Apesar da diversidade étnica e da presença de comunidades indígenas por todo o território brasileiro, os povos indígenas sofrem um longo processo de invisibilidade e de estereotipia. Junto a comunidades Mbya-Guarani, a Rede de Atenção à Pessoa Indígena, serviço acadêmico do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, desenvolveu o projeto de extensão Encontros Interétnicos para Brincar, no qual crianças indígenas e não indígenas passavam uma tarde juntas compartilhando brincadeiras livres. Estas intervenções tiveram como objetivo favorecer o protagonismo das comunidades e pessoas indígenas no ensino da sua história e cultura para não-indígenas. Nesse sentido, a presente tese se caracteriza como um trabalho de pesquisa-ação. Atuamos junto a educadores Mbya-Guarani na construção do projeto, e a partir destas vivências construímos questões de pesquisa acerca do êxito destes Encontros em promover interações lúdicas entre as crianças, e o seu potencial de aplicabilidade como intervenção educativa para diferentes grupos de crianças. Para tanto, desenvolvemos dois estudos. A primeira investigação teve como hipótese que a brincadeira livre estimularia coesão grupal, mitigando a evitação entre grupos étnicos durante a brincadeiras. 21 crianças MbyaGuarani e 61 crianças não-indígenas participaram de dois Encontros para Brincar. Videogravamos as interações sociais das crianças na brincadeira livre, selecionamos os primeiros e últimos 10 minutos de cada Encontro, e realizamos varreduras a cada 30 segundos registrando proximidade espacial (crianças que estavam até 1m de distância uma da outra) e brincadeira. Depois, aplicamos a Análise de Redes Sociais (ARS) para explorar os padrões de associação das crianças no começo e no fim do tempo de brincadeira em cada Encontro. O segundo estudo teve como hipótese que a brincadeira livre estimularia a construção de ações coordenadas cooperativas interétnicas entre crianças. Utilizamos as mesmas videogravações para ambas as investigações, e a partir dos conglomerados de brincadeira interétnicos identificados pela ARS, realizamos transcrições focais contínuas de cada criança presente nestes conglomerados utilizando um etograma de comportamento não verbal considerando a direção do olhar e o contato físico com objetos e parceiros. Nossos resultados demostraram que atividades de brincadeira livre foram efetivas em estimular a coesão grupal, e em promover ações coordenadas cooperativas entre crianças de até oito anos de idade, em conglomerados de idade mista. Nós concluímos que os Encontros têm potencial de aplicabilidade como intervenção educativa com capacidade de mitigar evitação de grupos étnicos em crianças, porém novos contextos interativos precisam ser desenvolvidos para melhor abranger crianças mais velhas e adolescentes

Despite the ethnic diversity and presence of Amerindian communities in all Brazilian states, the indigenous population suffers from a long process of invisibility and stereotyping. Together with Mbya-Guarani communities the Indigenous Support Network, an academic service from the Institute of Psychology - University of São Paulo, developed the Interethnic Encounters for Play interventions in which indigenous and non-indigenous children spent an afternoon together and shared free playtime. These interventions aimed to increase the participation of indigenous people and their communities on educational practices regarding their history and culture to non-indigenous. Therefore, this thesis is characterized as an action-research project. We worked together with Mbya-Guarani educators and used the Encounter experiences to conceive research questions about the interventions success in promoting play between children, and its potential applicability as an educational practice. Therefore, two studies were caried out. In the first study our hypotheses were that free play would stimulate group cohesiveness, mitigating ethnic group avoidance in childrens play group. 21 Mbya-Guarani and 61 non-indigenous children participated in two Encounters for play. We videorecorded childrens social interactions during free play activities and selected the first and last 10 minutes of each Encounter. Then, we performed scans at each 30 seconds for spatial proximity (children up to 1 m) and play. Subsequently, we used Social Network Analysis (SNA) to explore childrens association patterns at the beginning and end of each Encounter. In the second study our hypotheses were that free play activities would stimulate interethnic cooperative coordinated actions between children. Therefore, we used the same videorecords from the first study. We selected the interethnic play clusters identified by the SNA and performed a focal continuous transcription of each child present in each cluster using an ethogram of nonverbal behavioral considering gaze direction and physical contact with objects and partners. Our results show that free play activities were effective in stimulating group cohesiveness and cooperative coordinated actions in children up to eight years old in mixed age clusters. We conclude that the Encounters to play have applicable potential as an educational intervention, displaying capacity to mitigate ethnic group avoidance in children. However, new social interactions settings need to be developed to better approach older children and teenagers