Esta pesquisa toma por objeto de estudo os Ritos de Iniciação e a escolarização. Tem por objetivo investigar a relação entre práticas tradicionais de Moçambique, em especial os Ritos de Iniciação, e a educação escolar da mulher nos grupos étnico-linguísticos Macua e Yao, situados ao Norte de Moçambique. Buscou-se, assim, identificar as contradições entre a educação da mulher em seu âmbito formal, ou seja, na instituição escolar, e informal, especificamente nos ritos, de modo a refletir como o papel da cultura na formação das mulheres Macua e Yao interfere no processo de escolarização, fortemente marcado pela exclusão escolar. Para a materialização da pesquisa, realizou-se o trabalho de campo nas províncias de Nampula e Niassa, ambas localizadas no Norte de Moçambique. Foram efetuadas cinco entrevistas: com as Madrinhas, mulheres responsáveis pelos ritos, dos grupos Macua e Yao; com representantes da Organização das Mulheres Moçambicanas (OMM); e com as representantes de entidades governamentais da Direção Provincial da Educação e de Desenvolvimento Humano (DPEDH), da Direção Provincial de Saúde (DPS) e da Direção Provincial da Mulher, Criança e Ação Social (DPMCAS). Além disso, foi realizado um encontro com mulheres universitárias moçambicanas que passaram pelos Ritos de Iniciação, por meio da técnica de grupo focal, que responderam um questionário ao final das reuniões com o grupo. Organizamos, ainda, uma Mesa Redonda na Universidade para discussão do tema. Os Ritos de Iniciação das mulheres dos grupos étnico-liguístico Macua e Yao são marcados pela menarca, que se configura como um ritual de passagem para o universo adulto. Esse processo é acompanhado pelo processo de inserção das mulheres Macuas e Yaos na sociedade. Por um período mínimo de um mês, elas participam dos rituais, em que uma série de aprendizados são transmitidos pelas mulheres mais velhas. Esse ritual é definido por uma marcante diferença cultural de gênero, sendo um traço dessa formação a submissão das mulheres ao gênero masculino. Os dados foram analisados à luz das teorias feministas e da Psicologia HistóricoCultural, entre outras escolhas teóricas, com o intuito de entender as atuais tensões dessa prática e trazer sugestões de ressignificação dos ritos nessas culturas, propondo uma prática coletiva, junto a essas mulheres, para a criação de possibilidades de emancipação diante do manejo do saber tradicional e do saber escolarizado

This research takes as the object of study the Rites of Initiation and the schooling process . The purpose of this research is to investigate the relation between traditional Mozambican practices, especially the Initiation Rites, and the school education of women from the Makua and Yao ethnolinguistic groups, which are located in the North region of Mozambique. I sought to identify the contradictions between the formal education of women, that is, in a school institute, and the informal education, specifically in the rites. That allows us to reflect about the role of culture in the instruction of Makua and Yao women, and how it interferes in the schooling process, usually marked by exclusion from school. For the materialization of the research, I conducted a fieldwork in Mozambique in the provinces of Nampula and Niassa, both located in the North of Mozambique. The four following publics were interviewed: Godmothers who are responsible for the rites, one from the Makua and one from the Yao group; representatives of the Organization of Mozambican Women (OMM); universitary women who went through the initiation rites and organized a focus group; and government entities, such as The Provincial Directorate of Education and Human Development (DPEDH), The Provincial Directorate of Health (DPS), and The Provincial Directorate for Women, Children and Social Affairs (DPMCAS) and organized a Round Table at the University for discussing the issue. The initiation rites of women in the ethnolinguistic groups Makua and Yao are marked by menarche, characterized as a ritual of passage to the adult universe. That process is followed by the insertion of Makua and Yao women in society. For a period of at least a month, they join the initiation rites, in which older women share a series of lessons with the young ones. The ritual is defined by an outstanding cultural difference of gender, being the submission of women to the masculine gender a characteristic of their upbringing. Among other theoretical choices, I analyzed the data collected in field through feminist theories and the Vygotskiana culturalhistorical psychology. The purpose was to understand the current tensions of that practice and to bring suggestions to resignify the rites in those cultures, proposing a collective practice in collaboration with those women to create new possibilities of emancipation regarding the handling of traditional and school knowledge