O presente trabalho tem início a partir da descrição de algumas inquietações que tive enquanto professora. A intenção da pesquisa é destacar como o ensino de filosofia é significativo na formação pessoal do aluno enquanto cidadão. Para tanto, me debrucei no tratamento dos usos dos conceitos de cidadania encontrados no Currículo de Ciências Humanas, assim como nos materiais distribuídos pelo Estado de São Paulo entre os anos 2008 a 2017, denominado São Paulo Faz Escola. A escolha de um material já datado se deu a partir do seguinte pressuposto: as atuais propostas curriculares nacionais seguem a pedagogia das competências e o Estado de São Paulo foi um dos pioneiros em sua implementação, abrindo espaço para que outros currículos e documentos norteadores, como a BNCC (2018), reiterassem esta opção pedagógica. Nossa hipótese é a de que a formação para a cidadania transcende o desenvolvimento de supostas habilidades e competências. Para discutir a hipótese recorremos ao método filosófico de Wittgenstein, denominado terapia wittgensteiniana, como também serão consideradas pesquisas já desenvolvidas por parte de membros do grupo de estudos Filosofia, Educação, Linguagem e Pragmática (FELP), tendo em vista uma crítica à pedagogia das competências proposta nos cadernos SPFE para o ensino de filosofia. Também recorremos à concepção de linguagem da segunda fase do pensamento do filósofo, marcada por sua obra Investigações Filosóficas, na qual o autor descreve a multiplicidade das formas linguísticas, resultando em uma concepção de linguagem que torna possível outros modos de se ver o conceito de cidadania no contexto das aulas de filosofia, a saber, como transmissão de valores e de formação ética.

This work begins with a description of some concerns I had as a teacher. The research intends to highlight how teaching philosophy is significant can be significant in the students personal development as a citizen. To this end, I have investigated the uses of citizenship concepts found in the Human Sciences Curriculum, as well as in the materials distributed by the State of São Paulo between the years 2008-2017, called São Paulo Faz Escola (SPFE). The choice of already-dated material was based on the following assumption: Current national curriculum proposals follow the pedagogy of competencies and the State of São Paulo was one of the pioneers in its implementation, opening space for other curricula and guiding documents, such as BNCC (2018), reiterated this pedagogical option. We hypothesize that citizenship education transcends the development of supposed skills and competencies. To discuss the hypothesis, we resort to Wittgensteins philosophical method, called Wittgensteinian therapy, as will also be considered research already developed by members of the study group Filosofia, Educação, Linguagem e Pragmática (FELP), to criticize to the pedagogy of skills proposed in the SPFE materials for teaching philosophy. We also resort to the conception of language from the second phase of the philosophers thought, marked by his work Philosophical Investigations, in which the author describes the multiplicity of linguistic forms, resulting in a conception of language that makes other ways of seeing the concept of citizenship possible in the context of philosophy classes, namely, as a transmission of values and ethical education.