O presente trabalho propôs investigar e analisar a potência da linguagem poética no Ensino Médio de uma escola em Paraisópolis (SP). Nosso objetivo foi, por meio da poesia, propiciar espaços para o reposicionamento subjetivo dos alunos frente aos desafios da leitura e da escrita, de modo que os alunos não só desenvolvessem habilidades e competências relacionadas ao letramento, mas o fizessem também com vista a sua emancipação política e intelectual. Dando continuidade a hipóteses parcialmente constatadas no mestrado acerca da relação entre oralidade poética e alfabetização (Joaquim, 2016), apoiamo-nos na premissa de que o trabalho com a poesia, a partir de um entrelaçamento com a tradição oral, é capaz de potencializar subjetividades mais afeitas à aprendizagem da leitura e da escrita. Nessa direção, elaboramos uma metodologia de pesquisa e de ensino baseada na pesquisa-ação e nos conceitos de performance e corporalidade, a fim de repensar o ensino da Língua Portuguesa, retomando os valores estéticos de nossa cultura. Em 2018, acompanhamos duas turmas do Ensino Médio e, de tudo que foi proposto e produzido no curso durante esse ano, focamos nossa análise nos exercícios de leitura, interpretação, performance e produção de textos poéticos, tanto em sala de aula, quanto em outros eventos da escola como o sarau literário e a Mostra de Artes e Ciências. Ao longo da pesquisa, os alunos foram convidados a experimentar a palavra ritmada e seus recursos mnemônicos, tendo a possibilidade de dinamizar o "espaço vazio" de suas indagações sobre o mundo e, ao mesmo tempo, de lidar com diferentes modos de apreender a língua e a arte. A partir da leitura de poemas, cordéis, repentes e letras de rap e da análise de suas figuras semânticas, sintáticas e sonoras, pudemos adentrar nas questões raciais, de classe e de gênero, na realidade socioeconômica e nas histórias de vida compartilhadas pelos alunos. Com os exercícios de escrita e com a performance oral de produções poéticas autorais, exploramos a prédisposição dos alunos em se expressar artisticamente, traduzindo seu sofrimento, suas angústias e desilusões em rimas, versos, jogos de palavras e figuras de linguagem. Nesse processo de domínio e manejo da palavra poética, observamos os alunos se deslocando do lugar estigmatizado do não-saber, sentindo-se, assim, capazes de se representar discursivamente e de sustentar a visibilidade política de suas vozes na sociedade contemporânea. A partir de uma perspectiva psicanalítica da constituição do sujeito e dos dados coletados, compreendemos a importância do olhar docente para os processos complexos de alteridade e para as singularidades dos alunos. Além disso, procuramos buscar soluções para lidar com os problemas de estigmatização do processo escolar dos jovens que não se encontram mais na oralidade primária comum às crianças do Ensino Fundamental, mas são confrontados pela realidade de uma alfabetização considerada frágil. Logo, atendo-se às circunstâncias da experiência em sala de aula frente a uma determinada conjuntura sociopolítica, evidenciamos em nossa metodologia de pesquisa e de ensino, a capacidade da poesia em provocar uma dupla ação nos sujeitos que se encontram na etapa final de seu percurso escolar: a partir das dinâmicas da oralidade poética, de leituras inferenciais e do exercício de escrita criativa por meio do trabalho com a poesia, mostramos resultados do manejo da heterogeneidade das turmas que possibilitaram emergir potencialidades para a subjetivação política e para a emancipação intelectual dos alunos.

This work aims to investigate and analyze the power of the poetic language in a secondary school in Paraisópolis (SP). Our goal was, through poetry, to provide spaces for the subjective repositioning of students in the face of the challenges of reading and writing so that students would not only develop skills and competencies related to literacy but would do it in view of their political and intellectual emancipation. Continuing the hypotheses partially verified in the Master's degree about the relationship between poetic orality and literacy (Joaquim, 2016), we rely on the premise that working with poetry, starting from its intertwining with oral tradition, is capable of potentializing subjectivities into to a much more devoted process of learning how to write and to read. In this direction, we developed a research and teaching methodology based on research-action and the concepts of performance and "corporality", in order to rethink the teaching of the Portuguese language while reclaiming the aesthetic values of our culture. In 2018, we followed two high school classes and, of all that was proposed and produced in the course during that year, we focused our analysis on the exercises of reading, interpretation, performance and production of poetic texts, both in class as well as in other school events such as the literary reading and the school's Arts and Science Fair. Throughout the research, students were invited to experience the rhythmic word and its mnemonic resources, having the possibility to stimulate the "empty space" of their enquiries about the world and, at the same time, to deal with different ways of learning language and art. From the reading of poems, Cordel literature, repente and rap lyrics and the analysis of its semantic, syntactic and sound patterns, we were able to get into issues about race, class and gender and into the socioeconomic reality and oral tradition of the life stories shared by the students. From the writing exercises and oral performances of authorial poetic productions, we explored the students' pre-dispositions to express themselves artistically, translating their suffering, anguish and disillusionment into rhymes, verses, word games and figures of speech. In this process of mastery and handling of the poetic word, we observed the students moving away from the stigmatized place of not-knowing, and starting to feel, thus, able to represent themselves discursively and to sustain the political visibility of their voices in contemporary society. From a psychoanalytic perspective of the constitution of the subject and the data collected, we understood the importance of the teacher's gaze to the complex processes of otherness and to the singularities of the students. Furthermore, we sought solutions to deal with the problems of stigmatization of the school process of young people who are no longer in the primary orality common to children in primary school, but are confronted by the reality a literacy that is considered fragile. Therefore, taking into account the circumstances of classroom experience in front of a certain socio-political conjuncture, we show in our research and teaching methodology the capacity of poetry to provoke a double action in the subjects who are in the final stage of their school career: from the dynamics of poetic orality, inferential readings and the exercise of creative writing through the work with poetry, we showed the results of managing heterogeneity in the school classes, which made possible the emergence of potential for political subjectivation and intellectual emancipation of the students.