Há o desejo por uma pedagogia da sujeira, porque a da limpeza já reinava no balé clássico. Com essa vontade em mente, o problema da pesquisa foi definido pela pergunta: o que é a limpeza no/do balé clássico? O objetivo foi dar a ver, descortinar e compreender a ideia de limpeza no/do balé clássico e, a partir disso, refletir sobre o ensino dessa dança. Em meio a textos da filosofia contemporânea e na inspiração pelas artes visuais uma forma de pensamento foi consolidada. Pesquisa de superfície, mergulhar e trazer à tona alguns temas, e deixá-los ali, num agenciamento, visando uma teia, um tecido, um emaranhado, molhado, podendo desfazer-se com o movimento da água. Esta é uma pesquisa qualitativa, apoiada na experiência com o balé, de quem a produziu. No caminho algumas estratégias foram tomadas, mas houve uma pandemia nesse caminhar. Essas estratégias foram pensadas e articuladas em meio ao caos, e isso precisa ficar registrado. Em um caderno de arteira, notas foram feitas, desenhos rabiscados, colagens e pensamentos de instantes foram gravados. Nesse caderno foi apontada a necessidade de realizar entrevistas com professoras de balé e foram feitas três. Afinal, quem melhor para tratar de uma prática educativa e me fazer refletir sobre seu ensino? As professoras. Outra vontade, alertada no caderno, foi a de realizar fotos do corpo sujo da investigadora (eu). Fiz, e quase cai numa armadilha étnico-racial. Lancei-me ao mar. Sujeira é a palavra que foi guiando o pensamento pedagógico instaurado nesta investigação, nisso a limpeza foi esquecida, mas logo evidenciada. Marianela, a musa da limpeza. Um curso em uma escola consagrada de balé clássico me permitiu abrir as cortinas pedagógicas e estéticas dessa dança. Livros, vídeos e as disciplinas cursadas na pós-graduação, também, foram as fontes de orientação desta pesquisa. Vários intercessores acionados para dar movimento, ou o impulso inicial desta investigação. No meio do caminho, me vi numa encruzilhada, pistas surgiram indicando qual o rumo desejado, obviamente, num caminho se pode encontrar ajuda, pessoas que indicam uma forma agradável de ser realizado o trajeto sem tantas surpresas indesejáveis, a gente reflete e busca seguir as orientações. Nesta encruzilhada havia o mar. Encontrei um balé racista, descobri a sujeira do balé: uma busca incansável pela técnica impecável. Encontrei a limpeza eurocentrada. O que sobra desta investigação são possíveis dobras: aprender antecede o ensinar. o que as crianças aprendem com o balé clássico? Não sei, não se sabe. As crianças precisam ser escutadas. Construir um balé sujo, mas também um balé menor.

There is a desire for a pedagogy of dirt, because cleanliness already reigned in classical ballet. With this desire in mind, the research problem was defined by the question: what is cleaning in/of classical ballet? The objective was to show, uncover and understand the idea of cleanliness in/of classical ballet and, from this, reflect on the teaching of this dance. Amid texts from contemporary philosophy and inspiration from the visual arts, a way of thinking was consolidated. Surface research, diving and bringing up some themes, and leaving them there, in an assemblage, aiming at a web, a fabric, a tangle, wet, which can be undone by the movement of the water. This is qualitative research, based on the life experience with ballet, of those who produced it. Along the way, some strategies were taken, but there was a pandemic along the way. These strategies were thought out and articulated in the midst of chaos, and this needs to be recorded. In a crafty notebook, notes were made, scribbled drawings, collages and instant thoughts were recorded. In this notebook, the need to conduct interviews with ballet teachers was highlighted and three were carried out. After all, who better to deal with an educational practice and make me reflect on its teaching? The teachers. Another desire, mentioned in the notebook, was to take photos of the investigator's (me) dirty body. I did, and almost fell into an ethnic-racial trap. I threw myself into the sea. Dirt is the word that guided the pedagogical thinking introduced in this investigation, in which cleanliness was forgotten, but soon became evident. Marianela, the muse of cleaning. A course at a renowned classical ballet school allowed me to open the pedagogical and aesthetic curtains on this dance. Books, videos and the subjects studied in postgraduate studies were also the sources of guidance for this research. Several intercessors were activated to give movement, or the initial impulse of this investigation. Halfway along the way, I found myself at a crossroads, clues appeared indicating the desired direction, obviously, along the way you can find help, people who indicate a pleasant way to travel without so many undesirable surprises, we reflect and try to follow the guidelines. At this crossroads there was the sea. I found a racist ballet, I discovered the dirt of ballet: a tireless search for impeccable technique. I found cleaning to be Eurocentric. What remains of this investigation are possible folds: learning precedes teaching. What do children learn from classical ballet? I don't know, we don't know. Children need to be listened to. Build a dirty ballet, but also a smaller ballet.