Esta tese de doutorado investiga a criação em dança por crianças, juntamente à artista professora e pesquisadora, como possibilidade de ação artístico pedagógica, na Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo, EMIA, assim como o contexto singular de compartilhamento de suas criações com outras crianças, o Encontro Criança Criando Dança. Assumiu-se que as ações, acontecimentos e experiências entre múltiplas conexões contêm o fazer artístico imbricado ao pedagógico, ao considerar o modo de estar de corporalidades crianças, que transitam entre a experiência lúdica e a estética em sua existência cotidiana e extra cotidiana. Ao partir do pressuposto de que as crianças, a seu modo e em diálogo com a cultura adulta, são capazes de produzir culturas infantis e, portanto, de fazer arte, pesquisou-se o processo de um grupo específico de crianças. Problematizou-se a existência de um modo de criação em arte/dança que se faz entre artistas adultas/os e crianças em permanente diálogo, de forma interdependente e a partir da experiência, tanto em seu âmbito singular e subjetivo quanto como possibilidade de acontecimentos compartilhados. A fundamentação teórica busca um diálogo entre os Estudos Sociais da Infância, como a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia e a Pedagogia da infância, na interface com as Artes na infância, especialmente a dança, desenvolvendo as noções de corpo/corporalidade, arte/dança contemporânea e criação/iniciação a partir da experiência. A pesquisa se deu por meio da observação participante, por uma abordagem que transita entre a autoetnografia e a etnografia, com inspiração cartográfica, na medida em que amplia o escopo para um campo mais expandido que é o da EMIA, em seus diversos âmbitos. Os materiais levantados pela observação e conversas informais, registrados em caderno de campo, fotos e vídeos (mediante autorização), foram analisados de forma interpretativa, assim como também a documentação pedagógica de anos anteriores de prática da pesquisadora. Procurou-se dar visibilidade à dança que emerge da movimentação das crianças como a atualização de virtualidades, no sentido de danças que já estão ali presentes, não como potenciais, mas como realidades que podem vir a ser atualizadas em dança ou não, dependendo do desejo das próprias crianças, do contexto em que se fazem e da leitura de quem as reconhece. Buscou-se discutir a legitimação das danças das crianças como produção cultural infantil, a partir do momento em que ocupam um espaço artístico público, compartilhando seus processos e performances com outras crianças num encontro em que identidades e diferenças compõem um coletivo comum. Identificou-se uma prática de criar dança junto às crianças sempre a favor de suas investigações e brincadeiras corporais, uma dança que tem mais a ver com modos de existir do que com uma linguagem específica. Para tanto, mostrou-se ser preciso habitar as infâncias e habitar a arte e tornar a criação e o encontro uma ação política.

This doctoral thesis investigates the creation in dance by children, together with the art- teacher and researcher, as a possibility of pedagogical and artistic action, at the Municipal School of Artistic Initiation of São Paulo (Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo), EMIA, as well as the unique context of sharing their creations with other children, the Meeting Child Creating Dance (o Encontro Criança Criando Dança). We have assumed that the actions, events and experiences between multiple connections contain the artistic makeup intertwined with the pedagogical, when considering the way, the corporeality of children goes back and forth from the playful to the aesthetic experience in their daily and extra daily lives. Based on the assumption that children are capable, in their own way, of producing cultures and, therefore, making art, in dialogue with adult culture, we have researched this process with a specific group of children. We have problematized the existence of a mode of creation in art/dance that takes place between adult artists and children in permanent dialogue, interdependently and based on experience, both in its singular and subjective scope and as a possibility of shared events. This theoretical foundation seeks a dialogue between the Social Studies of Childhood, such as Philosophy, Anthropology, Sociology and Pedagogy of childhood, related to the Arts in childhood, especially dance, developing the notions of body/corporeality, contemporary art/dance and creation/initiation based on experience. The research was carried out through participant observation, through an approach that transitions between autoethnography and ethnography, with cartographic inspiration, insofar as it broadens the scope to a more expanded field than that of the EMIA, in its various scopes. We analyzed the materials collected by observation and informal conversations, recorded in field notebooks, photos and videos (with authorization) in an interpretative way, together with the pedagogical documentation collected from previous years by the researcher. An attempt was made to give visibility to the dance that emerges from the movement of children as the updating of virtualities, in the sense of dances that are already present there, not as potentials, but as realities that can be updated in dance or not, depending on the desire of the children themselves, in the context in which they are performed and the reading of those who recognize them. We sought to discuss the legitimation of children's dances as a childs cultural production, from the moment they occupy a public art space, sharing their processes and performances with other children in an encounter in which identities and differences make up a common collective. We have identified a practice of creating dance together with children which always favors their investigations and body games, a dance that has more to do with their way of existing than with a specific language. To do so, it proved necessary to inhabit childhoods and inhabit art to be able to transform creation and encounter into political action.