A presente tese, mediante laboratórios cênicos criativos vivenciados na cidade de Pindamonhangaba-SP, com base no trabalho coletivo, apresenta uma poética, um caminho metodológico no campo do teatro e da educação que parte de elementos ancestrais e identitários, com atrizes e não atrizes negras do Vale do Paraíba paulista. O trabalho surgiu da necessidade de se aquilombar, percebendo que mesmo após seis décadas do Teatro Experimental do Negro (TEN), ainda são muitos os desafios que a população negra enfrenta no campo da produção e criação nas artes cênicas. A falta de abertura, aceitação e acolhimento de trabalhos afro-centrados em muitos circuitos teatrais contribui para a manutenção da invisibilidade da arte negra que historicamente foi produzida no Brasil e no mundo. Esta investigação propõe uma construção dramatúrgica e de encenação com base em narrativas de mulheres negras sobre a memória local, pessoal, espaços, saberes, modos de fazer, personalidades, celebrações e tradições, dialogando com as noções feminismo negro, identidade e corpo/corporalidade, trazidos para a cena. A Pedagogia teatral construída e aplicada ao longo do processo teve como base a perspectiva cultural crítica, trazendo elementos do método de Augusto Boal (Teatro do Oprimido), bem como, outras vertentes e inspirações, vinculando-se à construção de pedagogias baseadas na educação popular feminista. Na cena deste trabalho, foram mobilizados Pierre Bourdieu e Norbert Elias no campo da sociologia, na linguagem, Bakhtin e o Círculo. Na educação a base foi Henry Giroux e Paulo Freire. Stuart Hall e Frantz Fanon referenciam as noções de raça e identidade. Na discussão de gênero, com foco no feminismo negro, o diálogo é feito com bell hooks, Patrícia Hill Collins, Djamila Ribeiro, dentre outras. A contribuição deste trabalho se dá no campo de uma construção metodológica e didática aplicadas ao teatro, tendo como foco o trabalho de preparação de elenco e a relação com o público. Durante a tese apresenta-se o percurso dessa investigação e análise de corporalidade verbo-visual a partir de momentos de processo e montagem, bem como, a explicação de exercícios criados e utilizados com o grupo. Ademais, a presente pesquisa contribui com uma forma de fazer teatro para atores e não atores, podendo ser utilizada em espaços não teatrais, cooperando na medida em que as pessoas são estimuladas a criar a partir de elementos da memória, jogos e exercícios teatrais diversificados que provocam ressignificação de trajetórias marcadas pelo racismo e sexismo, solidariedade política, reflexão e criação respeitosa, consciente e humanizada, com foco nas noções de ancestralidade e identidade.

This dissertation, based on creative scenic experiments, studies and collective work in the city of Pindamonhangaba, São Paulo, presents a poetic, methodological path in the field of theater and education that starts from ancestral and identity elements, with black actresses and non-actresses from Vale do Paraíba in São Paulo State. The work resulted out of the need to gather and resist, realizing that even after six decades of the Teatro Experimental do Negro (TEN) The Black Experimental Theater, there are still many obstacles and retrocession in the creative field of the performing arts when it comes to art produced by black people. The lack of openness, acceptance and embracing of Afro-centric works in many theatrical circuits contributes to maintaining the invisibility of black art that has historically been produced in Brazil and around the world. This research proposes a dramaturgical and staging construction based on narratives by black women about local and personal memory, spaces, knowledge, and ways of doing things, personalities, celebrations and traditions, dialoguing with the concepts of black feminism, identity and black body/corporality, brought to the stage. The theatrical pedagogy constructed and applied throughout the process was based on the critical cultural perspective, bringing elements of Augusto Boal's method (Theatre of the Oppressed), as well as other trends and inspirations, linking to the construction of pedagogies based on feminist popular education. At the scene of this work, Pierre Bourdieu and Norbert Elias were referred to in the field of sociology, Bakhtin and the Circle in language. In education, the basis came from Henry Giroux and Paulo Freire. Stuart Hall and Frantz Fanon referenced the concepts of race and identity. In the discourse of gender, focusing on black feminism, the dialogue is with bell hooks, Patricia Hill Collins and Djamila Ribeiro among others. The contribution of this dissertation is in the field of a methodological and didactic construction applied to theater, with a focus on the work of cast preparation and the relationship with the audience. The text presents the course of this investigation and an analysis of a verbalvisual corporeality based on moments of process and performance making, as well as an explanation of originated exercises applied to the group. This research brings up an acting method for actors and non-actors that can be used in non-theatrical spaces. It contributes to the extent that people are encouraged to create from elements of memory, games and several theatrical exercises that provoke resignification of trajectories marked by racism and sexism, political solidarity, respectful, conscious and humanized reflection and creation with a focus on the conceptions of ancestry and identity.