Considerando que a aprendizagem da língua escrita, para além da reflexão discursiva, depende da elaboração de aspectos notacionais, e que a interação em sala de aula afeta esse processo, esta pesquisa teve como objeto a aprendizagem da ortografia, contemplando a progressão dessa aquisição em dois eixos de abordagem: a interação da criança com o adulto e a interação entre pares de alunos. Valendo-se do referencial teórico dos estudos psicogenéticos e histórico-culturais (a concepção das crianças como sujeitos ativos e protagonistas da aprendizagem; a língua como prática social; e a aprendizagem como construção do indivíduo na relação com as experiências vividas), esta investigação assumiu o objetivo de analisar o modo como a aprendizagem da ortografia se constitui e como, em diferentes momentos, as práticas interativas podem gerar possibilidades de reflexão. Para tanto, o estudo de caso longitudinal, feito com alunos de uma escola privada em Santos/SP, contemplou cinco etapas entre o 2o e o 4o ano do Ensino Fundamental, período em que a aprendizagem da escrita convencional passa a ser um dos principais focos de reflexão dos alunos. A coleta de dados foi realizada com base na escrita de ditados de palavras e nas reescritas de textos, considerando-se tanto o processo como o produto dessas atividades. Os dados demonstraram que as crianças progridem no desempenho ortográfico conforme avançam na escolaridade, apropriando-se das regularidades diretas, regularidades contextuais e irregularidades da escrita geralmente nessa ordem. Na interação com o adulto, a análise das referências usadas para a correção da escrita revelou quatro categorias: a escrita justificada pela pauta sonora, a validação da ortografia com base em alguém mais experiente (um interlocutor autorizado), o apoio na imagem visual da palavra e a evocação da norma ortográfica. Já nas interações entre as crianças, verificaram-se diferentes graus de reflexão pautados por situações de conflitos, situações de centralização dos encaminhamentos por um aluno e situações de acordos pautados em critérios linguísticos ou em acordos sociais. A comparação entre os tipos de produção revelou que os alunos obtiveram melhores resultados ortográficos nos ditados de palavras do que nas reescritas de textos. A partir da compreensão sobre a aprendizagem da ortografia e sobre o potencial das situações interativas nesse processo, foi possível vislumbrar implicações pedagógicas que sugerem a revisão de práticas de ensino.

Considering that the learning of the written language, in addition to the discursive reflection, depends on the elaboration of notational aspects, and that the interaction in the classroom affects this process, this research aimed at learning the orthography, contemplating the progression of this acquisition in two axes of approach: the interaction of the child with the adult and the interaction between pairs of students. Using the theoretical framework of psychogenetic and historical-cultural studies (the conception of children as active subjects and protagonists of learning; language as a social practice; and learning as the construction of the individual in relation to lived experiences), this investigation assumed the objective of analyzing the way in which orthographic learning is constituted and how, at different times, interactive practices can generate possibilities for reflection. To this end, the longitudinal case study, carried out with students from a private school in Santos / SP, included five stages between the 2nd and 4th year of elementary school, a period in which the learning of conventional writing becomes one of the main focuses students' reflection. Data collection was performed based on the writing of word dictations and the rewriting of texts, considering both the process and the product of these activities. The data demonstrated that children progress in orthographic performance as they progress in schooling, appropriating direct regularities, contextual regularities and irregularities in writing - usually in that order. In the interaction with the adult, the analysis of the references used for the correction of the writing revealed four categories: the writing justified by the sound score, the validation of the orthography based on someone more experienced (an authorized interlocutor), the support in the visual image of the word and the evocation of the orthographic norm. In the interactions between the children, there were different degrees of reflection based on conflict situations, situations of centralization of referrals by a student and situations of agreements based on linguistic criteria or social agreements. The comparison between types of production revealed that students obtained better spelling results in word dictations than in text rewrites. From the understanding of the learning of spelling and the potential of interactive situations in this process, it was possible to glimpse pedagogical implications that suggest a review of teaching practices.