A presente dissertação de mestrado busca articular uma relação entre a história do Hospital Colônia de Barbacena, os conceitos de unheimlich, em Freud (2021), e a necropolítica, em Mbembe (2018a). Este trabalho, ao pensar as possibilidades de relacionar conceitos de bases epistemológicas diferentes, frente a um fato histórico, toma a Psicanálise como método em seu sentido extramuro, ou seja, possibilita-nos uma compreensão do sujeito em relação aos fenômenos sociais e políticos, sem, todavia, nos desvencilharmos da ética psicanalítica. Sabe-se que, neste hospital psiquiátrico, pessoas internadas compulsoriamente foram oprimidas, violentadas e deixadas em vias de morte com a conivência da sociedade e do Estado, uma dinâmica de internação, tratamento e exclusão pautada nos preceitos de projetos de higienização social da época. A partir disso, apreende-se o conceito mbembiano para darmos conta de compreender a prática de uma necrogestão como a que se demonstrou presente na realidade do Hospital Colônia. Neste encontro da sociedade com um corpo lido como hostil, realiza-se a hipótese de que é produzida uma experiência unheimlich, um deparar-se com o que há de mais incômodo e, ao mesmo tempo, familiar a si mesmo. Com isso, compreende-se que o reconhecimento na diferença que há no outro neste contexto cria um escape pela via da eliminação, faz-se desse corpo o inimigo e, assim, cria-se o respaldo para tirá-lo de cena. Dessa forma, entende-se, a partir da possibilidade de intersecção entre a necropolítica e o unheimlich freudiano, que há na história do Hospital Colônia de Barbacena uma gestão necropolítica a partir da irrupção do estrangeiro, na qual os sujeitos não inseridos no discurso hegemônico de um Estado higienista são deixados à margem, postos em situações em que a vida é alinhada à morte.

This master's thesis seeks to articulate a relationship between the history of Hospital Colônia de Barbacena, the concepts of unheimlich, in Freud (2021), and necropolitics, in Mbembe (2018a). This work, when thinking about the possibilities of relating concepts of different epistemological bases, in the face of a historical fact, takes Psychoanalysis as a method in its extramural sense, that is, it enables us to understand the subject in relation to social and political phenomena, without, however, disentangling ourselves from psychoanalytic ethics. It is known that in this psychiatric hospital, compulsorily hospitalized people were oppressed, violated and left on the verge of death with the connivance of society and the State, a dynamic of hospitalization, treatment and exclusion based on the precepts of social hygiene projects at the time. From this, the Mbembian concept is apprehended in order to be able to understand the practice of necromanagement such as the one that proved to be present in the reality of Hospital Colônia. In this encounter between society and a body that is seen as hostile, the hypothesis is realized that an unheimlich experience is produced, an encounter with what is most uncomfortable, and at the same time, familiar to itself. With this, it is understood that the recognition of the difference that exists in the other in this context creates an escape through elimination, this body is made the enemy and, thus, the support is created to remove it from the scene. In this way, it is understood, based on the possibility of intersection between necropolitics and the Freudian unheimlich, that there is in the history of Hospital Colônia de Barbacena a necropolitical management from the irruption of the foreigner, in which the subjects not inserted in the hegemonic discourse of a hygienist State, are left on the sidelines, placed in situations where life is aligned with death.