Este trabalho tem como objetivo demonstrar o papel ideológico da construção social de sucesso profissional e da figura do líder empresarial no mundo corporativo contemporâneo. Inicialmente, realizamos uma reflexão teórica assentada em bases objetivas sobre o estabelecimento de uma narrativa que busca deslocar para o indivíduo tanto a busca pelo aumento da produtividade quanto o ônus das disfunções estruturais do capital, consolidando a ideologia. Caracterizamos o conceito de ideologia como um instrumento de dominação que se estabelece por meio do ocultamento da realidade e da naturalização da desigualdade social. Para subsidiar nossa reflexão, analisamos com base na metodologia construtivo-interpretativa duas edições de uma revista especializada e representativa do universo corporativo. Identificamos que a ideologia toma forma por meio da procura pelas empresas por determinadas habilidades do trabalhador, o qual, dependendo de sua aderência ou não a estas demandas, é marcado pela sociedade e por si próprio com os rótulos das construções sociais de fracasso ou de sucesso profissional. Observamos que a exigência destas habilidades, em sua maioria socioemocionais, se dá de maneira inconstante, obrigando o indivíduo a ser flexível a ponto de fragmentar a sua integralidade como sujeito. Percebemos que o líder-herói é um ator fundamental neste processo, transmitindo, administrando e sedimentando a ideologia, edificando nos demais trabalhadores a crença de que podem alcançar as mesmas conquistas que ele, independentemente do seu contexto social. Além disso, demonstramos o modo como as empresas estabelecem um processo de compensação ideológica por meio de uma pseudo-humanização do trabalhador, implementando medidas limitadas, abstratas e paliativas que em última instância beneficiam apenas a própria organização e tangenciam o âmago do problema

This study aims at demonstrating the ideological role of the social construction of professional success and of the business leader figure in the contemporary corporate world. Initially, we theoretically reason based on objective foundations concerning the formation of a narrative which seeks to shift the search for increasing productivity and the burden of capitalisms structural dysfunctions to the individual, consolidating ideology. We conceptually characterize ideology as a tool for dominance established through the concealment of reality and the naturalization of social inequality. To substantiate our reflections, we analyze two editions of a specialized and representative magazine of the corporate world using the constructive-interpretative methodology. We observed that ideology takes shape with companies pursuit for specific skills, which depending on workers adherence or not to these demands, are labeled by society and by the workers themselves with the social constructions of failure or professional success. We also noted that the demand for these abilities, which for the most part is socioemotional, happen in an inconstant manner, forcing the individual to be flexible to the point of fragmenting his integrity as a human being. We perceived that the hero-leader is a fundamental actor in this process, transmitting, administrating and sedimentating ideology; engraining into the workers the belief that they can reach the same achievements, regardless of their social context. In addition, we demonstrate the way companies establish a process of ideological compensation through the pseudo-humanization of the workers, implementing limited, abstract and palliative measures which ultimately benefit only the organization itself and do not confront the source of the problem