentos africanos e indígenas na exploração aurífera; concepções metafísicas sobre elementos químicos relacionadas com concepções alquímicas que orientaram prospecções minerais no período colonial e que ainda permanecem no imaginário contemporâneo, influenciando o desenvolvimento de tecnologias; e o simbolismo do ouro, que propicia a valorização monetária do metal, o que, por sua vez, fomenta conflitos territoriais na atualidade, como os da região Amazônica. Esses resultados podem contribuir para discussões educacionais, tanto na formação de professores como na construção de currículos transdisciplinares, que valorizem uma educação humanista, decolonial e antirracista, principalmente nos âmbitos da Educação Científica e do Ensino de Química.

In Brazil, gold exploration was related to processes of construction of Brazilian geographic space, genocide of indigenous and African people and creation of national identity. In this thesis, we seek to study the Brazilian imaginary about gold and identify its educational implications, considering the complexity and multiple dimensions of scientific knowledge. To this end, historical research inspired by the decolonial perspective was initially carried out, based on the theoretical references of the Cultural History of Sciences and the Anthropological Theory of the Imaginary. We analyzed some documents, mainly from the 18th and 19th centuries, such as the works Erário Mineral (1735), authored by Luís Gomes Ferreira (1686- 1764) and Pluto Brasiliensis (1833), authored by Wilhelm L. Von Eschwege (1777-1855), images produced by travelers, as well as historical research that studied archaeological remains of gold mining. To illustrate aspects of this imaginary in contemporary times, we analyze cinematographic and literary works from the 20th and 21st centuries, identifying ruptures and continuities, such as myths revamped and camouflaged in culture, linked to structures of domination. We analyzed the films Chico Rei (1985), Serra Pelada (2013), Serra Pelada: A legend da Montanha de Ouro (2013), Chico Rei entre Nós (2020), and the literary work by Cecília Meireles (1901-1964) Romanceiro da Inconfidência (1953). Among the research results, we highlight contributions from African and indigenous knowledge in gold exploration; metaphysical conceptions about chemical elements related to alchemical conceptions that guided mineral prospecting in the colonial period and that still remain in the contemporary imagination, influencing the development of technologies; and the symbolism of gold, which promotes the monetary appreciation of the metal, which, in turn, encourages territorial conflicts today, such as those in the Amazon region. These results can contribute to educational discussions, both in teacher training and in the construction of transdisciplinary curricula, which value a humanist, decolonial and anti-racist education, mainly in the areas of Scientific Education and Chemistry Teaching.