Este trabalho narra uma pesquisa desenvolvida para investigar a abordagem da temática de gênero na formação em psicologia a partir da visão de estudantes e recém-formadas(os) de faculdades públicas e privadas do estado de São Paulo. Além desse objetivo geral, intencionou-se especificamente levantar as concepções de gênero de estudantes e recém-formadas; identificar os espaços e processos de construção dessas concepções; e evidenciar as constatações e sugestões das participantes sobre a abordagem da temática de gênero na formação. Para alcançar os objetivos, além de levantamento bibliográfico foi conduzida uma pesquisa empírica com estudantes e recém-formadas em psicologia, composta de aplicação de questionário e realização de entrevistas. Foram realizadas vinte entrevistas, nas quais se buscou conhecer seu ponto de vista acerca da abordagem da temática de gênero ao longo da formação. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente trabalhadas por meio da análise temática de conteúdo. A análise dos dados permitiu compreender melhor as concepções de gênero que perpassam a formação de futuras psicólogas, assim como ficaram evidentes as negociações e concessões necessárias no sentido da conciliação de valores partilhados no âmbito da família, da religião e da psicologia como ciência e profissão. Apesar de o diálogo entre psicologia e gênero ser considerado incipiente no que tange à produção científica em psicologia, na esfera das relações sociais ele está em pleno andamento, pois o gênero é um elemento organizador da sociedade. A percepção de que a abordagem de gênero era escassa na formação se revelou estar mais associada à inserção intencional da temática de gênero ao currículo e não aos acontecimentos cotidianos de um curso de formação, que implicam, sim, questões de gênero. As participantes pareciam recorrer tanto a conceitos considerados corretos e partilhados pelo senso comum quanto a correntes teóricas validadas pela psicologia, além de pressupostos religiosos e políticos em alguns casos, o que denota a fluidez e multiplicidade dos sentidos de gênero, construídos cultural e historicamente, em ação e transformação contínua nas diferentes sociedades, instituições e subjetividades. Este estudo pode inspirar outras pesquisas acerca do tema que possam diversificar tanto a compreensão do gênero na psicologia quanto a compreensão da psicologia em meio às relações de gênero vigentes na sociedade.

This work narrates a research developed to investigate the approach of the gender theme in psychology training from the view of students and recent graduates from public and private colleges in the state of São Paulo. In addition to this general objective, it was specifically intended to identify the gender concepts of students and recent graduates; to know the spaces and processes of construction of these concepts; and to highlight the findings and suggestions of the participants on the approach of the gender theme in graduation. In order to achieve the objectives, in addition to a bibliographic survey, an empirical survey was conducted with students and recent graduates in psychology, comprising the application of a questionnaire and interviews. Twenty interviews were conducted, in which it was sought to know their point of view about the approach of the gender theme throughout the training. The interviews were recorded, transcribed and later worked through thematic content analysis. The analysis of the data allowed us to better understand the conceptions of gender that permeate the graduation of future psychologists, as well as the necessary negotiations and concessions in the sense of reconciling shared values within the family, religion and psychology as science and profession were evident. Although the dialogue between psychology and gender is considered incipient with regard to scientific production in psychology, in the sphere of social relations it is in full swing, as gender is an organizing element of society. The perception that the gender approach was scarce in training proved to be more associated with the intentional insertion of gender into the curriculum and not with the everyday events of a graduation course, which do imply gender issues. The participants seemed to resort both to concepts considered correct and shared by common sense and to theoretical currents validated by psychology, in addition to religious and political assumptions in some cases, which denotes the fluidity and multiplicity of gender meanings, culturally and historically constructed, in action and continuous transformation in different societies, institutions and subjectivities. This study can inspire other research on the topic that can diversify both the understanding of gender in psychology and the understanding of psychology in the midst of gender relations in force in society.