A pandemia da covid-19 exacerbou a precariedade da vida de pessoas idosas no corrente cenário brasileiro de crise sanitária, econômica, social, política e institucional. Inscrever as experiências das velhices nos registros de um tempo histórico de pandemia conjuga-se ao compromisso ético-político de reverberar as vozes, as memórias e as lutas de sujeitos históricos silenciados pelos documentos oficiais. Esta pesquisa buscou lançar luz sobre o exercício de narração e as condições de elaboração e transmissão da experiência de pessoas idosas e profissionais de saúde, no contexto das determinações pandêmicas nos serviços públicos da Atenção Básica em Saúde do município de São Paulo. A perspectiva teórico-metodológica da investigação se inspira na proposta de reflexão digressiva e anticartesiana de Walter Benjamin, tomando as velhices como objetos de contemplação de modo a iluminá-las em seus diversos estratos de significação. O corpus documental da pesquisa foi composto por depoimentos orais colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas através da plataforma Google Meet de três profissionais Técnicas em Serviço de Saúde e de uma pessoa idosa usuária do Sistema Único de Saúde (SUS). Também foram utilizados os dados provenientes de um questionário respondido por 54 profissionais de saúde (técnicos em enfermagem, em farmácia e em vigilância em saúde), participantes da unidade Atenção Psicossocial à Pessoa Idosa do curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Saúde Mental do Projeto Rede Sampa Saúde Mental Paulistana, ofertado pela Escola Municipal de Saúde no ano de 2020. Os dados qualitativos foram tratados à luz da análise de conteúdo e discutidos a partir de autores da Escola de Frankfurt, incluindo outros autores contemporâneos. Como ferramenta de apoio para a análise dos questionários, foi utilizado o software NVivo (versão 1.6.1). A análise suscitou reflexões sobre os tensionamentos da assistência prestada pelos agentes implementadores das políticas públicas voltadas às velhices durante a pandemia da covid-19, em especial no que tange à formação e atuação de profissionais de saúde. Dentre os resultados das análises que compõem um mosaico de sentidos, coletivos e individuais, para as experiências das velhices no esgarçado tecido social pandêmico, destaca-se o etarismo naturalizado nas práticas assistenciais em saúde, relacionado ao empobrecimento da experiência, à precarização e superexploração do trabalho de profissionais de saúde frente à emergência da covid-19, preterindo-se o cuidado de pessoas idosas com comorbidades e em situação de vulnerabilidade social. Destaca-se, também, a importância da realização de um curso de educação permanente de profissionais do SUS durante a pandemia, tendo a experiência do longeviver como centro do processo de educação emancipatória, que contribuiu para a organização de atendimentos voltados às necessidades sociais e de saúde da população idosa, sendo promotor da resistência às situações de opressão, à hipermedicalização da vida, ao etarismo e à heteronomia nos equipamentos de saúde. Recomenda-se a priorização de espaços coletivos de reflexão sobre as experiências de pessoas idosas e profissionais da saúde para fortalecer o processo de humanização da atenção à saúde e o próprio SUS

The covid-19 pandemic exacerbated the precariousness of older people lives in the current Brazilian scenario of health, economic, social, political and institutional crisis. Inscribing the experiences of old age in the records of a historic time of pandemic is conjugated with the ethical-political commitment to reverberate the voices, memories and struggles of historical subjects silenced by official documents. This research sought to shed light on the exercise of narration and the conditions of elaboration and transmission of the experience of older people and health professionals, in the context of pandemic determinations in public services of Primary Health Care in the city of São Paulo. The theoretical-methodological perspective of the investigation is inspired by Walter Benjamin's proposal of digressive and anti-cartesian reflection, taking old age as object of contemplation in order to illuminate it in its different strata of meaning. The documentary corpus of the research was composed of oral testimonies - collected through semi-structured interviews through the Google Meet platform - from three Technical professionals in Health Service and an elderly person using the Unified Health System (SUS). Data from a questionnaire answered by 54 health professionals (technicians in nursing, pharmacy and health surveillance) were also used. These professionals participated in the unit Psychosocial Care for the Elderly of the course Medium Level Technical Specialization in Mental Health, from the Projeto Rede Sampa Saúde Mental Paulistana, offered by the Escola Municipal de Saúde in 2020. Qualitative data were treated in the light of content analysis and discussed based on the authors of the Frankfurt School, including other contemporary authors. As a support tool for the analysis of the questionnaires, the NVivo software (version 1.6.1) was used. The analysis raised reflections on the tensions in the assistance provided by the agents implementing public policies aimed at old age during the covid-19 pandemic, especially with regard to the training and performance of health professionals. Among the results of the analyzes that make up a mosaic of collective and individual meanings for the experiences of old age in the frayed social fabric of the pandemic, the naturalized ageism in health care practices stands out, related to the impoverishment of the experience, the precariousness and overexploitation of the work of health professionals in the face of the covid-19 emergency, neglecting the care of older people with comorbidities and in situations of social vulnerability. The importance of carrying out a course of continuing education for SUS professionals during the pandemic is also highlighted, with the experience of longevity as the center of the emancipatory education process, which contributed to the organization of care aimed at social needs and older people social needs, promoting resistance to situations of oppression, the hypermedicalization of life, ageism and heteronomy in health facilities. Prioritization of collective spaces for reflection on the experiences of older people and health professionals is recommended to strengthen the process of humanization of health care and the SUS itself